Privatização dos aeroportos brasileiros e os impactos na Segurança Aérea
Roselaine Araujo,
Jornalista da Brasiliano INTERISK.
06/05/2021
Governo federal arrecadou em abril cerca de R$ 3,302 bilhões com a privatização de 22 aeroportos brasileiros em três blocos: sul, norte e central. Segundo o Ministério da Infraestrutura, os novos investimentos vão gerar empregos e impulsionar os negócios no setor, um dos mais prejudicados pela pandemia. A injeção de recursos deve beneficiar de modo indireto a Segurança Aérea, impulsionando o mercado de Gestão de Riscos.
No início de abril, o governo federal privatizou, em São Paulo, 22 aeroportos que correspondem hoje por 11% do tráfego aéreo. Na semana batizada de “Infra Week”, de 7 a 9 de abril, foram oferecidas à iniciativa privada 22 aeroportos, 1 ferrovia e 5 terminais portuários. De acordo com o Ministério da Infraestrutura, a semana de leilões irá gerar mais de R$ 10 bilhões em investimentos no Brasil.
Os 22 aeroportos privatizados estão divididos em três grupos. Bloco Sul - 9 aeroportos: Curitiba (PR), Foz do Iguaçu (PR), Navegantes (SC), Londrina (PR), Joinville (SC), Bacacheri (PR), Pelotas (RS), Uruguaiana (RS) e Bagé (RS); Bloco Norte - 7 aeroportos: Manaus (AM), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Cruzeiro do Sul (AC), Tabatinga (AM), Tefé (AM) e Boa Vista (RR); Bloco Central - 6 aeroportos: Goiânia (GO), São Luís (MA), Teresina (PI), Palmas (TO), Petrolina (PE) e Imperatriz (MA).
O leilão dos aeroportos trouxe ao governo federal uma arrecadação inicial de R$ 3,302 bilhões, o que deve trazer um novo fôlego ao setor aéreo já tão abalado pela pandemia da Covid-19.
O segmento da aviação civil está entre os mais prejudicados pela crise mundial. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as três maiores empresas brasileiras do setor aéreo — Gol, Latam e Azul — tiveram prejuízo líquido de R$ 3,9 bilhões nesse período. É o pior resultado líquido obtido até hoje.
Privatizações podem favorecer o mercado de gestão de riscos
A série de privatizações deve movimentar o mercado de Gestão de Riscos e Segurança Aérea. Antonio Brasiliano, especialista em Gestão de Riscos, doutor e presidente da Brasiliano INTERISK, explica os impactos da notícia na área de riscos. “A segurança operacional ligada à pista e segurança de voo deve sofrer uma melhora considerável com investimentos em processos novos, além de cumprir o que está prescrito pela Anac. A segurança patrimonial dos aeroportos também será beneficiada, colocando a Gestão de Riscos no radar das concessionárias”, diz.
Brasiliano que já chefiou Planos de Riscos em diversos aeroportos brasileiros e presta consultoria de análise de riscos em todo país, diz que a iniciativa ajuda, mas está longe de ser a solução. “O crescimento do Brasil depende do controle da pandemia. Sem a vacinação em massa não haverá evolução econômica. A privatização foi uma tacada boa do ministro da Infraestrutura, mas precisamos que a vacinação ocorra num ritmo muito mais acelerado. Por enquanto, o volume de voos é muito baixo e a tendência de recuperação é bastante lenta. Tanto é assim que as companhias aéreas solicitaram ajuda ao governo para se manterem ativas”, afirma.
Sabrina Verônica dos Santos, gerente de Security da Gol, também acha que a mudança trará benefícios, mas as medidas precisam ser vistas com cautela. “O Brasil já está no processo de privatização dos aeroportos há alguns anos. Esta é só mais uma etapa desse trabalho. O crescimento econômico para o segmento da aviação depende de diferentes fatores e não apenas da privatização dos aeroportos. Porém, a expectativa é que haja novas possibilidades para o setor sim. Junto aos investimentos de melhorias esperamos que haja uma cultura de segurança cada vez mais sólida, fazendo com que as concessionárias considerem a segurança como fator prioritário. Este é um segmento que possui grandes riscos e eles devem ser mapeados e monitorados por profissionais altamente qualificados”, afirma Sabrina.
Gestão de Riscos dentro dos aeroportos
Para as novas administradoras dos aeroportos nacionais, os desafios em Segurança são inúmeros. A área é bastante abrangente e desafiadora em todos os sentidos, como explica Antonio Brasiliano. “Os principais riscos em termos de Segurança Patrimonial estão relacionados aos controles de acesso nas áreas consideradas críticas. Todos os aeroportos possuem Alfândega e Receita Federal, ambas precisam estar muito bem mapeadas e monitoradas. Deve-se atentar também aos setores fechados de carga, que possuem alto valor agregado. Além disso, é preciso um controle grande na parte periférica, por isso os investimentos em tecnologia são imprescindíveis. É fundamental ‘casar’ tudo isso com uma pronta-resposta de segurança, incluindo todos os sistemas de câmeras, controle de acesso e sensoriamento”, destaca.
Brasiliano ressalta ainda o quanto a localidade de cada aeroporto influencia no mapeamento de riscos. “Os aeroportos maiores situados nas capitais exigem maior empenho porque a vizinhança está muito próxima à barreira perimetral. Este é um ponto nevrálgico, mas os aeroportos do mundo inteiro sofrem com o mesmo problema. Na área de passageiros, há quadrilhas especializadas em roubo de bagagem. Mesmo com 500 câmeras, os sistemas não conseguem registrar tudo. Portanto, as novas cias precisam pensar numa Gestão de Risco estratégica, holística e estruturada com vigilância de ronda, circuito fechado de televisão (CFTV) e pronta-resposta. Esta tríade é essencial para proteção de todos até porque a Anac passou a cobrar um plano de gerenciamento de risco operacional, que engloba tanto a segurança operacional como a patrimonial”, enfatiza.
Para o presidente da Brasiliano INTERISK, a tendência é que as concessionárias invistam em sistemas tecnológicos e ampliem o campo de atuação. “Caso ocorra alguma crise, a estrutura aeroportuária precisa conter espaços específicos, como sala de crise, central de monitoramento e protocolos bem estruturados. Esta é a vantagem do Sistema de Riscos INTERISK porque ele é integrado ao Sistema da Central. Desta forma, ele auxilia na resolução de todos os riscos, como incêndio, ameaças cibernéticas, ataques terroristas, entre outros”, esclarece Brasiliano.
Avaliação de Risco é exigida pela ANAC
A ANAC estabeleceu no início de fevereiro na RBAC 108 (Regulamento Brasileiro da Aviação Civil) a exigência que todos os operadores aéreos elaborem e implementem um processo contínuo de avaliação de risco. A gerente de Security da Gol elogia a decisão. “A inserção desse requisito na RBAC traz mais embasamento para a execução do gerenciamento do risco que já é praticado pelos operadores aéreos. A medida é positiva, pois vai padronizar a execução e o alinhamento em conjunto com a OACI – Organização da Aviação Civil Internacional, que norteia os estados contratantes, como o Brasil. O ponto de maior relevância agora é a avaliação em âmbito local e geral da empresa, analisando os diferentes aspectos da operação. Temos que identificar vulnerabilidades de infraestrutura e processos, avaliar o cenário político e social, entre outros aspectos. Somente assim é possível identificar riscos e aplicar medidas mitigadoras de modo adequado”, detalha Sabrina.
Além da imensa crise sanitária provocada pela pandemia, uma série de outros riscos permeiam os aeroportos nacionais. “Entre incêndios, ataques terroristas e ameaças cibernéticas, os incêndios ocorreram com maior reincidência em nossos aeroportos. Para preveni-los, os aeroportos já contam com boa infraestrutura de bombeiros, plano de combate a incêndio, exercícios simulados, entre outras medidas. No entanto, recomendaria ainda a implementação de controles de qualidade para monitoramento da execução das ações, capacitação dos profissionais e averiguação dos equipamentos de prevenção por meio de auditorias e inspeções periódicas. As demais vulnerabilidades e ameaças existentes também exigem grande atenção. Por isso, é essencial manter processos de avaliação de riscos constantes”, completa Sabrina.
Para o presidente da INTERISK, a segurança sanitária virou prioridade em conjunto com os crimes digitais. “Esta área é um dos pontos mais críticos hoje. A pandemia provocou o surgimento de diversos protocolos de segurança sanitária e também aumentou as preocupações com a segurança cibernética já que o número de ataques virtuais cresceu. Diante desse cenário caótico, é difícil pensar em perspectivas econômicas e sociais positivas. Elas dependem totalmente do controle pandêmico. Enquanto não houver vacinação em massa, o setor aéreo continuará sofrendo e gerindo as consequências do isolamento, pois é a única solução factível no momento para reduzir os casos da Covid-19”, finaliza Brasiliano.
Webinar
A Brasiliano INTERISK exibiu, em 2019, uma webinar sobre Riscos Aeroportuários. O vídeo mostra como assumir riscos nesta infraestrutura complexa e sensível. Aprenda a planejar e conduzir projetos eficientes para melhorar as condições de segurança a todos usuários. Para assistir, acesse o link:
https://interisk.brasiliano.com.br/material-riscos-aeroportuarios