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Âncora 1

GESTÃO

A Inteligência aplicada
aos negócios

Cláudio dos Santos Moretti, CES, ASE
Diretor da CSM – Consultoria e Treinamento em Segurança Empresarial | claudio_moretti@uol.com.br

06/05/2021

Ainda que existam diferentes categorias de Inteligência, todas elas acrescentam informações que fomentam o conhecimento e auxiliam na tomada de decisões. Para ABRAIC - Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva, a categoria Competitiva é definida como um processo sistemático e ético que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir a tomada de decisão a agir proativamente, bem como proteger o conhecimento sensível produzido.

A Inteligência sempre foi uma atividade de Estado e teve seu “glamour” durante o período da guerra fria (1945 – 1991). Porém, após esse período, um grande número de agentes que atuavam a serviço do Estado passou a utilizar as técnicas operacionais de Inteligência agora adaptadas aos novos cenários em desenvolvimento e a favor de empresas privadas, trazendo uma nova ferramenta aos tomadores de decisão.

Assim, esse trabalho vem se estabelecendo como uma atividade cada vez mais necessária neste novo contexto no qual executivos são comparados a generais nas condições de grandes batalhas já que estão sempre acompanhados pelas incertezas e falta de informações confiáveis, o que prejudica a tomada de decisões de maneira mais acertada.

As mudanças nos negócios são alavancadas pelos avanços da ciência, inovação tecnológica e produção internacionalizada, além de novos paradigmas sociais, políticos, ambientais e formações de blocos de pressão e geopolítica. Diante desse quadro, a Inteligência recebeu ao longo do tempo escopos diferenciados, pois o seu desenvolvimento passou por diversas áreas de negócio, exigindo uma qualificação dentro dessas categorias ou ramos da Inteligência.

Categorias de Inteligência

A Inteligência pode receber classificação ou ser determinada de acordo com a sua categoria.  Em ambos os casos, ela está ligada diretamente ao seu escopo, por isso podemos elencar algumas categorias de Inteligência. 

Inteligência Militar

De acordo com o Ministério da Defesa, Inteligência Militar é: atividade técnico-militar especializada, permanentemente exercida, com o objetivo de produzir conhecimentos de interesse do Comandante de qualquer nível hierárquico e proteger conhecimentos sensíveis, instalações e pessoas das Forças Armadas contra ações realizadas ou patrocinadas pelos serviços de Inteligência oponentes e/ou adversos (IP30-01, Apud Gonçalves, 2010, p. 24).         

Inteligência Financeira

De acordo com Joanisval Brito Gonçalves, em seu livro “Atividade de Inteligência e Legislação Correlata” (2010, p. 32), a Inteligência Financeira é o conjunto de ações de inteligência voltadas à identificação de delitos financeiros, pessoas, organizações e informações a eles relacionados e produção de conhecimento com vistas ao combate a esses ilícitos e neutralização das atividades de pessoas e organizações.

Segundo Gonçalves, a preocupação com a Inteligência Financeira cresceu após os atentados de 11 de setembro de 2001, quando foi observado que os mesmos mecanismos para o financiamento de organizações criminosas também eram utilizados para o financiamento do terrorismo. 

Isso mostra a importância dessa área de conhecimento, porém ela só trará resultados se houver cooperação internacional.

Inteligência Fiscal

Ela difere da Inteligência Financeira, pois tem seu foco na identificação e investigação de delitos contra a ordem tributária, atuando na busca do dado negado, ou seja, daquilo que o contribuinte deixou de declarar.

Apesar de pouco citada, a Inteligência Fiscal não é ofício dos mais recentes. Vale lembrar do criminoso Al Capone, que atuou nos Estados Unidos na década de 1920, e que conseguiu escapar da Justiça até que foi acusado e condenado, em 1931, por fraude fiscal, graças às ações de um grupo de Departamento do Tesouro (Gonçalves, 2010, p. 34).

Inteligência Estratégica

A Inteligência Estratégica está diretamente ligada ao plano estratégico das organizações, suas políticas e diretrizes. Segundo a definição no relatório Martre, referência na França: “a inteligência estratégica pode ser definida como o conjunto das ações coordenadas de busca, tratamento e distribuição, para uso, da informação útil para os atores econômicos. Elas são feitas dentro da lei com todas as garantias para a proteção do patrimônio da empresa, nos melhores prazos e custo. A informação útil é a que é precisada pelos diferentes níveis de decisão da empresa ou da coletividade, para elaborar e pôr em prática de maneira coerente as estratégias e táticas necessárias para cumprir os objetivos da empresa para melhorar o posicionamento dela no ambiente competitivo. Estas ações, na empresa, se ordenam em um ciclo sem interrupção que gera uma visão compartilhada dos objetivos da empresa”.

Gonçalves (2010, p. 38) define como Inteligência Estratégica “a atividade de uma expressão de Inteligência que tem implicações a longo prazo, geralmente vinculada a formulação de cenários prospectivos”.

Inteligência Policial

Além da Inteligência governamental, existe a Inteligência policial voltada para questões táticas de repressão e investigação de ilícitos e grupos infratores. Esta Inteligência está a cargo das polícias estaduais, civis, militares e da polícia federal. 

Operações de Inteligência Policial, conforme estabelece o Manual de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal do Brasil, são “o conjunto de ações de inteligência policial que empregam técnicas especiais de investigação, visando a confirmar evidências, indícios e obter conhecimentos sobre a atuação criminosa dissimulada e complexa, bem como a identificação de redes e organizações que atuem no crime, de forma a proporcionar um perfeito entendimento sobre seu modus operandi, ramificações, tendências e alcance de suas condutas criminosas”.

Portanto, ela atua na prevenção, obstrução, identificação e neutralização das ações criminosas com vistas à investigação policial e ao fornecimento de subsídios ao Poder Judiciário e ao Ministério Público nos processos judiciais. Buscam-se informações necessárias que identifiquem o exato momento e lugar da realização de atos preparatórios e de execução de delitos praticados por organizações criminosas, obedecendo-se aos preceitos legais e constitucionais para a atividade policial e garantias individuais. 

Inteligência Empresarial 

 

De acordo com Daniela R. Teixeira, publicado na Rede de Valor para Inteligência Empresarial, Revista da ESPM, v. 16, n. 1, p. 80-90, 2009: pode-se definir a Inteligência Empresarial como a capacidade de uma empresa para capturar, selecionar, analisar e gerenciar as informações relevantes para a gestão do negócio com os seguintes objetivos:

 

-    Inovar e criar conhecimento.

 

-    Reduzir riscos na tomada de decisão e evitar surpresas.

 

-    Direcionar, assertivamente, os planos de negócios e a implementação de ações.

 

-    Criar oportunidades de negócios.

 

-    Apoiar o desenvolvimento de produtos/serviços com uma base de informação confiável, eficiente e ágil.

 

-    Monitorar, analisar e prever, eficientemente, as questões relacionadas ao core business.

 

-    Gerar valor aos negócios.

 

Portanto, a Inteligência Empresarial não se limita à tecnologia, assumindo posição de destaque na tomada de decisão estratégica de diversas categorias de usuários como executivos, gerentes e analistas.

 

Inteligência Competitiva

 

Segundo Elizabeth Gomes e Fabiane Braga, no livro “Inteligência Competitiva – Como Transformar Informação em um Negócio Lucrativo”, (2001, p. 91), o início da Inteligência Competitiva no mundo se deu com o fim da Guerra Fria, quando os espiões ficaram “desempregados” e perceberam que utilizar suas habilidades de coletar e tratar informação, agora de forma ética e legal daria às organizações uma forte vantagem competitiva.

 

Na década de 1990, com a abertura do mercado às empresas estrangeiras, as organizações brasileiras, acostumadas com a intervenção governamental, se viram despreparadas para enfrentar no mesmo nível a forte concorrência internacional, visto que as subsidiárias importavam das filiais seus modelos de Sistemas de Inteligência Competitiva estando mais bem preparadas que as organizações nacionais. Nessa época, a imagem da Inteligência Competitiva, por ser normalmente conduzida dentro das organizações por ex-funcionários do serviço de inteligência ou militar, estava relacionada com a espionagem industrial em vez de uma legítima e ética pesquisa de informações. Esse quadro e modificou e hoje vemos um aumento de interesse nessa disciplina pelas organizações, que desejam implantar Sistemas de Inteligência Competitiva e, principalmente, direcionar esse conhecimento para formação de profissionais capacitados na área. 

 

Elaine Coutinho Marcial e Raul José dos Santos Grumbach, no livro “Cenários Prospectivos: Como Construir um Futuro Melhor” (2010, p. 39) referem-se a Inteligência Competitiva, como o mesmo processo utilizado pela atividade de Inteligência de Estado, que pode gerar grande benefício aos negócios. Para esses autores, Inteligência Competitiva é uma atividade de Inteligência especificamente adaptada para o mundo dos negócios.

 

A ABRAIC – Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva define Inteligência Competitiva como sendo um processo sistemático e ético que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir a tomada de decisão a agir proativamente, bem como proteger o conhecimento sensível produzido. Caracteriza-se pela produção de informações acionáveis (ou seja, inteligência) que não são facilmente obtidas, por estarem ocultas e/ou desconexas, ou camufladas, ou mesmo distorcidas por interesse de quem as produziu.

Um resumo conceitual sobre Inteligência Competitiva pode ser extraído do livro do Dr. Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, “A (IN) Segurança nas Redes Empresariais” (2002, p. 61), quando cita: “a inteligência competitiva não pode ser composta de um único conjunto de conceitos, mas o que há de comum entre todas as abordagens hoje existentes entre os vários autores é a sua agregação de valor à informação. Por esta razão, é que a inteligência competitiva possui uma associação explícita com os sistemas de planejamento e administração estratégica”. 

 

Conclusão

 

Como pudemos observar nesses breves exemplos citados de autores consagrados, a Inteligência atua em diversas áreas, podendo ser para o Estado até pequenas empresas, ou seja, a capacidade da atividade de Inteligência pode ser adaptada a muitas áreas, sempre buscando conhecimento para apoiar as decisões. 

 

Muitas outras áreas que não foram citadas aqui, mas que atuam com atividade de Inteligência que possuem processos semelhantes, os quais, a partir de uma necessidade, fazem a coleta das informações, analisam e disseminam para os decisores. Lembrando que na vida empresarial, seja de qualquer tipo, a Inteligência não deve ser confundida com espionagem, pois a Inteligência tem suas ações pautadas na ética e na legalidade.

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