Resiliência Diante de Riscos Geopolíticos
Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, CEGRC, CIEAC, CIEIE, CPSI, CIGR, CRMA, CES, DEA, DSE, MBS
Doutor em Ciência e Engenharia da Informação e Inteligência Estratégica pela
Université Paris – Est (Marne La Vallée, Paris, França); presidente da Brasiliano INTERISK.
Um plano de crise e ou de continuidade de negócios é apenas um exercício de racionalização de uma realidade que, por essência, continua aleatória. Operacionalizar o Plano requer consciência situacional e flexibilidade mental para enfrentar o inesperado.
Nos últimos dois anos, parece que vivemos em um estado de crise contínua, pois eventos globais inesperados perturbaram organizações em todas as partes do mundo. De uma pandemia global e interrupções maciças da cadeia de suprimentos ao aumento da inflação/custo de vida e ataques cibernéticos em larga escala que pararam as empresas em seus rastros, organizações grandes e pequenas enfrentaram inúmeros desafios. Consequentemente, a resiliência operacional nunca foi tão vital.
Agora, uma crise geopolítica também demonstra a necessidade crítica de organizações resilientes e robustas que possam se adaptar e flexionar rapidamente para tomar decisões e ações. Mundo BANI!!
A crise na Ucrânia apresenta-se multifacetada, afetando a segurança do pessoal, as cadeias de suprimentos, os fornecedores e a economia. É fundamental que as organizações avaliem os efeitos futuros imediatos e potenciais e tomem medidas rápidas. Há necessidade de elaborar cenários prospectivos de curto prazo, de acordo com o andamento da guerra.
Avaliar o impacto
O primeiro passo para formular uma resposta é avaliar o impacto de qualquer ameaça ou interrupção e entender completamente quais operações de negócios, clientes, fornecedores e parceiros podem ser afetados.
Organizações com escritórios em áreas afetadas pela crise geopolítica devem considerar como as operações diárias serão afetadas. A segurança dos funcionários deve ser a prioridade máxima. As empresas também devem considerar que intervenções governamentais, como sanções, limitações financeiras ou restrições de toda ordem, podem dificultar a capacidade da organização de funcionar normalmente.
Mesmo que uma organização não tenha ligações diretas com as áreas afetadas, ela não existe no vácuo. As empresas devem identificar o impacto nos fornecedores críticos e como isso afeta diretamente os seus negócios. Exemplo no Brasil é o agronegócio, em função da descontinuidade dos fertilizantes! Elaborar uma Matriz de Riscos é essencial para entender seus contextos.
Figura 1: Software INTERISK
O efeito sobre os fornecedores e sua cadeia de suprimentos pode não ser imediatamente aparente, por isso as organizações devem entrar em contato proativamente com provedores de terceiros e perguntar sobre suas operações e planos de resiliência.
Crise pede ação
Crise requer uma resposta. Por isso é fundamental que cada empresa tenha um plano abrangente de crise e continuidade de negócios que foi desenvolvido com as principais partes interessadas e possa ser rapidamente ativado para garantir a continuidade das operações.
Haverá muitas partes móveis nesse processo. Ativar subgrupos e subtarefas para orquestrar a resposta completa do negócio é fundamental para permanecer organizado e eficiente. Os subgrupos devem assumir tarefas separadas da resposta geral dos negócios, como alternativas de fornecedores e logística geográfica de escritórios, e se envolver com os principais stakeholders das áreas críticas para decisões e aprovações de emergência. Manter o conjunto dos insumos críticos atualizado durante a ativação dos planos será fundamental para o sucesso.
Entender as dependências do fornecedor e da cadeia de suprimentos e projetar potenciais impactos durante eventos disruptivos requer o mapeamento dos processos de negócios em detalhes; de preferência que esta ação tenha acontecido antes da crise. As organizações devem se concentrar em processos de negócios críticos que suportam serviços e produtos críticos. Se uma organização não tiver um mapa completo de fornecedores/cadeia de suprimentos para seus produtos e serviços críticos, ela deve usar dados existentes sobre serviços e produtos comerciais críticos e se engajar a partir desse ponto.
Elaborar um BIA – Bussiness Impact Analysis de processos e sistemas é primordial para o entendimento do que é essencial para suas operações. Através de uma Matriz de priorização a organização é mais fácil perceber quais as ações que devem ser operacionalizadas, de forma rápida.
Figura 2: Software INTERISK
Engajar-se com fornecedores essenciais e entender plenamente sua posição e operações direcionará os próximos passos. Em alguns casos, os fornecedores podem continuar as operações como de costume, mas em outros, um fornecedor alternativo pode ter que ser encontrado – e rapidamente.
Prepare-se para o longo prazo – Cenário Mapa do Inferno
Os efeitos do COVID mostraram a importância de ter um plano de longo prazo e de alto nível para uma crise econômica, e para que os líderes estejam preparados para quando o fluxo de caixa e o mercado não estiverem agindo favoravelmente.
Planos não são o objetivo final. Eles são um bom exercício, mas é a resposta músculo-memória ao objetivo que causa um impacto em tempos de crise. As organizações devem ser capazes de olhar para um plano, entender como a situação atual se desvia do plano e agir rapidamente. Temos que entender que um plano é apenas um exercício de racionalização de uma realidade que, por essência, continua aleatória. A incerteza nunca irá desaparecer, tem que ser gerenciada, através da flexibilidade mental dos executores dos respectivos planos.
É fundamental ter dados sobre como as operações funcionam e entender todas as peças móveis que contribuem para o negócio como de costume. Mapear esses dados de forma organizada permitirá ação sem demora quando interrupções de longo prazo afetarem uma organização. Entender como uma organização funciona fornece o conhecimento para colocá-la de novo em funcionamento.
Figura 3: Software INTERISK
Entender os dados e informações críticas da empresa garante flexibilidade operacional.
O mapeamento de processos começa dentro de uma organização e se estende às dependências internas e externas, incluindo fornecedores, cadeia de suprimentos, aplicativos, pessoas e sites físicos que suportam funções comerciais diárias. Simplesmente saber quem supervisiona quais funções e tarefas não é suficiente. Um processo de negócios pode ter várias equipes em diferentes regiões/países e usar fornecedores diferentes para o mesmo produto/serviço simplesmente por causa da diferença geográfica. Temos que entender completamente as operações em todos os níveis de motricidade, temos que realizar impactos cruzados, e saber quem é motriz e quem é dependente passa a ser crucial para a sobrevivência.
Figura 4: Software INTERISK
Entender a conectividade de seus fornecedores com sua operação é crucial para sua sobrevivência. Saiba em quais fornecedores você confia, em quais operações é possível reconhecer o impacto em um negócio em tempos de crise e informar decisões pensadas.
Priorizar a Resiliência
A resiliência operacional fornece as ferramentas para entender os pontos de dados e locais da operação. Uma vez que uma organização entenda seus dados, ela pode ser efetivamente mapeada e analisada para múltiplas situações, independentemente da natureza da interrupção. Seja uma crise geopolítica, desastre natural ou escassez da cadeia de suprimentos, a resiliência fornece a capacidade de digerir dados e tomar medidas rápidas.
O planejamento proativo oferece a oportunidade de ter múltiplas opções
discutidas e aprovadas anteriormente para o pior cenário. Daí a importância de construir e levar em consideração sempre o cenário denominado “mapa do inferno”.
As empresas não podem alcançar resiliência sem entender totalmente seus processos críticos. Depois de identificar processos críticos, deve ser discutido e planejado quando o negócio parar. As operações críticas geralmente incluem pessoas, aplicativos, sites e fornecedores que permitem que uma organização cumpra sua promessa de marca aos clientes em condições normais. Ao priorizar a resiliência, as organizações podem garantir que não haja um único ponto de falha.
Pivotar e Adaptar
Nos últimos dois anos, grandes crises afetaram quase todas as organizações de alguma forma. Devemos reconhecer que as interrupções estão aqui para ficar; não é mais uma questão de se, mas quando outra crise ocorrerá. Nunca foi tão importante ser capaz de pivotar e se adaptar a qualquer interrupção.
É fundamental que as empresas hoje entendam o cenário global de riscos para que possam responder proativamente e se antecipar a possíveis interrupções.
Às vezes, a reação excessiva pode apresentar a melhor opção. Crises previsíveis dão às empresas o tempo e a capacidade de responder antes que a situação fique insuportável. Monitorar o cenário global continuamente oferece às organizações o tempo para agir diante do perigo iminente, especialmente quando a vida e a segurança estão em risco.
Segurança Humana em Primeiro Lugar
Ao se preparar para quaisquer interrupções, as organizações devem colocar as pessoas em primeiro lugar. Com os dados adequados, preparação e plano, as empresas podem adaptar perfeitamente novos modelos de operação e logística e se preocupar com o que realmente importa: as pessoas e sua segurança.
Nenhum negócio pode existir sem seus funcionários. Ao mostrar um cuidado genuíno com os funcionários e suas famílias que podem ser afetados por uma crise, as organizações podem aumentar o moral de seu pessoal. "Estamos todos juntos nisso" vai além de posts nas redes sociais ou outros conteúdos de marketing. Ao mostrar um cuidado genuíno, a fidelização de funcionários e clientes aumentará muito além do período de interrupção.
As organizações também devem ser corajosas e defender o que acreditam ser moralmente certo. Não seja o único atrasado enquanto todos estão tomando uma posição particular por medo. Não se trata de política; trata-se de cuidar da vida humana e colocar as pessoas em primeiro lugar.
Olhando para o futuro
A guerra da Ucrânia evolui a cada minuto. A situação que um negócio enfrenta hoje pode ser diferente amanhã. As organizações devem priorizar a agilidade nessas situações para se flexibilizar e se adaptar à medida que novos eventos ocorram.
Com as medidas preventivas e proativas adequadamente planejadas e em vigor, as organizações podem priorizar o que realmente importa – a vida humana.