Houve quebra de paradigma nas questões antifraude e corrupção pelos brasileiros?
Realidade ou ficção?
Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, CIGR, CRMA, CES, DEA, DSE, MBS
Doutor em Science et Ingénierie de L’Information et de L’Intelligence Stratégique, pela
Université East Paris - Marne La Vallée – Paris – França, é presidente da Brasiliano INTERISK.
abrasiliano@brasiliano.com.br
Estamos no fechar das luzes do ano de 2017 e, se olharmos para o túnel do tempo, iremos verificar um grande avanço nos processos, cultura e instrumentos antifraude, anticorrupção e lavagem de dinheiro que as empresas estão implantando, e, podemos concluir que o clima e o contexto no Brasil estão mudando.
Podemos começar a listar as prisões de políticos e empresários tidos como inatingíveis e blindados, jogados nas celas de presídios federias e estaduais por crimes de corrupção e fraudes. Fato inédito que fez com que a política brasileira e os modelos de negócio das grandes empresas de infraestrutura sofressem uma ruptura exponencial.
Lembro, há 28 anos, em 06 de janeiro de 1989, quando estava montando a empresa e tinha acabado de pedir demissão do Exército Brasileiro, largando uma carreira segura, para cair de cabeça neste mundo VICA - volátil, incerto, complexo, ambíguo. Neste janeiro de 89, eu estava assistindo o final da novela Vale Tudo, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres. A torcida, da grande maioria dos “noveleiros de plantão” era a prisão do então empresário corrupto e fraudador, na figura do ator Reginaldo Faria, e de sua mulher, a atriz Cássia Kiss, assassina da famosa personagem Odete Roitman, a atriz Beatriz Segall. Qual não foi a surpresa geral e a estupefação quando o quadro final da novela sendo o casal de pilantras, dentro de seu jatinho, recheado de dólares, dando a volta pelo famoso Pão de Açúcar na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e o personagem do Reginaldo Farias fugindo para o exterior, despede-se do Brasil com o símbolo de várias bananas!!.
Aquela imagem percorreu o Brasil como um rastilho de pólvora e no final da década de 1980, embora não tivesse clareza alguma, seria mesmo impossível um empresário do porte do personagem acabar atrás das grades.
Naquela época não havia cobrança da sociedade, os instrumentos de investigações para coletar nexos causais e respectivas provas eram inexistentes, além dos crimes de colarinho branco isoladamente tinham penas insuficientes para prender alguém tido como “blindado” pelo esquema do modelo de negócio.
Hoje, 28 anos depois, talvez uma regravação do final seria outro, com os personagens malandros sendo presos e condenados. Em épocas de lava-jato os equemas do empresário corrupto e toda sua estrutura com a linha decisória envolvida poderiam ser revelados em delação premiada. A prisão preventiva ser decretada durante as investigações por crime de corrupção, desvio e ocultação de dinheiro. E ainda ser imputado o crime de lavagem de dinheiro, que na época ainda não existia.
Em uma segunda hipótese, caso conseguisse fugir, teria rastreamento de contas e bens, tanto no nome do empresário como de laranjas, além de bloqueio das respectivas contas e bens, através de troca de informações com outros governos e um pedido de extradição.
Isto significa que houve sim mudança de cultura, envolvendo todos os atores, sociedade, juízes, promotores, policiais, políticos e empresários.
Enfim, houve uma alteração de paradigma. Se vamos conseguir virar a mesa, isto é outra história, mas um grande fator motriz impulsiona esta manutenção e a virada da mesa, a vigilância social, a cobrança e pressão dos cidadãos brasileiros. Este sim é o fator diferenciador da mudança de paradigma para que as próximas gerações possam usufruir um Brasil transparente e mais justo!
Boa leitura !