
Etapas na construção de Cenários
Décio Luís Schons, CIEAI, CEGRC, CIGR, CISI
General-de-Exército da Reserva. Vice-Presidente de Operações de Consultoria da empresa Brasiliano INTERISK

Maio | 2025
Dando prosseguimento à temática relacionada à construção de cenários prospectivos, falaremos hoje sobre as diversas fases que deverão compor o processo de montagem dessa importante ferramenta de apoio à decisão.
Antes de prosseguir, porém, parece ser de bom alvitre retornar à ideia-força de que cenários prospectivos não têm nenhuma relação com uma prática mais antiga conhecida como adivinhação. Isso porque os diferentes cenários prospectivos, construídos por uma equipe especializada, constituem nada mais, nada menos que as alternativas mais prováveis para a forma como o futuro se apresentará, tomando em conta o nível de conhecimento atual sobre as diferentes condicionantes do processo.
A conjuntura irá se desenvolver de formas mais ou menos semelhantes a um desses cenários, tomando emprestadas, normalmente, várias circunstâncias dos outros. O trabalho da equipe de acompanhamento da conjuntura é seguir atentamente essas nuances à medida que elas se concretizem para manter os decisores informados, proporcionando-lhes assim a consciência situacional necessária à tomada de decisões acertadas, calibradas para cada situação, à medida que a conjuntura for evoluindo.
O processo de construção de cenários prospectivos é normalmente dividido em 6 fases bem demarcadas, conforme descrito a seguir.
1ª Fase – Definindo o Problema
Antes de mais nada, é preciso ter em mente o que precisa ser feito para chegar onde se quer chegar, definindo claramente o problema e estabelecendo os objetivos da prospecção. Naturalmente, essas definições serão estabelecidas a partir das necessidades do cliente. Poderão ter um caráter muito amplo, como “a economia global”, um mais restrito, como “o mercado de tecnologia digital”, ou um objeto bem mais focado, como “a influência das mudanças climáticas na atividade agropecuária em determinado município do Centro-Oeste brasileiro”.
Nesta fase, deve também ser estabelecido o horizonte temporal (10 anos, por exemplo) em que os eventos que deverão compor os cenários apresentados irão se desenvolver.
2ª Fase – Coleta e Análise de Dados
Estabelecidos os limites do trabalho, tanto na dimensão temporal quanto na amplitude do conhecimento a ser produzido, o próximo passo será dedicado à coleta e à análise de dados.
Nesta fase, serão investigados cuidadosamente, com o emprego de métodos qualitativos e quantitativos:
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As tendências percebidas;
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As forças motrizes e as formas como elas interagem;
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Os diversos atores, com seus respectivos níveis de impacto atual e potencial. Trata-se de um rol mais ou menos extenso de atores, a depender do porte da empresa, indo desde os proprietários e da alta gestão corporativa até os especialistas, políticos, detentores de cargos no poder público e influenciadores nos diferentes meios de comunicação. Todos eles, de uma forma ou de outra, dependendo do engajamento próprio e da receptividade que obtenham, podem influenciar na materialização do cenário futuro;
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A evolução ambiental, tanto no componente físico quanto no social, de negócios e assim por diante;
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As incertezas, em particular aquelas que apresentem potencial para desenvolver um elevado grau de criticidade, pelos riscos que delas possam derivar.
3ª Fase – Montagem dos Cenários Prospectivos
Com base no conhecimento desenvolvido nas duas primeiras fases, serão neste momento construídos os diversos cenários, a partir da combinação dos aspectos levantados na 2ª Fase.
A tarefa consiste basicamente em construir diferentes possibilidades de futuro com base nas variáveis identificadas, isto é, a partir da combinação de diferentes tendências e incertezas somadas às prováveis ações dos atores identificados.
Cada cenário deve ser constituído de uma narrativa singular, que explore de forma coerente o desenrolar dos acontecimentos.
4ª Fase – Análise, Avaliação e Validação dos Cenários
Nesta fase procede-se à análise, avaliação e validação dos cenários construídos na etapa anterior. É importante para isso contar com a opinião de especialistas nas diversas áreas abordadas, de modo a submeter à prova a coerência e a plausibilidade dos cenários construídos e proceder aos ajustes necessários para dar-lhes uma dose adequada de verossimilhança.
Nesta fase, deverão ser tomadas em consideração e analisadas em profundidade as implicações estratégicas de cada cenário.
5ª Fase – Definição das Estratégias e Montagem dos Planos de Ação
É chegado o momento de definir as Estratégias e montar os Planos de Ação, fazendo uso dos cenários construídos para criar estratégias resilientes, orientar a tomada de decisões estratégicas bem embasadas e preparar as respostas adequadas para os diferentes futuros visualizados como possíveis.
6ª Fase – Acompanhamento da Conjuntura
A 6ª e última fase desenvolve-se de maneira contínua e por tempo indefinido, ou seja: passa a ser uma ação de rotina da organização. Comumente conhecida como acompanhamento da conjuntura, esta fase é essencial para que as estratégias definidas continuem relevantes diante das mudanças do ambiente externo.
Com o decorrer do tempo, a situação da empresa no mercado irá inevitavelmente sofrer modificações, sejam elas causadas por alterações internas, sejam provocadas por mudanças no ambiente de negócios. Nasce daí a necessidade da aplicação frequente da Análise SWOT, de modo a avaliar os pontos fortes e fracos da organização em relação aos ambientes futuros e identificar, no ambiente externo, as oportunidades e as ameaças.
O monitoramento contínuo garante a constante atualização das tendências e fatores identificados na análise inicial para verificar se os cenários projetados continuam válidos. De nada adianta a empresa contar com a melhor equipe, construir os cenários mais completos e desenvolver estratégias brilhantes se não for resguardada a sua capacidade de atualizar tanto os cenários concebidos quanto as estratégias planejadas para fazer face a cada um desses cenários. A partir desse trabalho, uma vez constatado o surgimento de novas variáveis ou eventos inesperados, os planos estratégicos podem ser ajustados para manter a competitividade.
Essa fase garante que o planejamento estratégico não seja estático, mas sim adaptável às mudanças do mercado e da sociedade. Neste ponto, é absolutamente necessário que a Alta Gestão da organização esteja totalmente engajada e preparada para ser permanentemente assessorada pela equipe de acompanhamento da conjuntura sobre a evolução dos acontecimentos, com possíveis mudanças em alguns cenários (para mais ou menos favoráveis) e, em consequência, das estratégias montadas para a eles fazer face.
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