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Âncora 1

PONTO DE VISTA

Riscos político, econômico e fiscal levam o brasil a uma incerteza crítica: naufrágio moral   

Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, CEGRC, CIEAC, CIEIE, CPSI, CIGR, CRMA, CES, DEA, DSE, MBS

29/10/2021

O Brasil vive hoje uma das piores incertezas críticas destes últimos anos. Depois de uma grande evolução, o País regride ao século passado e começa a criar mais uma geração de miseráveis. Isso mesmo, uma nova geração de miseráveis. Os últimos levantamentos mostram que existem hoje, neste nosso Brasil varonil, cerca de 20 milhões de famélicos, desnutridos, esfomeados ou lazarentos. Palavras duras, mas que, infelizmente, são reais.

Voltam-me à mente as imagens do “homem-caranguejo” (identificado nos mangues de Recife pelo médico pernambucano Josué Apolônio de Castro) e do “homem-gabiru” (como ficou conhecido o trabalhador rural Amaro João da Silva, 49 anos, em outubro de 1991, após aparecer em uma reportagem da Folha. Ele voltou a aparecer no mês seguinte, como entrevistado das "páginas amarelas" da revista "Veja"). Silva, com 1,35 m de altura, transformou-se num símbolo da miséria do Nordeste, vítima do nanismo provocado pela desnutrição. Gabiru é uma espécie de rato e passou a ter, na linguagem comum, o significado de pessoa de baixa estatura.

Infelizmente, as imagens que assustaram os brasileiros na década de 90 voltam em 2021, agora com outra roupagem, outro vestuário. As imagens recentes de pessoas catando restos de carne, vasculhando o lixo do Mercado Municipal de SP ou disputando comida estragada em frente ao CEAGESP são de deixar qualquer brasileiro atônito.

 

Levantamento realizado em dezembro de 2020 pela rede PENSSAN, com apoio do Instituto Ibirapitinga, em parceria com a ActionAid Brasil, FES-Brasil e Oxfam Brasil, todas elas organizações não governamentais, mostrou que a situação se deteriora desde 2015, quando o Brasil deixou o Mapa da Fome da ONU, voltando a níveis anteriores a 2004. Maitê Gauto, gerente dos programas da Oxfam Brasil, afirma que no Brasil de hoje faltam políticas públicas e que com a pandemia o quadro vem se agravando de forma exponencial. Em 2018 havia 10 milhões de esfomeados. Nestes últimos três anos, o número praticamente dobrou e mais da metade da população sofre com falta de comida. Pode bem ser aqui em Pindorama o novo epicentro da fome no mundo. Os integrantes da extrema direita irão dizer que são dados fabricados, inventados, em suma: informações manipuladas pela esquerda. Vamos acordar, pessoal. A ilha da fantasia de vocês está afundando e levando consigo os brasileiros. Isso é mesmo uma vergonha para o Brasil.

 

Essa vergonha é fruto, sobretudo, do trabalho (ou falta de trabalho) de um governo inepto e irresponsável. Vamos acompanhar os fatos: o mercado já enxerga juros de até 11% em 2022, resultado da manobra, ou melhor, da fraude moral, de furar o teto de gastos; as instituições financeiras subiram suas previsões para a Selic; e a Bolsa fechou a semana com uma queda espetacular de 7,28%.

 

Nosso cenário econômico só tende a ficar ainda pior. Não há outra saída quando o governo não faz a parte dele, que seria pura e simplesmente reduzir as despesas. Manter juros altos, entre 10% e 11%, para conter a inflação significa uma trava no crescimento econômico. Bastaria já termos hoje uma projeção pífia do PIB para o ano que vem, de zero a 0,5%, em razão, sobretudo, da quebra do regime fiscal.

Isso é muito baixo, ou melhor, isso é nada. Como as médias e pequenas empresas sobreviverão? Teremos mais empregos? Como? Sexta-feira, dia 22 de outubro de 2021, o Índice de Condições Financeiras da ASA Investments chegou a 2,6, nível superior a 18 de março de 2020, quando atingiu 2,3, mês em que a pandemia teve início. Quando está negativo, o ICF mostra condições financeiras favoráveis à atividade econômica. Se positivo, aponta o contrário.

 

Na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, já deram entrada 68 cancelamentos de ofertas públicas iniciais de ações – IPOs em inglês. Analistas apontam que a proposta de mudança do teto dos gastos, incluindo contabilidade criativa e fraude moral, foi a causa da forte queda na bolsa de valores e da disparada do dólar. Foi-se embora a disposição das empresas para levantar recursos com a abertura de capital, particularmente aquelas de porte médio, que tinham a intenção de captar menos de 1 bilhão de reais.

 

Estamos encurralados, emparedados pela irresponsabilidade do governo, que vive na ilha da fantasia, tendo como único objetivo a sua reeleição. Hipócrita, mentiroso, fraudador moral, é como podemos (des)classificar este governo. Eleva gastos sem ter recursos, coloca o Brasil no caminho quase certo da estagflação, sem crescimento e com inflação nas alturas. Ou seja, estagnação no Brasil, pelo acesso ao poder de um bando, de uma camarilha governamental viciada em dinheiro público.

 

Raymundo Faoro, em Os Donos do Poder (1ª ed. 1958), livro ao qual tive acesso pelas mãos de meu pai quando tinha 17 ou 18 anos de idade, já afirmava que nossa única ideologia era o patrimonialismo. O programa de governo que funciona é manter o status quo, sempre, é claro, com uma nova roupagem. O Brasil é consequência dessa moldura, no interior da qual o povo brasileiro é manipulado e explorado.

É uma verdadeira lástima ter que escrever isso. Hoje, com dor no coração, penso que errei muito ao não tirar meus filhos daqui. Talvez ainda haja tempo para meus netos. Quem sabe?   

Antonio Celso Ribeiro Brasiliano

Publisher da Revista Gestão de Riscos e presidente da Brasiliano INTERISK

abrasiliano@brasiliano.com.br

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