Risco Bolsonaro: como a má gestão da pandemia empurra o Brasil para
a instabilidade
Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, CEGRC, CIEAC, CIEIE, CPSI, CIGR, CRMA, CES, DEA, DSE, MBS
28/06/2021
Qualquer brasileiro minimamente ligado aos acontecimentos do Brasil pode perceber de forma clara e límpida que existe algo muito estranho acontecendo. Para isso, basta olhar os principais jornais, revistas e a internet. Quando leio que nossas instituições estão em colapso, que o Exército Brasileiro perdeu a disciplina e que os jogadores da Copa América deveriam se amotinar para não jogar, pergunto-me: o que é isto? Uma verdadeira insanidade ou simplesmente nossa nave está sem comandante?
Uma das provas desses desmandos é a nossa vergonhosa marca de mais 500 mil mortos pela Covid-19, tendo como pano de fundo o negacionismo do presidente da República, que deve, sim, ser responsabilizado, pois como presidente da nação brasileira negligenciou o tratamento de seu povo, em sua loucura megalomaníaca de acreditar em remédios sem eficácia comprovada. Gastou dinheiro da nação com essa loucura, fez picuinhas com o governador João Dória, de São Paulo, quando afirmou aos quatro ventos, na sua insanidade, que nunca iria comprar a Coronavac. Protelou o quanto pôde a aquisição de vacinas. No caso da Coronavac, chegou a ser peremptório, assegurando que “não ia fechar negócio e pronto”. Pagou com a língua. Teve que engolir suas palavras e pedir arrego, isso mesmo, pediu arrego ao estado de São Paulo para poder vacinar a nós, brasileiros, a um ritmo medíocre. Sem ela, a Coronavac, talvez não tivéssemos alcançado nem mesmo essa baixa taxa de vacinação. É uma barbárie.
Estamos sem comandante! Está claro como as instituições são subservientes e míopes quando querem. O Supremo Tribunal Federal faz vistas grossas a tantas afrontas. O Congresso, cooptado pelo centrão às custas de cargos e orçamentos secretos, nem dá bola.
Na manifestação em São Paulo, Bolsonaro dirigia uma moto com placa encoberta, parecendo um meliante, com capacete irregular e sem máscara. Multado, simplesmente disse que não vai pagar e pronto. Anarquia? Imagine se o povo faz o mesmo com relação aos impostos? Como fica o governo numa situação como essa? Onde está o presidente da República que tem que liderar seu povo pelo exemplo? Parece que nada aprendeu na sua formação de oficial, quando cursou a Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN. Uma frase lapidar do Marechal José Pessoa, idealizador da AMAN, encima o Pátio Tenente Moura (na minha época de cadete, no período de 1976 a 1979, chamava-se P3M – Pátio Marechal Mascarenhas de Morais), onde todos os dias os cadetes se perfilam para ir ao refeitório ou participar de alguma formatura ou evento. A frase “CADETE! IDES COMANDAR, APRENDEI A OBEDECER” é significativa, ressoa na alma do cadete, pois como futuro comandante de tropa deverá seguir as premissas pétreas do Exército Brasileiro: disciplina e hierarquia. O messias esqueceu essa premissa pétrea. Parecemos a Venezuela, quando Hugo Chaves, também ex-integrante do Exército Venezuelano, para manter o apoio da instituição, adulou, subornou e promoveu inúmeros generais, ao ponto de haver “mais generais que cabos”. Um absurdo. Uma vergonha. Parece mesmo que vivemos na República das Bananas.
Ficou evidenciado o tão famoso gabinete do ódio, que joga aos leões quem não quer seguir sua cartilha. Assim fizeram com o general Santos Cruz, o primeiro a cair. Militar de respeito, com caráter inabalável, justo, primeiro militar brasileiro a comandar tropas da ONU no Congo em situações de combate, um homem reto em suas decisões. Caiu atirando, não se rendeu aos desvaneios palacianos. Um exemplo a seguir!
A CPI da Covid-19 lança luzes sobre uma infinidade de desvios de atuação do governo brasileiro, incluindo um gabinete paralelo, mas meu medo é que vire “pizza”. O mandatário nunca é responsabilizado. Faz o que faz e nada acontece. As autoridades constituídas estão todas amuadas e receosas de contrariar o chefe. Não vi nada de igual neste nosso Brasil. Votei nele na esperança de que fosse cumprir, pelo menos, o lado moral, uma de suas promessas. Que decepção! Será que não enxerga o que está fazendo no Brasil? Creio que não. O poder cega!
Eduardo Gianotti, economista, com doutorado em Cambridge e autor de uma série de livros, sendo o mais recente “O Anel de Giges”, disse numa entrevista ao Jornal Valor, n° 5274, dos dias 19,20 e 21 de junho: “Acho que corremos um risco institucional se esticarmos essa corda até o limite com dois candidatos que despertam sentimentos muito violentos a favor e contra”. Também creio que nosso horizonte não é claro. Pelo contrário, teremos problemas pela frente. Espero estar errado, pois as consequências poderão ser desastrosas para o povo brasileiro.
Bolsonaro talvez não enxergue que ao incentivar a anarquia, como um todo, dá um belo tiro no pé, pois o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Arrisca sua autoridade, se é que tem alguma moral para tê-la. Na minha visão, Bolsonaro é um niilista, sem visão política coerente e desprovido de qualquer princípio que não seja a própria sobrevivência. Uma pena, pois perdemos mais uma vez a chance de tornar o Brasil um país sério e respeitado pelo mundo.
Hoje, pela má gestão da crise sanitária, viramos um País de quinto mundo, excluído do clube e enxotado para o subsolo, lugar dos incompetentes. Hoje o Brasil possui como troféu para exibir ao mundo os números nefastos da pandemia:

Gráfico 1: Infectados e Óbitos do Brasil - Dados vergonhosos
Fonte: Brasiliano INTERISK

Gráfico 2: Matriz de Monitoramento – o Brasil possui todos os estados com taxa de ocupação de UTI acima de 71%. Isso significa que o Brasil está com os 27 estados nos quadrantes rosa ou vermelho. Situação nada confortável. Estamos em estado crítico.
Fonte: Brasiliano INTERISK

Gráfico 3: Interpretação de cada situação: segundo o próprio Ministério da Saúde, os estados no quadrante rosa deveriam ter distanciamento social ampliado e os plotados no quadrante vermelho, bloqueio total (lockdown). Ou seja, 15 estados estariam em lockdown. Fonte: Brasiliano INTERISK

Gráfico 4: Matriz de Cruzamento da RT versus a Matriz de Monitoramento, onde se demonstra que, com a taxa média de transmissão de 1,04, 17 estados do Brasil (63% deles), estão localizados no quadrante vermelho e 10 estados (37% deles), estão no quadrante laranja, com taxa de transmissão abaixo de 1. Situação grave. Fonte: Brasiliano INTERISK

Gráfico 5: Interpretação da Matriz de RT x Matriz de Monitoramento. No vermelho, 67% dos estados do Brasil deveriam estar em distanciamento social ampliado e 37% em distanciamento social seletivo avançado. Situação grave em função do percentual alto do Brasil no quadrante vermelho. Fonte: Brasiliano INTERISK
É um quadro extremamente crítico e grave para o País, pois somente 24.390.876 brasileiros foram vacinados com as duas doses, o que equivale a 11,52% da população. Muito pouco ainda para um país com a extensão do Brasil. Estamos numa nau sem comandante, infelizmente.
No quesito risco político, ficamos numa situação de instabilidade em razão das atitudes do presidente da República. Registre-se ainda mais um fator complicador: a matriz energética, pois possivelmente o Brasil passará por um apagão, tendo que enfrentar um racionamento de energia. A retomada da economia ainda não aconteceu, embora o nosso PIB tenha dado um soluço. A área do agronegócio é que está suportando o aumento do PIB, o que não se reflete na área urbana, nos setores industrial e comercial do Brasil. Nós, da Brasiliano INTERISK, classificamos o Risco Político Brasileiro como muito alto, tendo em vista a análise realizada:


Gráfico 6: Análise de Risco Político. Fonte: Brasiliano INTERISK
O risco político, do jeito que está, espanta investidores externos sérios e abre caminho para aqueles do tipo abutres, que só comem carniça! O Brasil e os brasileiros saem perdendo.
A interconectividade entre os riscos mudou em função da entrada no tabuleiro do Risco Político da vacinação em massa no Brasil, que hoje é um Risco Positivo. Ele pode influenciar na evolução para condições amenas ou então piorar o quadro de instabilidade. Depende dos resultados da vacinação.
A vacinação em massa no Brasil irá imunizar a população, fazendo com que a crise pandêmica possa diminuir bastante em consequência da influência na economia e na política, que podem voltar a crescer. Estes três riscos: sanitário, político e econômico se influenciam reciprocamente, tornando o ambiente instável. Dependendo do resultado, eficaz ou não, da vacinação em massa no Brasil, a instabilidade pode ser reduzida ou aumentada.
Portanto, a entrada da vacinação em massa no Brasil é um risco Motriz. Esse evento tem potencial para exercer elevado grau de influência, tanto para melhorar as condições econômicas e políticas (que, por sua vez, influenciarão os riscos plotados no quadrante III, que são consequentes), quanto para degradá-las, caso os resultados não sejam os esperados. Nesse último caso, os riscos poderão ser materializados pelo lado negativo, o que complicaria muito nosso cenário político-econômico-social.

Gráfico 7: Matriz de Impactos Cruzados – Interdependência
Fonte: Brasiliano INTERISK

Gráfico 8: Listagem dos Riscos - Classificação da Interdependência
Fonte: Brasiliano INTERISK
A Matriz de Impactos Cruzados, fruto do teorema de Bayes das probabilidades condicionais, deixa claro para nós e para o governo brasileiro que a vacinação em massa no Brasil é nossa única saída para mitigar os impactos socioeconômicos da pandemia.
Por essa razão, a CPI da Covid-19 deve, sim, responsabilizar o governo brasileiro, na figura do presidente Bolsonaro, pois o flagrante desleixo com relação à aquisição de vacinas foi um risco assumido. Ou seja, o governo deveria saber que não há desculpas de espécie alguma para afirmar que não sabia dos riscos. A aposta foi feita tomando por pressuposto a chamada imunização de rebanho. As possíveis consequências deveriam, no mínimo ter sido mapeadas, mas nem isso aliviaria a responsabilidade dos tomadores de decisão. Risco Assumido é um crime doloso porque os autores conhecem as consequências e mesmo assim decidem arriscar. Mais grave ainda, o que estava em jogo no caso em estudo eram simplesmente as vidas de centenas de milhares de brasileiros.
Espero que as instituições saiam da sua casca e assumam os papéis que lhes reserva a Constituição Federal. Desejo que elas não fiquem mais subservientes ao “Grande Irmão”, como escreveria George Orwell em seu livro 1984. Torço para que possamos passar tranquilos 2021 e principalmente 2022, embora tenha comigo que a transposição não será nada fácil.
Vamos torcer para dar certo pelo bem dos brasileiros, incluindo meus filhos e netos.
Boa Leitura!
Antonio Celso Ribeiro Brasiliano
Publisher da Revista Gestão de Riscos e presidente da Brasiliano INTERISK


