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Riscos Geopolíticos Atuais

Décio Luís Schons,  CIEAI, CEGRC, CIGR, CISI
General-de-Exército da Reserva. Vice-Presidente de Operações de Consultoria da empresa Brasiliano INTERISK

Novembro/Dezembro | 2024

 

Ao observarmos o panorama político internacional, nos deparamos com uma situação de extrema complexidade. De um lado, o conflito envolvendo Rússia, Ucrânia e, de forma indireta, a OTAN, a partir da invasão do território ucraniano em 22 de fevereiro de 2022. De outro, a também prolongada situação de beligerância no Oriente Médio, como decorrência imediata dos ataques terroristas conduzidos pela organização Hamas contra o território israelense em 7 de outubro de 2023.

Um objeto de estudo interessante seria exatamente buscar definir a intensidade com que determinados eventos em um desses dois teatros de operações poderão influir na conduta dos atores no outro e, por via de consequência, acarretar riscos positivos ou negativos no campo geopolítico – incluindo aqueles relacionados à eclosão de um conflito em nível mundial.

A recente queda do regime de Bashar Al-Assad na Síria é fato marcante e que certamente se enquadra na classificação acima. As operações que conduziram à queda do presidente sírio foram certamente muito bem planejadas, envolvendo um grau de sigilo que dificilmente permitiria a alguém que nelas não se achasse envolvido ter qualquer ideia do que estava por vir.

Logo de início, a grande interrogação era exatamente sobre quem estaria por trás das operações da organização HTS e de seu líder, Mohammad Al-Golani. Hoje essas dúvidas estão praticamente dissipadas, uma vez que a participação turca é bastante evidente, num golpe de mestre que caracteriza seríssima derrota para a Rússia, o Irã e as organizações paramilitares atuantes no Oriente Médio: Hamas, Hezbollah, Houthis e assim por diante.

O momento para a execução dessas operações não foi, certamente, escolhido ao acaso. A conjunção de circunstâncias não poderia ser mais favorável ao HTS e a seus apoiadores. A Rússia, envolvida de forma decisiva na Guerra da Ucrânia, não teria como destinar recursos adicionais para apoiar o aliado sírio; O Irã, seriamente desgastado pelos ataques israelenses de 25 de outubro passado, encontrava-se em condição semelhante; na mesma situação estavam as organizações aliadas mais próximas, como o Hezbollah e o Hamas, exauridas em decorrência das continuadas operações israelenses destinadas não apenas a eliminar seus líderes, mas a extinguir suas capacidades de combate.

De tudo isso, resulta a grande interrogação: até que ponto o revés sofrido no Oriente Médio, com a perda de uma base de apoio construída na Síria ao longo de muitos anos, desde a época do governo Hafez Al-Assad, irá influenciar o esforço de guerra russo na Ucrânia?

É ponto pacífico que a derrota na Síria enfraquece sobremaneira a posição geopolítica da Rússia na região, reduzindo sua capacidade de projetar poder e influência no Oriente Médio. A perda de um aliado estratégico do porte de Assad levará certamente a Rússia a redirecionar recursos militares e diplomáticos para tentar manter sua influência no Oriente Médio, o que pode afetar sua capacidade de sustentar a guerra na Ucrânia.

Essa derrota pode ser encarada como um fracasso estratégico para a Rússia, com efeito direto sobre o moral das tropas e sobre a percepção internacional da eficácia militar russa. Tais circunstâncias irão provavelmente conduzir a uma exacerbação da pressão internacional sobre a Rússia, tanto em termos de sanções econômicas quanto de isolamento diplomático, complicando ainda mais sua posição na guerra da Ucrânia.

Todos esses fatores combinados são de molde a levar a Rússia a uma reavaliação de sua estratégia russa na Ucrânia, resultando em possíveis evoluções na tática ou até mesmo em esforços renovados para buscar uma solução diplomática.

Outro aspecto levantado com frequência nas discussões sobre o tema diz respeito à possibilidade de a Rússia recorrer ao uso de armas nucleares na Ucrânia – tema esse sobremaneira relevante, uma vez que a partir daí poderíamos assistir ao desencadear da III Guerra Mundial. Nada indica, no entanto, que essa seja uma hipótese considerada viável pelo governo russo.

A doutrina nuclear da Rússia permite o uso de armas nucleares em resposta a ameaças existenciais ao Estado russo, mas tal circunstância, pelo menos no momento, não parece estar sob consideração – isso apesar de porta-vozes moscovitas alardearem que a aproximação da OTAN de suas fronteiras constituiria, sim, uma ameaça existencial ao Estado russo.

Como é óbvio, o uso de armas nucleares teria consequências catastróficas e provocaria uma resposta internacional massiva, incluindo sanções severas e um muito provável revide no mesmo nível e intensidade.

Por outro lado, a Rússia ainda dispõe de uma capacidade militar convencional significativa, que pode ser utilizada para tentar alcançar seus objetivos na Ucrânia sem recorrer a armas nucleares. Em outras palavras, a situação não parece desesperadora para o lado russo e soluções para a escassez de meios, especialmente os recursos humanos, estão sendo buscadas de formas mais ortodoxas. Tome-se como exemplo os reforços em tropas norte-coreanas.

A derrota na Síria pode aumentar a pressão interna sobre o governo russo, mas também pode levar a um aumento da pressão diplomática e econômica externa, incentivando a busca por soluções convencionais para a crise. Embora a situação seja tensa e complexa, o uso de armas nucleares continua sendo uma medida improvável, dada a gravidade das consequências envolvidas.

Como podemos perceber, os riscos geopolíticos decorrentes dos conflitos na Eurásia e no Oriente Médio são muitos e precisam ser tomados em consideração por organizações e empresas em todo o mundo. O levantamento e acompanhamento minucioso desses riscos e das ações destinadas a mitigá-los caso venham a se concretizar é mandatório. Uma equipe de gerenciamento de riscos bem formada e atuante representa, inegavelmente, um ativo valioso para qualquer empresa.

Caso haja interesse de sua empresa em aprofundar-se nesse ou em outros temas afetos ao gerenciamento de riscos, contate a Brasiliano INTERISK, uma empresa que oferece soluções de Inteligência e Gestão de Riscos com base na Interconectividade, conferindo total transparência aos processos de Governança, Riscos e Compliance.

​​O Software INTERISK é uma plataforma tecnológica e automatizada que integra diversos módulos – entre eles, o Módulo Gestão de Riscos Geopolíticos – compostos de diferentes disciplinas. Isso garante a abrangência e a integração de todos os processos em um único framework.

 

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