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O papel reservado à Inteligência Artificial na implantação da Agenda ESG

Décio Luís Schons,  CIEAI, CEGRC, CIGR, CISI
General-de-Exército da Reserva, é Vice-Presidente de Operações de Consultoria da empresa Brasiliano INTERISK

Novembro | 2023   

Há pouco mais de um ano, a empresa OpenAI revelava ao mundo o ChatGPT, despertando enorme entusiasmo – e preocupação – sobre o progresso acelerado da inteligência artificial (IA).

 

Neste texto, falaremos, básica e resumidamente, sobre os impactos reais e presumidos da IA sobre a Agenda ESG.

 

Já são claramente perceptíveis os benefícios que esse novo ator tecnológico poderá trazer às atividades humanas em geral e à Agenda ESG em particular. Na verdade, trata-se de uma ferramenta poderosa que pode ser usada para melhorar as práticas ESG e até mesmo revolucionar a forma como encaramos esse tema. Ao automatizar tarefas, identificar padrões e fazer previsões, a IA pode ajudar as empresas a reduzir o seu impacto ambiental, a melhorar a sua responsabilidade social e a reforçar a sua governança.

 

Na dimensão Meio Ambiente, é sabido que a IA vem ajudando as empresas a prever condições meteorológicas extremas com mais precisão. Sabe-se também que o agronegócio tem sido beneficiado com o desenvolvimento de variedades mais resistentes à seca e a determinadas pragas agrícolas. Enquanto isso, uma área bastante sensível, que é a gestão de resíduos, é bastante beneficiada pelo emprego da IA para auxiliar na identificação precisa do lixo reciclável.

 

A IA é muito útil na coleta e análise de grandes quantidades de dados ESG, o que irá certamente ajudar as empresas a identificar tendências, a acompanhar o desempenho próprio e das demais empresas do seu setor e a tomar decisões mais informadas.

 

Na área de Gestão de Riscos, os métodos de IA podem ser usados para avaliar a exposição de uma empresa aos riscos ESG, tais como aqueles embutidos nas alterações climáticas, os inerentes às práticas laborais e à governança corporativa. Esses dados e informações são valiosos no desenvolvimento de estratégias para mitigar riscos e proteger a reputação das empresas.

 

A IA tem um papel importante na identificação de oportunidades de investimento sustentável e no desenvolvimento de estratégias de investimento que se alinhem com os objetivos ESG de uma empresa. Ela tem ainda o potencial de ser usada para envolver as partes interessadas e coletar feedback sobre iniciativas ESG. Essas informações auxiliam a melhorar o desempenho e a construir confiança entre as partes interessadas.

 

Por outro lado, como nem tudo são flores, já vêm sendo externadas preocupações quanto aos impactos que a inteligência artificial poderá exercer sobre as mais variadas atividades, com reflexos desta vez negativos sobre a Agenda ESG.

 

Uma consequência das mais funestas do uso da IA diz respeito à utilização de dados viciados. Obviamente, decisões tomadas a partir de dados obtidos com algum viés serão intrinsicamente tendenciosas, podendo mesmo vir a ser injustas ou discriminatórias. Por exemplo, um modelo de empréstimo alimentado por IA com dados tendenciosos do passado pode inclinar-se a negar empréstimos a pessoas de determinadas etnias, mesmo que estas sejam tão dignas de crédito quanto os mutuários pertencentes ao grupo predominante naquele ambiente.

 

Outro perigo digno de nota diz respeito a possíveis comprometimentos da privacidade. Por exemplo, um sistema de marketing alimentado por IA que rastreie a atividade online das pessoas poderia coletar dados sobre suas preferências pessoais, dados esses que seriam usados depois ​​para influenciar suas decisões mediante o uso de publicidade – algo que seria eticamente inadmissível.

 

Não passa despercebido a qualquer observador o progressivo processo de automatização de muitas tarefas atualmente realizadas por seres humanos, o que pode levar à pura e simples eliminação de empregos. Como exemplos disso, podemos citar os chatbots com tecnologia de IA fazendo o trabalho dos representantes de atendimento ao cliente e os algoritmos de negociação com tecnologia de IA assumindo o lugar dos analistas financeiros.

 

A desumanização da força de trabalho pela IA ameaça a estrutura socioeconômica de qualquer sociedade, ao mesmo tempo em que introduz o potencial de discriminação nas decisões relativas a emprego. Nesse sentido, a greve de quatro meses de duração, desencadeada em julho deste ano pelo sindicato dos atores de Hollywood, é emblemática dos problemas que podem ser causados pelo uso irresponsável da IA.

 

Em recente aparição pública, o Sr Elon Musk, proprietário da Tesla e do X (antigo Twitter) classificou a IA como a força mais perturbadora da história, chegando mesmo a afirmar que “chegará um ponto em que nenhum trabalho será necessário”.

 

É de fato provável que a IA tire os empregos de milhões de trabalhadores ao redor do mundo. Para completar, ela irá certamente contribuir para agravar o quadro de desigualdade digital hoje existente, uma vez que não estará acessível a todas as partes interessadas. Esse aspecto é definitivamente conflitante com os ideais de inclusão social tão alardeados pelos entusiastas das práticas ESG. As grandes empresas de tecnologia do Vale do Silício já começam a sentir a pressão dos acionistas focados em ESG, preocupados com a eliminação de empregos devido à IA.

 

Talvez o aspecto mais constrangedor de todo o processo seja a possibilidade de concretização de uma hipótese até agora estabelecida apenas nos enredos de filmes de ficção científica. Na medida em que os sistemas de IA se tornam mais sofisticados, eles podem se tornar mais difíceis de controlar, o que pode levar a IA a tomar decisões que não atendam aos melhores interesses de seus proprietários. Por exemplo, um sistema bélico controlado por IA poderia decidir pelo uso de armas nucleares, mesmo que tal hipótese contrariasse a vontade dos decisores humanos.

 

Como é fácil perceber, estamos tratando aqui de efeitos desencadeados a partir da utilização da IA e que afetam diretamente as dimensões mais sensíveis da Agenda ESG, quais sejam o Capital Humano e o Capital Social, com sérias possibilidades de interferência também na dimensão Ambiental. Sendo assim, é intuitiva a necessidade de implantação de diretrizes de governança de dados e sistemas de gestão de riscos corporativos nas organizações, de modo a fazer face a essas circunstâncias.

 

Não existem respostas prontas nem soluções fáceis para as grandes questões que envolvem o tema e que estarão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. Como partes interessadas na questão, cabe-nos estudar o assunto, de modo a ter opinião bem-embasada a respeito.

 

Se sua empresa deseja se aprofundar em gerenciamento de riscos ou em outros temas relacionados, entre em contato conosco, na Brasiliano INTERISK. Oferecemos soluções de Inteligência e Gestão de Riscos com base na Interconectividade, garantindo transparência nos processos de Governança, Riscos e Compliance. 

  

​​O INTERISK é uma plataforma tecnológica e automatizada que integra diversos módulos – entre eles, o Software de ESG, que aplica questionários personalizados, mede a maturidade dos padrões ESG e fornece uma visão integrada da cultura, maturidade e perfil de risco da empresa. Isso possibilita à empresa avaliar sua posição atual e estabelecer metas de maturidade. 

 

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