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Âncora 1

ANÁLISE

Produção de Inteligência Empresarial

Cláudio dos Santos Moretti, CES, ASE. Diretor da CSM – Consultoria e Treinamento em Segurança Empresarial| claudio_moretti@uol.com.br

23/03/2021

Os múltiplos desafios do mundo atual, como fusões, regulamentações variáveis, inovação tecnológica, hipercompetição, terrorismo, criminalidade e desastres naturais impulsionam a busca por soluções mais eficientes. Por isso, investir na produção de Inteligência Empresarial tornou-se imprescindível para quem deseja sobreviver num mercado cada vez mais acirrado e incerto.

As empresas enfrentam situações inéditas todos os dias a partir de fusões, desregulamentações e novas regulamentações, tecnologias inovadoras, equipes reformuladas, além das crises que, neste mundo interligado, mesmo ocorrendo do outro lado do planeta, gera consequências a todos. Para acrescentar, ainda há competição e, em alguns casos hipercompetição, terrorismo, criminalidade, fraude e desastres naturais cada vez mais presentes em todo o mundo.

 

Esses desafios nos fazem trabalhar na busca de soluções proativas no sentido de impedir, dificultar ou minimizar os danos corporativos. Dessa forma, uma das maneiras mais eficazes da segurança atuar de forma proativa nas soluções dos problemas corporativos, é o uso da atividade de Inteligência Empresarial.

 

O desenvolvimento da segurança empresarial no Brasil tem sido bastante acentuado nos últimos anos. Tal crescimento se dá por diversos fatores. Entre eles, podemos destacar o aumento da criminalidade, ineficácia da segurança pública e o crescimento das condições econômicas do brasileiro.

 

Somados a isso, ainda ressaltamos o crescimento da competição entre as empresas no chamado “mundo globalizado” e com isso a necessidade de salvaguardar conhecimentos estratégicos das organizações. A atividade de Inteligência passou por adaptações após o fim da Guerra Fria (1945 – 1991). Nela, um grande número de agentes que atuavam a serviço do Estado, passou a utilizar técnicas operacionais de Inteligência. Agora, adaptadas aos novos cenários em desenvolvimento, esse conhecimento está a favor de empresas privadas, trazendo uma nova ferramenta para apoiar a tomada de decisão.

 

A atividade de Inteligência vem se estabelecendo como uma atividade essencial neste novo contexto no qual executivos são comparados a generais em condições de grandes batalhas. Todos eles sempre acompanhados pelas incertezas e falta de informações confiáveis para que as decisões sejam tomadas de maneira mais acertadas, evitando perdas e conseguindo suas vitórias, obviamente, cada qual dentro no seu contexto.

 

Se os cenaristas ou futuristas estiverem certos, a incerteza continuará como companheira dos executivos ainda por muito tempo, sem previsão de controle, pois a competitividade empresarial vai piorar. Nesse sentido, a atividade de Inteligência traz o conhecimento de forma estruturada para auxiliar nas ações de antecipatórias do negócio e outro ramo da Inteligência, a Contrainteligência, que tem o foco na salvaguarda das informações sensíveis e no impedimento das ações de Inteligência e espionagem adversa.

 

Conceitos e caminhos da inteligência

 

Inteligência pode ser conceituada de diversas maneiras, de acordo com seus objetivos. Tratamos aqui de um tipo de Inteligência ligada à informação, ou melhor, a análise de informações.

Dessa forma, podemos abordar as áreas de Inteligência Militar, Financeira, Mercadológica, Fiscal, Segurança Pública, entre outras. Cada qual com a sua finalidade e campo de atuação específico, porém vamos definir a Inteligência Competitiva.

 

A ABRAIC – Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva estabelece a Inteligência Competitiva como um processo sistemático e ético que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir riscos, conduzir tomadas de decisão, agir proativamente e proteger o conhecimento sensível produzido. Caracterizada pela produção de informações acionáveis (ou seja, inteligência) que não são facilmente obtidas, pois estão ocultas, desconexas, camufladas ou mesmo distorcidas por interesses de quem as produziu.

 

No livro “Inteligência Competitiva: como transformar informações em um negócio lucrativo”, Elizabeth Gomes e Fabiane Braga, autoras da publicação, afirmam:

 

“A Inteligência Competitiva é o resultado da análise de dados e informações coletadas do ambiente competitivo da empresa que irão embasar a tomada de decisão, pois gera recomendações que consideram eventos futuros e não somente relatórios para justificar decisões passadas”.

 

Já Jerry P. Miller, no livro “O Milênio da Inteligência Competitiva” diz:

 

“Os dados, quando organizados, tornam-se informação e as informações, quando analisadas, tornam-se Inteligência”.

 

É a partir dessa definição que a produção de Inteligência tem seu processo ou ciclo. Assim, ele pode ser detalhado e entendido de forma sistemática na produção da Inteligência. Tal metodologia não foi criada pela Inteligência Competitiva. Ela já era utilizada na Inteligência de Estado e foi adaptada para as empresas, utilizando meios legais e éticos para antecipar ações do mercado e da concorrência, oferecendo maior competitividade às organizações.

 

Fases importantes

Ainda de acordo com Miller, os profissionais de Inteligência normalmente executam esse processo utilizando quatro fases. São elas:

1 - Identificam as necessidades de Inteligência dos principais responsáveis pelas decisões em toda a empresa;

2 - Colhem informações sobre fatos relativos ao ambiente externo da companhia. As fontes são impressas, eletrônicas e orais;

3 - Analisam e sintetizam as informações;

 

4 - Disseminam a inteligência resultante entre os responsáveis pelas decisões.

 

Washington Platt, um dos autores mais conhecidos nessa área, traz em seu livro “A produção de informações estratégicas” informações valiosas e detalhadas. A publicação que é considerada um clássico mostra que a produção da Inteligência ocorre em seis fases, são elas:

 

1ª – Levantamento geral

É a prospecção completa do problema ou situação, incluindo a indicação de pessoas e fontes disponíveis. A compreensão total sobre o assunto, discernimento e o senso da verdade real exerce influência poderosa no sucesso desta fase.

 

2ª – Definição do objeto

É fundamental a definição e explicação do que se quer com a informação, inclusive para a aplicação de termos e conceitos que evidenciam os objetivos e o significado da informação.

 

3ª – Busca de informações

Diversos dados e informações estão disponíveis de modo fácil. Contudo, outros necessitam ser apurados por meio de operações de recrutamento, colaboradores e solicitações a outros segmentos.

 

4ª – Interpretação das informações

É o processamento mental do analista e o estudo a ser realizado. Inclui avaliação, classificação, análise e interpretação do volume de informações disponíveis. É avaliado também a transformação em conteúdos com significado, aproveitando gráficos e quadros estatísticos.

 

5ª – Formulação de hipóteses

Durante a fase de interpretação, quando há uma incubação de informações, respostas possíveis devem são formuladas, testadas e experimentadas. A formulação de hipóteses é uma operação intelectual. Ela refere-se à concentração dos analistas na lógica (técnicas de avaliação de conteúdos), coerência total dos dados sem se sobrecarregar com fatos isolados e na aplicação individual ou coletiva de experiências acumuladas, além da especialização em determinados assuntos.

 

6ª – Conclusão

Esta fase compreende as investigações destinadas a provar ou reprovar as hipóteses estabelecidas. Inclui ainda a elaboração do conteúdo final, que irá compor o documento considerado o relatório de informação.

 

7ª – Apresentação

É a elaboração do relatório final. O texto deve conter ideias e afirmações claras. É preciso que o relatório esteja bem embasado para fornecer a certeza de cada expressão, visando o entendimento completo do conteúdo pelo usuário ou tomador de decisão.

Outros autores utilizam modelos diferentes com mais ou menos fases, mas seguem em direção ao mesmo objetivo. Dessa forma, podemos afirmar que o processo ou Ciclo de Inteligência se baseia a partir de uma necessidade da empresa. Haverá uma coleta de dados e informações e, posteriormente, a análise dessas informações para a produção da Inteligência. E, finalmente, a disseminação dessa Inteligência aos tomadores de decisão.

A partir desse ciclo e das decisões tomadas, surgem novas necessidades, fazendo com que o ciclo se reinicie, tornando-o um processo sistemático para produção de Inteligência, sempre com a finalidade de apoiar os tomadores de decisões.

 

Fases de produção

 

Para detalhar um pouco melhor o processo, vamos exemplificar cada uma das fases de um processo simples de produção de Inteligência. Vamos utilizar quatro fases que podem ser adaptadas para outras metodologias com maior número de fases. Veja:

 

1ª – Identificar as necessidades de informações

Um modelo sugerido é o das cinco forças de Michael E. Porter, descrito no livro “Estratégia Competitiva: Técnicas Para Análise de Indústrias e da Concorrência”, escrito em 1986. Esse modelo consiste em identificar as principais oportunidades e ameaças. Elas podem ser: novos entrantes, lançamentos de produtos ou serviços substitutos, poder de barganha dos compradores ou clientes, poder de negociação dos fornecedores e a rivalidade entre os competidores. Com a identificação de suas necessidades, será iniciada a coleta das informações.

 

2 ª - Coleta de informações

Nessa fase, começam as buscas em todos os meios disponíveis, como pessoas, meios técnicos ou publicações. Lembre-se que o trabalho de coleta deve ser feito de acordo com a legislação e atuação ética, evitando problemas futuros para o profissional e para a empresa.

Os avanços tecnológicos permitiram que a Inteligência realize a coleta por uma vasta gama de sistemas mecânicos, eletrônicos e digitais. Todos totalmente disponíveis por meio de ferramentas pagas ou gratuitas que tornam possível coletar informações desejadas sejam internas ou externas a organização.

O conteúdo pode ter origem primária, isto é, possuem fatos íntegros que vem diretamente de fontes, como clientes ou fornecedores. As fontes das informações são formais ou informais, sendo as formais aquelas que se apresentam em publicações diversas, como livros e revistas, enquanto as informais são oriundas de fora da organização e surgem em conversas, palestras e conferências.

Além disso, elas devem ser classificadas quanto ao nível de confiabilidade, podendo usar qualquer meio para classificá-las, de modo que facilite o entendimento para o analista das informações.

 

3 ª – Análise das informações

Nesta fase, fica evidente a importância do processo feito pelos especialistas. É a etapa mais valiosa para a produção de Inteligência. Observe que não faltará dados e informações. O problema é justamente esse. Há uma quantidade enorme, principalmente na internet, porém com baixa confiabilidade, sendo necessário “separar o joio do trigo”.

É nesse momento que é gerada a Inteligência, quando as informações passam por uma avaliação completa e confiável. “O produtor de informações situa-se numa posição-chave, que exige uma longa experiência e compreensão profunda de muitos fatores. Se não levar a efeito sua tarefa com habilidade, julgamento e espírito de iniciativa, toda a busca de campo e outros esforços estarão perdidos” (PLATT, 1974).

Existem ferramentas e metodologias para auxiliar na análise das informações, Gomes e Braga (2001), citadas anteriormente, sugerem algumas:

 

  • As cinco forças de Porter;

  • Fatores Críticos de Sucesso;

  • Análise SWOT;

  • Benchmarking e Cenários.

 

Alguns modelos podem ser automatizados, porém não dispensam a análise humana.

 

4º - Disseminação

A forma como a Inteligência será disseminada dependerá do decisor, sendo necessário adaptar-se ao modelo preferido por ele. No livro de Joanisval Brito Gonçalves, “Atividade de Inteligência e Legislação Correlata”, de 2010, ele cita alguns exemplos. Gonçalves cita Johnson Loch quando demonstra as formas diferenciadas que os presidentes do EUA preferiam ao receber os relatórios de Inteligência, conforme trecho abaixo:

 

“onde [...] Gerald Ford e George Bush preferiam relatórios orais, conversando diretamente com seus assessores de inteligência, enquanto outros, como Nixon, recusavam-se a relatórios orais, preferindo sumários escritos. [...] Ronald Reagan, que talvez por seu passado na frente das câmeras, entusiasmava-se com inteligência transmitida em fitas de vídeo”.

 

O documento que será disseminado deve seguir as características recomendadas pela ABRAIC. São elas:

 

- Ser conciso e, ao mesmo tempo abrangente, para não deixar lacuna no texto;

- Ser simples. Formar frases curtas, sempre que possível e na ordem direta;

- Ser claro e usar palavras de significado preciso;

- Evitar o uso de adjetivos e advérbios de intensidade;

- Se for inevitável o uso de expressões técnicas (jurídicas, científicas etc.) ou regionais, registrar, entre parênteses, o seu significado;

- Ser objetivo, tanto no sentido de ater-se aos fatos que realmente interessam ao propósito do documento, quanto apresentá-los de modo concreto;

- Adotar o padrão culto de linguagem;

- Ordenar as ideias em sequência lógica;

- Ao fazer uso de siglas ou de abreviaturas pela primeira vez, colocá-las entre parênteses, precedida de seu significado por extenso;

- Ao transcrever citações, fazê-lo entre aspas e identificar a fonte, desde que esse último procedimento não signifique quebra de sigilo;

- Rever sempre o que foi escrito antes de dar por terminada a redação do documento.

O importante não é a forma, mas o conteúdo.

 

Conclusão

A atividade de Inteligência não é um investimento de curso prazo, pelo contrário. Os resultados devem aparecer a partir da maturação da célula de Inteligência.

A atividade de Inteligência não é uma ciência exata, está sujeita a falhas, porém, ainda assim, é melhor decidir a partir de uma análise com base em informações disponíveis em diversas fontes do que decidir no escuro, apenas no achismo.

Acredito que a Inteligência ainda tem muito que avançar em todos os departamentos das empresas, seja em marketing, desenvolvimento, planejamento ou gestão.

A Inteligência deve ser parte do Sistema Integrado de Segurança. Neste contexto, a integração do sistema de segurança é uma exigência para que as metas sejam atingidas e haja uma aplicação Inteligente dos recursos da empresa.

A atividade de Inteligência não é um investimento de curso prazo. Pelo contrário, os resultados devem aparecer e surgirão a partir da maturação da célula de Inteligência. Esta atividade não é uma ciência exata. Ela está sujeita a falhas, porém, ainda assim, é melhor decidir a partir de uma análise com base em informações disponíveis em diversas fontes do que decidir no escuro, apenas no achismo.

Acredito que a Inteligência ainda tem muito que avançar em todos os departamentos das empresas, seja em marketing, em desenvolvimento, em planejamento ou gestão, onde deve ser parte do Sistema Integrado de Segurança, fazendo com que neste contexto a integração do sistema seja uma exigência para que as metas sejam atingidas e haja uma aplicação Inteligente dos recursos da empresa.

 

“A imensa quantidade de dados e de informes organizados e catalogados num banco de dados somente terá valor após a análise de um especialista; que reunirá o que é mais importante e produzirá conhecimento claro, oportuno e preciso aos setores interessados” (PLATT, 1974).

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