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O desafio de Implantação
da Gestão de Riscos ESG

Décio Luís Schons,  CIEAI, CEGRC, CIGR, CISI
General-de-Exército da Reserva, é Vice-Presidente de Operações de Consultoria da empresa Brasiliano INTERISK

Julho | 2022                                                                                                                                                                           

Recém-saído da pandemia e ainda sob seus impactos, o setor empresarial defronta-se com novos desafios, dentre os quais sobressaem a correta gestão dos riscos relacionados à agenda ESG (Environment, Social and Governance na sigla em inglês, ou Meio Ambiente, Social e Governança), ou simplesmente riscos ESG. Não há como negar que o mundo mudou e um dos aspectos que caracterizam essa mudança é uma preocupação mais pronunciada com a sustentabilidade em todos os seus aspectos. As mudanças climáticas, mais que nunca presentes e evidentes, associadas a uma nova consciência social, motivam a prática de métodos de governança que atendam às expectativas de stakeholders (partes interessadas no negócio da empresa – acionistas, colaboradores, dirigentes, clientes, fornecedores, população vizinha, agências estatais etc.) bem-informados e participantes do processo de tomada de decisões, graças à ampla conscientização proporcionada pelas mídias sociais. A adequada gestão de riscos é inerente a essa nova forma de encarar os negócios.

Por onde começar?

Os riscos ESG decorrem principalmente da inexistência de um programa ESG devidamente implantado na empresa. Assim sendo, a primeira tarefa daqueles que se dispõem a assessorar a implantação do sistema de gestão de riscos ESG em uma organização é verificar a existência e funcionamento do programa ESG. Caso ele não exista ou seja ainda incipiente, a equipe poderá muito bem colaborar na sua implantação ou aperfeiçoamento.

O ponto de partida para qualquer iniciativa exitosa visando resultados no que diz respeito à Agenda ESG é, sem dúvida, a Governança, com o engajamento responsável da alta liderança, ou seja, do Conselho de Administração (CA) e dos executivos da organização.

O Comitê ESG, ou Comitê de Sustentabilidade, deverá ser necessariamente vinculado ao CA e suas reuniões terão, em princípio, uma frequência mensal. É aconselhável que o líder do comitê seja um dos integrantes do CA com conhecimento do assunto. É desejável também que se incluam outros membros do CA, o CEO e outros ocupantes de cargos no mesmo nível entre os integrantes do Comitê ESG.

Capilaridade e Conscientização

Condição indispensável ao sucesso do programa ESG é a capacitação em todos os níveis, com prioridade para os detentores de cargos mais elevados, mas sem esquecer o chão de fábrica. Essa é a maneira de dar capilaridade ao conhecimento do assunto, gerando a criação de uma cultura comum, com uma linguagem própria que facilite a comunicação sobre os assuntos relacionados à agenda ESG. Além disso, na medida em que o corpo de colaboradores adquire a consciência do que significa a agenda ESG e de como todos podem ser beneficiados no médio e longo prazo pela sua prática esclarecida, haverá um natural comprometimento de todos. Assume elevada importância, nesse ponto, o aspecto liderança da parte da alta administração da empresa na condução do processo.

É natural que os investidores e demais donos de ações se mantenham preocupados com os resultados financeiros e com a gestão dos riscos e oportunidades mais tradicionais, mas a empresa não pode, em nenhuma hipótese, perder de vista o impacto por ela provocado sobre o meio ambiente natural e social, sob pena de sofrer sérias consequências em futuro próximo.

Determinação dos Aspectos Relevantes

A confecção da matriz de materialidade ou relevância é uma das medidas basilares no processo de implantação da agenda ESG. Mediante uma série de entrevistas e reuniões, os aspectos mais importantes são identificados e tabulados segundo sua importância para o conjunto das partes interessadas e para os resultados financeiros da empresa.

A partir da determinação dos aspectos relevantes, será elaborada a política ESG da empresa, que definirá, em grandes linhas, o que fazer para chegar aos objetivos estabelecidos. É essencial que sejam determinados os pontos de aderência entre a realidade objetiva da empresa e os objetivos estabelecidos no contexto da Agenda ESG. A partir daí, trata-se de manter o foco sobre os objetivos a conquistar e, após conquistados, manter. A direção da empresa precisa saber muito bem o que quer e perseverar, mesmo a despeito de mudanças momentâneas na percepção da importância relativa de cada um desses aspectos considerados mais relevantes.

Determinação dos Riscos ESG

Os riscos ESG são aqueles relacionados aos aspectos ambientais, sociais e de governança e que podem impactar negativamente o desempenho econômico-financeiro da organização. Muito provavelmente, os riscos ligados à agenda ESG terão uma característica de menor urgência em relação aos demais riscos enfrentados pela empresa (riscos patrimoniais, riscos de segurança da informação, riscos cibernéticos e assim por diante). Não se deve perder de vista, porém, que os riscos ESG, ao serem materializados, podem exercer um forte impacto, a ponto de colocar em xeque a própria sobrevivência da organização. Essencial é estabelecer uma priorização entre os riscos ESG detectados, tomando como ponto de partida uma classificação baseada nos aspectos probabilidade e impacto.

Governança deve sempre ser o foco

Tornou-se praticamente um lugar-comum, quando se aborda a agenda e os riscos ESG, encarar o assunto sob o ponto de vista da sustentabilidade, com prioridade para os pilares Meio Ambiente e Social. Essa, na verdade, é uma visão míope, pois, como já ressaltado anteriormente, a Governança é a coluna mestra de toda o sistema. Deve-se eleger, de início, pelo menos um objetivo correspondente a cada pilar ESG. No pilar Governança, é natural que um dos aspectos selecionados seja aquele que diz respeito à gestão de riscos corporativos, gestão essa que a partir de então englobará obrigatoriamente os riscos ESG.

Conclusão

Tudo que se fala e se debate ultimamente sobre a agenda ESG reflete a necessidade de investidores, especialmente os de grande porte, terem dados confiáveis sobre a saúde financeira das empresas em que pretendem apostar suas fichas. Nesse particular, o assunto Gestão de Riscos, em particular aqueles relacionados à sustentabilidade, vem assumindo uma importância cada vez maior.

Assim é que todo empresário ou administrador que tenha em mente colocar sua organização em lugar de destaque no ambiente de negócios precisa entender que a maneira mais lógica e prática de atingir tal objetivo é construir uma governança em que os riscos ESG ocupem o devido lugar. A correta prevenção ou mitigação dessa categoria de riscos poderá assegurar a perenidade do negócio, porque assentada nos pilares que, comprovadamente, determinam a longevidade de qualquer organização: o Ambiente natural e social em que ela se encontra, as Pessoas que a integram e que são a sua essência e a Governança Corporativa no sentido mais amplo da expressão.

Marcas que apresentem a sustentabilidade como propósito e não apenas como instrumento de propaganda (greenwashing –literalmente, lavagem verde, é a expressão utilizada para designar ações que agridem o meio ambiente, mas são maquiadas para parecer sustentáveis), obterão o respeito do público e tenderão a gerar resultados compensadores para os shareholders e para os stakeholders em geral.

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