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Âncora 1

PONTO DE VISTA

Executivo Federal continua na negação: Brasil fracassa no controle da Pandemia de COVID-19 e nossa imagem é massacrada no exterior

Dia 10 de junho o Brasil possuía uma taxa de letalidade de 5,14% e no dia 31 de maio esta taxa era de 5,64%. Os óbitos no Brasil em números absolutos cresceram 35,36%. Os infectados cresceram 50,02%.

Figura 1: Fica claro no gráfico ao lado, a estabilidade da curva nos índices entre 6 e 7, no período de 24 de abril à 28 de maio de 2020. A partir daí rompemos a taxa 6 e só estamos em queda.
Fonte: Brasiliano INTERISK, junho de 2020. Para fazer download do Boletim completo, clique aqui!

Fizemos um estudo comparativo entre os 14 Estados mais críticos dos 27 existentes no Brasil. Focamos os Estados que estavam nos quadrantes Vermelho, Rosa e Laranja da Matriz de Riscos. Estados com Criticidade de alto risco ao extremo. São eles: PE, RR, RJ, ES, PA, AM, RN, MA, CE, SP, AP, SE, PB, AL. 

Nestes Estados, com exceção do PE, RN e CE, que a taxa de letalidade cresceu: PE - foi de 8,14% para 8,42%; RN - de 3,78% para 4,40% e CE - de 6,20% para 6,27%, todos os outros 11 Estados tiveram também sua taxa de letalidade caindo ao longo do tempo estudado. Que já era uma tendência, pois a referida taxa já tinha estabilizado entre os índices 6-7 há mais de 40 dias. São Paulo saiu de 6,94% e foi para 6,3%, com um aumento de óbito de 29,50%. O segundo Estado com menor aumento de óbito. O primeiro é o Amazonas com 15,15%.

Figura 2:  Matriz de Risco dos Estados do Brasil, onde podemos ver a criticidade alta do Brasil. O único estado em posição confortável é Mato Grosso do Sul; Paraná com número baixo de infectados, mas percentual de leitos de UTI com índice relativo alto de ocupação. Fonte: Brasiliano INTERISK, junho de 2020. Para fazer download do Boletim completo, clique aqui!

O Poder Executivo Federal não está sabendo gerir a crise da Pandemia do COVID-19, o que, na visão de inúmeros especialistas, pode causar uma crise institucional. Não há uma coordenação unificada e integrada do combate a pandemia. Há entre grande maioria dos governadores dos estados da federação brasileira e o Presidente Bolsonaro, uma mão invertida no que concerne a estratégia de lidar com o COVID-19. 

O óbito tem uma ligação direta com gravidade que o COVID-19 infectou a pessoa e a estrutura do Estado em termos de Saúde, leitos de UTI e capacitação dos seus Recursos Humanos. Olhando a Matriz de Riscos, vamos notar que o Estado de São Paulo baixou sua criticidade, pois seus leitos de UTI estão ocupados em 64%, por esta razão São Paulo saiu do quadrante rosa e foi para o laranja. O Estado de RR que possui uma taxa de letalidade baixa, de 3,33% para 2,86%; mas teve um crescimento de infectados na ordem de 82,7% e de óbitos de 56,9%. 

Como sua estrutura de saúde é deficitária, colapsou, e se encontra no quadrante vermelho. Apesar da taxa baixa, pois o número absoluto de infectados é pequeno, 6.347; o número de mortos passa a ser grande em função do pouco número de leitos de UTI. Pernambuco mesmo caminho, com uma diferença cruel, sua taxa de letalidade é de 8,42%; sendo sua estrutura de saúde também deficitária para o atendimento do COVID-19. E o Rio de Janeiro com uma taxa de letalidade mais alta entre os 14 Estados, 9,59%. Crescimento de óbitos de 33,57% e de infectados 38,5%.

O que podemos concluir ou interpretar: na nossa visão tendo uma taxa de letalidade baixando e a de infectados subindo, podemos concluir que a curva de aprendizado nos Estados que possuem infraestrutura de saúde, para as equipes intensivistas, melhorou o tratamento. Desta forma a letalidade passa a ser gerenciável.

É uma situação confortável? Não é! Porque a pandemia COVID-19 ainda está circulando de forma descontrolada, pois a curva de infectados cresce todo dia, e, nos Estados sem infraestrutura haverá maior número de óbitos. 

O Brasil por ser uma país continental, diferente de países europeus, possui vários estágios pandêmicos. Por esta razão é que o Pecado Capital do Governo Federal foi não ter Gerenciado a Crise, através de um Comitê Central, com os Governadores dos Estados e seus Ministros Chaves, com o objetivo de elaborarem uma estratégia única, o Brasil ir para uma única direção, com objetivos e ações claras.

 

Todos os membros deste Comitê Central deveriam enxergar a floresta e não a árvore. Ou seja, não adianta enxergar parte, preciso enxergar o todo para poder realizar o xadrez dos recursos humanos, financeiros e infraestrutura. Se no Norte e Nordeste do Brasil não possuímos estrutura e pode morrer mais brasileiros, quais ações mitigatórias podemos fazer? 

Este tipo de discussão deveria ter sido feito antes e durante a Pandemia. Não colocar uma venda nos olhos e achar que o Brasil é Brasília. Pior, o Brasil pecou perante o mundo, e estamos hoje com uma imagem extremamente desgastada. Estamos classificados como um país sem nível, inteligência, sensibilidade e liderança. Sem condições de agir para conter a COVID-19. O dito amigo Trump levanta a hipótese de proibir brasileiros de desembarcar em terras americanas, pois na visão do “gringo” nós vamos levar mais vírus para o povo americano.

Então fecha a fronteira.

Na Europa hoje, quem quiser viajar com passaporte verde amarelo, nem embarca, melhor nem comprar a passagem. A falta de uma política clara de controle do COVID-19 no Brasil, junto com nosso crescimento constante de infectados e a aceleração dos contágios, nossa média é de 1,9; faz com que brasileiros acabem sendo barrados em países europeus nas viagens internacionais.

Um dos principais critérios adotados pela União Europeia nas orientações divulgadas em 13 de maio de 2020 para a reabertura de fronteiras internas é que sejam recebidos moradores de Estados com “uma situação epidemiológica em evolução positiva e semelhante” em relação à COVID-19, com a consolidação de “uma taxa de transmissão suficientemente baixa”.

Indicador monitorado na maioria dos países europeus, a taxa de contágio (Rt) indica para quantas pessoas, na média, cada infectado transmite o coronavírus. Quando ela está acima de 1, a doença está fora de controle e a infecção está se acelerando. É nosso caso infelizmente. O problema para nós brasileiros é a taxa de contágio, a nossa é quase o dobro do considerado minimamente aceitável. O Brasil com um Rt de 1,92, arredondando para 2, temos que cada brasileiro infectado transmite o coronavírus para outras duas pessoas, que por sua vez transmitem para mais duas, provocando um crescimento exponencial do número de casos. Nosso problema é este hoje em dia, pois faz com que o número de infectados cresça de forma constante e consequentemente o número de óbitos não pare. pode até diminuir em termos relativos, mas está crescendo dia a dia em números absolutos. 

Agora o pior disto tudo, muito pior, é o governo federal ainda negar, a negação é tão grande que o Presidente Jair Bolsonaro foi criticado por entidades de saúde e governadores do Norte e Nordeste por incentivar a população a entrar em hospitais e filmar os leitos de UTI. Como se as informações fossem totalmente falsas. Eu não entendo, não compreendo, sou profissional de gestão de riscos, doutorado em inteligência estratégica operacionalizo em empresas e instituições privadas e públicas, mas nada tão grosseiro. Além disso, como ex-oficial do exército brasileiro, formado pela AMAN, não entendo a falta de estratégia e processo de inteligência para investigação. Se o governo tem desconfiança de fraudes ou possui informes, precisa antes de tudo confirmar, portanto necessita coletar dados, analisar informações, interpretá-las e depois, se for o caso, aí sim, divulgar em alto estilo,  “arregaçar”, mas de modo estruturado, não de maneira truculenta e ignorante, que não leva a nada. Só desgasta a imagem, e levanta qualquer tipo de polêmica. Por esta razão a imagem do Brasil nas principais mídias internacionais está manchada. Uma grande chance perdida! Uma pena!

Perdemos a janela de oportunidade, lá trás de tomarmos medidas preventivas, ações mais radicais, aplicação de testes em massa, que ainda hoje somos muito carentes, além de não termos feito nada em termos de Monitoramento Inteligente. Por isso afirmo, infelizmente, que fracassamos e pagaremos um alto preço por esta falta de visão e liderança, tanto política como empresarial.

Outra gafe, das grandes, e que gerou muita reação de instituições e por consequência desgaste do Presidente da República  ponto importante para nossa imagem de país, que priva pela Transparência, Governança e Compliance, o Governo Federal deveria ter dado exemplo de praticar as Três Linhas de Defesa, como Processo de Governança nas informações sobre a Pandemia. A questão aqui colocada foi a forma tortuosa como foi conduzida a “troca da metodologia”, colocada entre aspas porque foram palavras do atual ministro da Saúde, no trato e repasse para o público das informações diárias da pandemia. Classifico como um total desastre em termos de comunicações. Vejamos:

- Primeiro, sem aviso algum, não há mais coletiva de imprensa;

- Segundo mudou, sem avisar, o horário do repasse das informações das cinco horas para as sete horas;

- Terceiro mudou, sem avisar, o horário para as dez horas da noite, com as palavras do Bolsonaro dizendo que acabou o “Jornal Nacional”. Como se isto fosse possível! Tanta ingenuidade e arrogância! 

- Quarto, sem avisar, não coloca mais informações no portal, com alegações de fraude e também que secretários de saúde estavam maquiando dados. Ou seja, deixa a população e nós, eu, sem informação para analisar e criticar.

Independente da qualidade das informações que hoje o site o Ministério da Saúde possui, este já está manchado, desqualificado, pelo trabalho realizado.

Infelizmente já perdeu credibilidade. Qualquer manual básico de Gestão de Crise, o preceito número um é COMUNICAÇÃO!

Não interessa se a imprensa, sob as perspectivas do governo é contrária ou não, bate ou não no governo. O que não pode e não deve é ficar inerte, fugir do problema. Enfrentar o problema com inteligência, invertendo o jogo, sendo educado e persuasivo. Aliás Mandetta fazia isso muito bem! Não Bater de frente. Sun Tzu já escreveu para nunca atacar de frente, aproveitar as brechas. Clausewitz, o grande filósofo da guerra que estudou profundamente Napoleão, e escreveu seu postulado “A GUERRA”, também escreve que a estratégia possuiu quatro elementos: análise lógica, compreensão histórica, percepção psicológica e visão sociológica. Pelo visto não houve um estudo neste sentido.

Não previram sob ótica algum tipo de reação que as instituições poderiam ter. Uma lástima. O Governo não esperava nenhuma reação? Sendo ele, Ministério da Saúde, dependente das Secretarias Estaduais de Saúde das informações diárias? O governo tem tanto militares porque não utilizaram os princípios da estratégia? Na crise, em qualquer manual, não pode deixar de comunicar. Esse foi o segundo pecado capital. Simplesmente alterou o horário e depois retirou do ar. Que lambança fizeram. Que barulho desnecessário para depois voltar e dizer que iriam colocar um novo modelo em tempo real.

Desculpem, mas o estrago já tinha sido feito. Abriu brecha para “N” suposições e argumentações, perdeu-se mais uma chance! Resultado, as instituições resolveram colocar no ar as informações coletadas, independente do Ministério da Saúde, entre elas o CONASS - Conselho Nacional de Secretarias de Saúde. 

Nós da Brasiliano INTERISK passamos a adotar como referência os dados do CONASS, pois consideramos, com maior credibilidade.

Isto para o Brasil é uma pena, pois a imagem fica sendo de um país que nada leva a sério. Quem viaja, nestes tempos de pandemia, ouve piadas do Brasil o tempo todo. Pior, muitos tem razão!

Espero sinceramente que possamos passar mais esta crise, e que os poderes institucionais se entendam para o bem do Brasil e de meus netos. Não quero que eles vivam em um país não democrata! 

Boa Leitura!

Antonio Celso Ribeiro Brasiliano
Publisher da Revista Gestão de Riscos e Presidente da Brasiliano INTERISK - abrasiliano@brasiliano.com.br

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