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FINANCEIRO

Gestão de Riscos Financeiros nas Empresas

Mauro Stopatto, Me Adm. de Emp. FECAP
Consultor Associado Sênior da Brasiliano Interisk,
Divisão de Riscos Financeiros | mstopatto@brasiliano.com.br

29/10/2021

Os Riscos Financeiros podem se manifestar de diversas formas, consequentemente podemos monitorar, mitigar e antecipar seus efeitos. Os riscos financeiros de maior relevância são: Risco de Caixa, Risco de Crédito, Risco de Dívida, Risco de Mercado, Risco do Ponto de Equilíbrio. Todos os riscos mencionados provocam consequências no caixa das empresas. Consequências essas que geram todo tipo de efeito adverso. Esses efeitos são sentidos pelos desequilíbrios que provocam na saúde financeira da empresa, como desequilíbrio da estrutura de financiamento, desequilíbrio entre os prazos de entrada e saída de recursos, concessões inadequadas de crédito, dentre outros. O impacto da má gestão financeira gera desde pequenas dificuldades até a insolvência completa da empresa. Gerir os riscos financeiros proporciona uma forma eficiente de evitar que esses riscos ocorram, evitando todas as desastrosas consequências relacionadas. Implantando a Gestão de Riscos Financeiros ocorre o monitoramento da real situação financeira, econômica e patrimonial. Com a dinâmica desse processo, torna-se mais eficiente a gestão financeira.

A Gestão de riscos financeiros teve sua origem no mercado de capitais. Expoentes como Markowitz e Sharp avaliaram a diversificação nos investimentos e a sua relação de risco-retorno. Esse trabalho culminou com a criação de um modelo de precificação de ativos ganhador do prêmio Nobel de economia de 1990, prêmio que reconheceu a importância do trabalho desenvolvido muitas décadas antes, nos anos 50 e 60 do século passado. Eles mediram a contribuição das ações para o risco de suas carteiras de investimentos, propuserem e criaram um modelo.

 

No início dos anos 90 do século passado o Banco J. P. Morgan desenvolveu o modelo Riskmetrics para medir o Value at risk, VaR, Valor do Risco. Sua aplicação também ocorre no mercado de capitais.  Procuram prever preços de ações.  Medem com essa técnica o valor do risco dado um intervalo de confiança. Essa metodologia evoluiu para o Cash Flow at Risk, CFaR, que é o Fluxo de Caixa em Risco. Essa ferramenta de controle de risco de mercado simula o valor em risco do fluxo de caixa futuro dado um intervalo de confiança. Realiza, portanto, previsões e medidas de risco.

Risco de Caixa

Em relação ao VaR, existem no mercado algumas metodologias preditivas ou modelos de previsão. Os mais conhecidos são os paramétricos, baseados na estatística e na aderência à curva normal, e os modelos não paramétricos, tendo como base as séries históricas e simulações. São utilizados também os modelos preditivos de cenários. Esse último modelo é o adotado na Brasiliano. Ao traçarmos as hipóteses de cenários, podemos construir a hipótese de um cenário mais provável e cenários menos prováveis, otimista e pessimista. Qualquer que seja o cenário, devemos evitar uma diminuição da geração de caixa. Todos os fatores que geram impacto no caixa, na gestão de risco financeiro, devem ser monitorados. Ao tratarmos de risco de caixa, diversos fatores contribuem para o aumento ou diminuição do risco. Podemos citar alguns, como: prazo de pagamento, prazo de recebimento, volume de vendas, número de clientes, volume de despesas, volume de dívidas, dentre outros. O objetivo, portanto, é manter um saudável e positivo fluxo de caixa.

Risco de Dívida

Inserido no contexto do risco financeiro, o risco de dívida é monitorado através da análise da situação financeira, econômica e patrimonial da empresa. Através do monitoramento de índices de liquidez como Liquidez global real e Liquidez corrente, conseguimos medir os recursos em relação às obrigações. Com o uso de indicadores, índices, avaliamos a estrutura patrimonial através do monitoramento da composição do passivo exigível. Dessa forma sabemos a proporção de recursos próprios em relação a recursos de terceiros. Outro índice utilizado na avaliação da estrutura patrimonial é conhecido por índice de garantia, ou de dependência financeira, e mede o grau de participação do capital de terceiros nos investimentos do ativo da empresa. Outro indicador que utilizamos na avaliação da estrutura patrimonial é o giro do imobilizável. Nele monitoramos a relação existente entre o valor das vendas e o valor investido no ativo imobilizado. Conseguimos medir a conversão em vendas dos recursos imobilizados na empresa. Fechando o risco de dívida no contexto do risco financeiro, temos a análise da situação econômica, na qual mensuramos, avaliamos e interpretamos os lucros ou prejuízos gerados. Para esse aspecto monitoramos o retorno sobre o investimento total ROI, ou seja, qual a capacidade que os ativos da empresa têm para gerar lucros. Ou seja, o retorno obtido pelo total de investimento. Para cada $ real aplicado quanto se obtêm de lucro líquido. O objetivo, portanto, é obter uma radiografia da estrutura econômica, patrimonial e financeira através de índices.

Risco de Crédito

No contexto do risco financeiro, o risco de crédito nos apresenta uma gama de fatores a monitorar, pois esse risco está associado à possibilidade de não receber pelas vendas efetuadas. É o risco de vender e não receber, de conceder crédito e ser malsucedido. Nesse sentido há que se monitorar o nível de renda ou faturamento do cliente, o score de crédito, a margem consignável ou o percentual da renda já comprometida com descontos ou o percentual não comprometido, referências comerciais, referências bancárias, referências pessoais, dentre outros. Devemos observar as consequências para as vendas e os recebimentos do aumento no rigor na concessão de crédito, bem como observar as consequências para as vendas e recebimentos da diminuição no rigor da concessão de crédito. Dessa forma mediremos o nível de impacto causado pelo custo de negar crédito ou pelo custo de conceder crédito ou ainda pelo custo de oportunidade na concessão e o custo das perdas geradas com os créditos inadimplentes. O objetivo, portanto, é manter uma equilibrada política de crédito.

Risco de Ponto de Equilíbrio

O risco do ponto de equilíbrio está relacionado ao aspecto do risco financeiro dentro do universo de custos, despesas, preços de comercialização e margem de venda. Todo empreendimento precisa ter a medida de seu ponto de equilíbrio. Precisa saber qual é o volume de vendas mínimo necessário para que consiga cobrir todos os custos fixos e variáveis. Dessa forma saberá que abaixo desse volume de vendas terá prejuízo e acima terá um lucro proporcional ao ganho da margem de contribuição unitária acima do volume do ponto de equilíbrio. Com esse conhecimento é possível monitorar as informações sobre faturamento para saber previamente se terá ou não os recursos necessários para cumprir suas obrigações. A empresa, assim, pode planejar com antecedência aplicações dos recursos de sobra de caixa.  Consegue antever momentos de falta de recursos em função do volume de vendas. Pode também envidar esforços no sentido de aumentar as vendas e consequentemente obter aumento de receitas. Monitorando os fatores desse risco, é possível identificar o tamanho do custo e das despesas fixas total, dos custos e despesas variáveis. Medindo todas essas variáveis que comprometem o ponto de equilíbrio. Quanto maior o custo fixo maior o volume de vendas necessário para manter essa estrutura. O preço e a margem praticada também estão relacionados diretamente ao ponto de equilíbrio, sendo também necessário o monitoramento desses fatores de impacto. O objetivo, portanto, é identificar o ponto de equilíbrio, mantendo uma estrutura equilibrada de custos fixos e variáveis, uma política equilibrada de preços e de margem.

Risco de Mercado

Até o momento o artigo abordou os riscos sob o aspecto de riscos internos à organização, dentro do risco financeiro. Agora chegou o momento de abordarmos o risco de mercado, que tem a ver com aspectos macroeconômicos incontroláveis do ponto de vista empresarial. Incontroláveis pois a empresa não tem gestão sobres eles, mas sofre as consequências desses fatores. Podendo se beneficiar ou ser atingida por esse risco e dessa forma precisa estar preparada para reagir ou agir de antecipadamente, em virtude dos possíveis cenários relacionados, aos aspectos macroeconômicos, que influenciam ou podem influenciar as operações de sua empresa. Fatores que podem causar impacto significativo como o crescimento, maior ou menor do Produto Interno Bruto (PIB). Fatores como a taxa de câmbio, mais especificamente a cotação do dólar. A empresa precisa também monitorar, em relação ao fator de risco de mercado, a taxa de juros da economia, pois essa terá influência no estímulo ao consumo e está também relacionada à inflação e aos endividamentos das empresas e famílias. Outro fator de impacto a ser monitorado com atenção, e que influencia a operação das empresas é a inflação. Essa relaciona-se com o nível de consumo, estando vinculada ao poder de compra das empresas e famílias. Quanto maior a inflação, mais instável a economia e maiores as perspectivas de elevação das taxas de juros, levando a uma diminuição da atividade econômica. O objetivo, portanto, é acompanhar os fatores de risco de mercado e dessa maneira estar preparado para os cenários possíveis relacionados.

Conclusão

O Risco Financeiro monitorado através de suas diversas manifestações, seja o risco de caixa, o risco de mercado, o risco de crédito, o risco de dívida e o risco do ponto de equilíbrio, precisam, para uma gestão eficiente do risco financeiro, ter acompanhados os seus fatores de impactos. O monitoramento dos fatores de riscos financeiros leva à mitigação de riscos, à identificação de processos, à identificação de pontos de melhorias, à identificação de falhas e de aspectos da operação que estão sendo trabalhados de maneira correta, mas que também podem ser aperfeiçoados. Com esses aspectos medidos e avaliados, é possível estabelecer planos e linhas de ação para os diversos cenários que podem se apresentar em virtude de aspectos negativos e positivos do risco, sendo que os positivos se traduzem como oportunidades e os negativos como ameaças. Quanto melhor a empresa estiver estruturada para a gestão de riscos financeiros, melhor agirá, de forma antecipada, para fazer face às questões que se apresentam ou que podem vir a ser apresentadas. Assim a empresa pode mitigar consequências indesejadas como toda sorte de dificuldades financeiras operacionais do cotidiano: como honrar compromissos financeiros com fornecedores, funcionários etc. Manter a saúde financeira da empresa é essencial e estratégico, sendo a gestão de risco financeiro, monitorado pelos diversos aspectos aqui apresentados, fundamental para esse sucesso.

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