top of page
Âncora 1

CENÁRIOS

Cenários Prospectivos

Cláudio dos Santos Moretti, CES, ASE
Diretor da CSM – Consultoria e Treinamento
em Segurança Empresarial | claudio_moretti@uol.com.br

29/10/2021

Cenários prospectivos não são exercícios de futurologia ou adivinhação. Eles são construídos a partir de metodologias confiáveis, com o objetivo de identificar hipóteses possíveis e que poderão auxiliar as empresas a identificar novas oportunidades e novos riscos potenciais. É a partir desses cenários que a empresa pode elaborar suas estratégias para influenciar e aproveitar as oportunidades e, obviamente, se preparar para os riscos potenciais de forma a manter as vantagens competitivas, ou as mínimas condições necessárias para atender a continuidade dos negócios em casos de cenários desfavoráveis.

O futuro é imprevisível: Ninguém sabe com total certeza ou clareza o que vai acontecer no futuro, porém é necessário nos prepararmos para ele e essa preparação fica mais fácil quando temos uma ideia das alternativas possíveis.

No livro Cenários: As Surpresas Inevitáveis, de Peter Schwartz (2003), o Autor cita: “Talvez não sejamos capazes de evitar catástrofes (embora às vezes isso até seja possível), mas certamente podemos aumentar nossa capacidade de responder e nossa aptidão para detectar oportunidades que, de outro modo, seriam desperdiçadas”.

Segundo Schwartz, nossa reação natural em relação a acontecimentos inevitáveis é manifestada através de duas reações naturais, a negação, que é a recusa em acreditar que existam coisas inevitáveis e a defesa, que é a paralisação, pois não há um modo possível de reação. Ambas podem levar a decisões ineficazes. Porém, a decisão mais arriscada é justamente não fazer nada.

“Num mundo onde ocorrem crises a intervalos regulares, as quais mudam profundamente as premissas básicas sobre o funcionamento das coisas, a estratégia mais eficiente é a flexibilidade consciente, isto é, manter o equilíbrio entre reações de curto prazo e visão de longo prazo, e providenciar a preparação necessária, de modo a poder mudar rapidamente de direção se houver necessidade” (SCHWARTZ, 2003).

Cenários prospectivos x cenários projetivos

A principal diferença entre cenários prospectivos e cenários projetivos é que o primeiro diz respeito a um processo continuado de pensar o futuro e de identificar elementos para melhorar a tomada de decisão, levando-se em consideração suas inter-relações com o ambiente e suas variáveis incontroláveis.

Cenários prospectivos estudam as diversas possibilidades de cenários, preparando a empresa para enfrentá-los. Nesta visão, não há determinismos, o homem pode influenciar na construção do futuro, há uma visão holística dos cenários futuros, pois são criados múltiplos cenários com a finalidade de aperfeiçoar as tomadas de decisões a respeito de um futuro possível, mas que ainda não existe.

Já os cenários projetivos, que eram usados anteriormente para a elaboração das estratégias das empresas, analisavam apenas o passado e a tendência de futuro baseados somente no histórico, projetando apenas um cenário futuro, o qual não contemplava as variáveis incontroláveis. Também não criavam possibilidades para que o cenário futuro fosse modificado ou para que seus efeitos fossem minimizados. Utilizavam a extrapolação, que é o prolongamento da tendência, ou seja, mantinham a tendência, criando um futuro único e certo, que não leva em consideração as mudanças que estão ocorrendo. Considera o que já aconteceu.

Aplicação

A elaboração de cenários prospectivos pode ser usada para qualquer tipo de negócio ou para tomadas de decisões pessoais. Segundo Schwartz, “você pode usar cenários para planejar um negócio pequeno, para escolher sua educação, para procurar emprego, para avaliar um investimento ou até mesmo para examinar seu casamento”. (SCHWARTZ, 2003).

Basicamente, a elaboração de cenários prospectivos é particularmente útil no ambiente de turbulência e incerteza em que vivem as empresas, principalmente na elaboração do seu planejamento estratégico, pois os métodos convencionais são alicerçados, principalmente, na análise de tendências, ou seja, em cenários projetivos, os quais apresentam limitações no seu emprego.

A elaboração de cenários prospectivos pode ser considerada uma ferramenta da inteligência competitiva, onde os estudos destes cenários possibilitam, ao tomador de decisões, uma visão acerca do futuro.

Por outro lado, cenários prospectivos também se utilizam das várias ferramentas descritas no estudo de Inteligência Competitiva, como por exemplo as redes de informações, a análise automática da informação e outras técnicas de monitoração do ambiente que melhore a qualidade de seus resultados.

Cenários prospectivos na segurança empresarial

para segurança empresarial, o professor Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, em seu livro Manual de Planejamento: Gestão de Riscos Corporativos, 2003, cita: “O objetivo de elaborar cenários, específicos para a área de riscos corporativos, é o de poder antecipar as variáveis que, porventura, possam interferir nas metas da empresa”.

Especificamente para a área de segurança empresarial, Brasiliano adaptou o método Grumbach, criando uma metodologia própria de modelagem de cenários, chamado método Brasiliano de construção de cenários prospectivos, sendo este método o mais especifico para área da segurança empresarial, onde é descrita de maneira mais profunda sua metodologia de elaboração.

“A atividade de planejamento de riscos envolve, sempre, uma visão prospectiva, uma visão de futuro, mesmo porque os objetivos a serem alcançados se referem a fatos futuros. Todo planejamento de riscos corporativos é, por consequência prospectivo (....). O gerenciador de riscos corporativos deve aliar ao domínio das técnicas de prospectiva, sua imaginação e lógica, pois o planejamento de gestão de riscos corporativo é um processo decisório. Cabe ressaltar que o horizonte temporal na modelagem de cenários na área de riscos deve ser de no máximo um ano, tendo em vista a dinamicidade de nossas variáveis”. (BRASILIANO, 2003).

Brasiliano, ao usar o método Grumbach para elaboração de cenários prospectivos, específico para a gestão de riscos corporativos, é consciente de que está estreitando o horizonte temporal e de amplitude, pois a metodologia original foi criada para ser aplicada na elaboração do planejamento estratégico possuindo um espectro de maior amplitude.

O método Brasiliano prevê o emprego de uma equipe multidisciplinar da empresa com foco estratégico e tático, podendo contar com o auxílio de especialistas externos.

O método Brasiliano pode ser dividido em 3 fases, sendo:

1- Definição e Classificação dos Eventos, com seus fatos portadores de futuro;

2- Elaboração da Matriz de Impactos Cruzados;

3- Elaboração da Grade de Modelagem de Cenários.

Como pudemos observar, os métodos para elaboração de cenários prospectivos não são nenhum tipo de adivinhação do futuro. São métodos que podem auxiliar na preparação para o futuro que, apesar de incerto, dá uma visão dos possíveis cenários que a empresa terá que enfrentar, possibilitando um melhor posicionamento e criando estratégias a fim de alcançar o cenário ideal para a empresa, além de fornecer subsídios para os tomadores de decisões.

Conclusão

como pudemos observar, os métodos para elaboração de cenários prospectivos não são nenhum tipo de adivinhação do futuro. São métodos que podem auxiliar na preparação para o futuro que, apesar de incerto, dá uma visão dos possíveis cenários que a empresa terá que enfrentar, possibilitando um melhor posicionamento e criando estratégias a fim de alcançar o cenário ideal para a empresa, além de fornecer subsídios para os tomadores de decisões.

Porém, o que ainda paira no ar é muita desinformação sobre o que a metodologia para elaboração de cenários prospectivos pode fazer para auxiliar as empresas no seu planejamento.

Na segurança empresarial, a elaboração de cenários prospectivos deve ser parte do planejamento estratégico e da análise de risco a fim de poder antecipar as variáveis que possam impedir que a empresa alcance suas metas.

É claro que assim como a construção de cenários que pode ser usada por diversas áreas, pode ser usada também na segurança pública para lhe dar a condição de poder monitorar as hipóteses mais prováveis de ocorrências, sejam elas boas ou não, dos inúmeros fatores portadores de futuro e seus reflexos na sociedade. Com isso, teriam condições de antecipar as situações desfavoráveis e traçar estratégias preventivas.

A escolha da metodologia para elaboração de cenários não é o mais importante, apesar de a área de gerenciamento de risco ser peculiar, mas o que realmente importa é a conscientização do empresariado deste segmento de que a criação de cenários pode auxiliá-lo em suas aspirações enquanto empresa, mostrando caminhos pelos quais ele poderá trilhar ou criar mecanismos para alterar esses caminhos.

Os tempos são outros, os desafios são outros, a criminalidade tem um novo perfil e já existem métodos adaptados à segurança empresarial que dão ao setor uma imagem de profissionalismo, pois esta é a exigência do mercado.

Para finalizar, gostaria de deixar uma reflexão proposta pelo cenarista francês, Michael Godet, que diz que diante do futuro o homem tem quatro atitudes possíveis para deliberar suas ações:

Atitude do avestruz (passividade), não quer “ver” o que está acontecendo ou pensar que possa acontecer.

Atitude do bombeiro (reatividade), agirá apenas quando o fato se concretizar. Espera acontecer para agir.

Atitude do segurador (pré-atividade), tenta prevenir que algo aconteça, e se assegura de que se esse algo acontecer, pelo menos a perda não será total.

Atitude do conspirador (proatividade), que atua no sentido de provocar as mudanças desejadas, que lhe favoreçam. Participa das mudanças.

Com o desenvolvimento de cenários prospectivos é possível identificar o melhor cenário e trabalhar para que ele ocorra.

bottom of page