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A importância do programa “Município mais Seguro” da SENASP/MJSP e o papel estruturante dos municípios no sistema único de Segurança Pública (SUSP)

Armando Nascimento
Doutorando em Design Organizacional, Mestre em Planejamento e Gestão Pública, Especialista em Estratégia e Sistema de Segurança Pública. Pesquisador LABGRC-CCSA/UFPE, NICC/UFPE e LACAI-CAC/UFPE. Professor do Master Business Security - GRC e de Administração Pública. Membro dos Comitês ABNT: Governança Pública; Governança de Organizações; Cidades e Comunidades Sustentáveis; Industria 4.0: Gestão de Projetos; Programa e Portfólio e Gestão Risco.

Novembro - Dezembro | 2025                                                                                                                                                    

1. Introdução

O cenário contemporâneo da segurança pública no Brasil exige respostas coordenadas, integradas e sistêmicas. A violência e o crime se manifestam nos territórios, nos bairros, nas ruas — ou seja, no espaço onde a vida das pessoas acontece: o município. Nesse contexto, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP/MJSP) lança o programa “Município Mais Seguro”, uma iniciativa estratégica que materializa o entendimento de que o município é o baldrame do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).

Mais do que um programa de apoio, trata-se de um movimento de reestruturação do papel municipal na prevenção da violência e na consolidação de uma governança moderna, inteligente e baseada em evidências.

 

2. Municípios como baldrame do SUSP

O SUSP, instituído pela Lei nº 13.675/2018, exige a articulação entre União, estados e municípios, de forma integrada e colaborativa. Contudo, a participação municipal sempre foi assimétrica, muitas vezes subvalorizada, sobretudo na prevenção.

O Município Mais Seguro representa uma inflexão histórica: reconhece que a primeira linha de cuidado, prevenção e intervenção é municipal.
 

É no município que:

  • A vulnerabilidade social se materializa;

  • As políticas urbanas influenciam diretamente a dinâmica criminal;

  • A guarda municipal opera no espaço público;

  • A comunidade exige respostas rápidas e integradas;

  • Os serviços de assistência social, saúde, educação e mobilidade têm contato direto com fatores de risco e proteção.

 

Assim, se o SUSP é um edifício institucional, os municípios são seu alicerce — não apenas executores, mas protagonistas.

 

3. O Programa “Município Mais Seguro”

O programa é estruturado para fortalecer capacidades locais e induzir um novo modo de governar a segurança pública municipal. Ele se apoia em dois pilares fundamentais:

Pilar 1 — Fortalecimento da Governança e Gestão Municipal de Segurança Pública

Este pilar apoia a construção da capacidade institucional dos municípios, permitindo que eles planejem, coordenem e gerenciem políticas de segurança pública de forma integrada e estratégica. Envolve:

  • Produção de diagnósticos municipais de segurança;

  • Elaboração do Plano Municipal de Segurança Pública, alinhado ao SUSP;

  • Criação e modernização de estruturas de governança (secretarias, câmaras técnicas, comitês);

  • Implantação de observatórios municipais de segurança;

  • Desenvolvimento de núcleos municipais de análise de dados;

  • Integração da segurança com políticas sociais, urbanísticas e territoriais.

 

Esse pilar representa a base técnica e institucional que sustenta qualquer política pública moderna de segurança.

 

Pilar 2 — Qualificação, Estruturação e Profissionalização das Guardas Civis Municipais (GCMs)

O segundo pilar reconhece que a Guarda Municipal é a principal força de segurança no território sob responsabilidade direta do município. Ele busca fortalecer:

  • A formação inicial e continuada das GCMs;

  • A construção e padronização de protocolos operacionais;

  • A modernização de equipamentos, tecnologias e sistemas de comunicação;

  • A implantação de corregedorias, ouvidorias e estruturas de controle internas;

  • A capacitação para policiamento comunitário, mediação de conflitos e prevenção social;

  • A integração operacional da GCM às diretrizes do SUSP.

 

Esse pilar garante que a atuação da GCM seja qualificada, profissional e alinhada a uma política pública de prevenção e proteção cidadã.

4. Fortalecimento da Gestão Municipal de Segurança Pública

O fortalecimento da Gestão Municipal de Segurança Pública representa um divisor de águas. O Programa busca apoiar municípios na construção de competências institucionais essenciais para uma política de segurança pública moderna, eficiente e contínua.

4.1. Diagnóstico de Segurança Pública

A elaboração de diagnósticos é o primeiro passo para formular políticas eficazes. Isso inclui:

  • Levantamento de dados sobre criminalidade e violência;

  • Análise socioterritorial;

  • Identificação de fatores de risco e proteção;

  • Cartografia da violência;

  • Integração de bancos de dados e sistemas.

 

Um município sem diagnóstico trabalha no escuro; com diagnóstico, ganha direção, prioridades e critérios técnicos.

4.2. Plano Municipal de Segurança Pública

Com base no diagnóstico, o programa incentiva a formulação de Planos Municipais de Segurança, alinhados às diretrizes nacionais e às especificidades locais.
 

Um plano bem elaborado promove:

  • Visão de futuro;

  • Metas claras e mensuráveis;

  • Ações integradas com outras políticas;

  • Sustentabilidade institucional e continuidade administrativa.

 

4.3. Estruturas de Governança e Gestão

 

O Programa apoia a criação ou modernização de estruturas fundamentais, como:

  • Secretarias municipais de segurança;

  • Câmaras de gestão integrada;

  • Núcleos de prevenção e de análise criminal;

  • Instâncias permanentes de tomada de decisão baseada em evidências.

 

Governança é o coração do SUSP em nível municipal.

 

4.4. Observatórios e Núcleos de Análise de Dados

 

Os observatórios devem funcionar como "centrais de inteligência municipal", qualificando a produção e o uso de dados para orientar ações preventivas, acompanhar indicadores e avaliar resultados.

Essa é uma inovação necessária: dados são o combustível das políticas públicas contemporâneas.

 

5. Qualificação e Estruturação das Guardas Civis Municipais (GCMs)

O Programa foca na Guarda Civil Municipal, que tem crescido em relevância e responsabilidades no Brasil, alinhada às atribuições previstas no Estatuto Geral das Guardas Municipais (Lei nº 13.022/2014).

 

O Programa deve apoiar:

  • Qualificação profissional e formação continuada;

  • Modelagem de protocolos e procedimentos operacionais;

  • Aquisição de tecnologias de monitoramento e comunicação;

  • Adequação institucional, incluindo corregedorias e ouvidorias;

  • Capacitação para atuação em prevenção, mediação de conflitos e policiamento comunitário.

 

A GCM não é apenas força de patrulhamento — é estrutura fundamental do modelo de prevenção municipal.

6. Policiamento Comunitário como eixo transversal

O programa tem como ação de fundo o policiamento comunitário, abordagem que reforça:

  • proximidade com a comunidade;

  • confiança entre agentes e cidadãos;

  • resolução colaborativa de problemas;

  • redução de conflitos;

  • prevenção orientada ao território.

 

Esse eixo transversal conecta os dois editais, uma vez que tanto a governança municipal quanto as GCMs se beneficiam diretamente dessa filosofia de atuação.

 

7. Impactos esperados

 

O Município Mais Seguro deve gerar impactos estruturais:

7.1. No Município

  • Elevação da capacidade técnica e institucional;

  • Adoção de políticas baseadas em dados;

  • Maior articulação intersetorial;

  • Redução de crimes e violências por meio da prevenção;

  • Melhoria da percepção de segurança.

 

7.2. No Estado

  • Municípios mais fortes colaboram para melhorar a gestão estadual;

  • Redução de pressões sobre polícias estaduais;

  • Maior integração entre forças e políticas.

 

7.3. No País

  • Consolidação do SUSP como sistema tripartite;

  • Revalorização do papel local na política nacional de segurança;

  • Modernização das políticas públicas em escala.

 

8. Considerações Finais

O programa Município Mais Seguro representa mais que um investimento financeiro: é um investimento estratégico, institucional e histórico na consolidação do papel municipal dentro do SUSP. Ele afirma que segurança pública não é apenas “problema dos Estados”, mas responsabilidade compartilhada, onde os municípios deixam de ser espectadores e assumem seu papel de protagonistas.

 

Municípios fortes → SUSP forte → Brasil mais seguro.

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