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ANÁLISE

Âncora 1

A estratégia do contexto à

Inteligência em
Gestão de Riscos

Dra. Roseni Teresinha Florencio
Médica pela Universidade Federal do Paraná. Mestre em Pneumologia pela Escola Paulista de Medicina.
Cursando MBA de Gestão de Riscos Corporativos pela Brasiliano INTERISK em Curitiba.

Estratégia é conceitualmente no mundo empresarial a forma de conduzir um negócio. Para o alcance dos objetivos da organização, é necessário ter foco e conhecer estrategicamente os caminhos a percorrer, bem como agregar valor às operações da empresa.

A estratégia deve estar alinhada ao propósito – missão e visão – e valores da empresa, sendo que estes não podem dificultar os negócios da instituição. Deve ser considerado ainda o apetite ao risco da organização, os recursos necessários e o retorno previsto do investimento. O que permitirá o sucesso dos objetivos será a integração e o equilíbrio de desempenho dos diversos departamentos, setores e áreas, focando nos riscos, com gestão e monitoramento, garantindo assim o desenvolvimento e o êxito das operações.


O âmbito atual dos negócios vivencia a “Quarta Revolução Industrial”, tecnológica, disruptiva e ágil. As organizações não podem perder o foco nem as janelas de oportunidades. As respostas precisam ser rápidas, ágeis e criativas, oferecendo coisas novas o tempo todo. Não se pode dogmatizar! Mostra-se necessário se reinventar e mudar o modelo de negócio se for necessário. O mais importante é ter iniciativa, prever, olhar para frente e arriscar! A estratégia trabalha com imprevisibilidade, maleabilidade e aridez; a empresa tem que ser ambidestra – ter flexibilidade, equipe motivada e capacitada. O gestor de riscos precisa pensar exponencialmente e digitalmente. Sua missão principal é se antecipar.


No mundo atual, é capital para as empresas minimizarem os efeitos dos riscos presentes e potenciais aos quais as organizações estão sujeitas – evitando perdas financeiras, crises e prejuízos à marca e imagem – e ampliar o aproveitamento de oportunidades de negócios. Saber administrar estes riscos interessa a toda a cadeia que as envolvem, desde proprietários, sócios, acionistas, fornecedores, parceiros comerciais, empregados, clientes, comunidade e até à sociedade em geral, e isso é essencial para impulsionar as habilidades da empresa frente à competitividade e assegurar sua sobrevivência.


Para gerir os riscos, não resolve dispor de um planejamento estratégico, que tantas vezes é de longo prazo e se restringe ao papel, mas sim, de um planejamento agregado às decisões estratégicas – gestão estratégica – que envolva os principais processos e a cadeia de valores, não perdendo o foco – objetivos principais da organização. O planejamento deve ser acompanhado de um sistema efetivo de gerenciamento de riscos corporativos. Esse processo precisa estar em constante movimento, evolução e mutação, como resposta às variáveis internas e externas que impactem as operações.


A estratégia em gestão de riscos visa a proteger o que é estratégico para a empresa, a essência do seu negócio, a sua atividade primária, aquilo que ela faz de melhor e que a torna singular; o negócio está vinculado à missão da organização, enquanto que a missão só o torna mais claro. Gerir os riscos significa conhecer se a empresa conta com objetivos estratégicos ou se conhece os fatores com poder de influência na realização desses objetivos. Portanto, a estratégia tem que estar alinhada à missão da empresa. Esta requer também um sistema de valores, a cadeia de agregação de valor ou a curva de valor, ferramentas fundamentais no planejamento estratégico.


Enfoques da estratégia em gestão de riscos


Para ampliar as oportunidades de sucesso nas abordagens estratégicas em gestão de riscos, é importante aplicar vários enfoques, interconectando-os, na dependência da situação e do contexto dos desafios a serem vencidos.


Neste cenário volátil, incerto, complexo e ambíguo – VICA – que se apresenta, é preciso pensar rápido, entender e acatar, agir e colaborar, pois muitas coisas estão interconectadas e são interdependentes. Os riscos podem impactar a estratégia dos negócios e objetivos da empresa, logo, eles devem ser antecipados por meio de estratégias adaptativas e visionárias. Com a gestão de riscos, a organização tem condições de estar mais preparada para prevenir, mitigar e corrigir os contratempos no trajeto para alcançar seus objetivos estratégicos. Tem-se então uma empresa mais flexível diante das incertezas e mais habilidosa para atingir suas metas, caracterizando a sua capacidade de ser “ambidestra”.


O planejamento estratégico – que visa a identificar o caminho a ser seguido pela empresa para integrá-la no seu ambiente de negócios, trazendo inovação e potencializando sua força para enfrentar a concorrência – só obterá sucesso se for realizado pelos gestores no topo da organização, ser de curto ou médio prazo, for seguido com vigilância constante das operações, das ações e dos riscos, além de  ter revisões no planejamento afim de não perder o foco ou oportunidades. Sendo assim, ele deverá ser eficiente, eficaz e efetivo.


A empresa deve ter foco nas competências essenciais e escolher a sua área de atuação, sempre com diferenciais, que de alguma forma as torne única, importante e que se destaque para o cliente. Isto quer dizer: defina com clareza qual é o seu negócio!


Dentre os modelos estratégicos mais conhecidos e aplicados pelas organizações estão o Modelo de Cinco Forças de Porter, o Oceano Azul, a Inovação Aberta, o Balanced Scorecard – BSC e o Canvas; no parágrafo a seguir, falaremos um pouco mais sobre o modelo de Paleta de Estratégias. Quanto às ferramentas auxiliares mais usadas na gestão estratégica, entre outras, temos a Matriz SWOT- FOFA – Força, Oportunidade, Fraqueza e Ameaça, 6 D’s, as Três Linhas de Defesa, os Cenários Prospectivos, além dos frameworks ISO 31000, ISO 31010, COSO I e COSO II EMR – Enterprise Risk Manegement, revisado em 2017.


Em “Sua Estratégia Precisa de Uma estratégia – Como Eleger e Colocar em Prática a Melhor Abordagem” (REEVES, HAANAES, SINHA, 2015), os autores comentam que, desde a criação da estratégia nos anos de 1960, tem havido um crescimento quase que exponencial de ferramentas e modelos de abordagens estratégicas dentre as quais os líderes das empresas podem optar, mas que não conversam entre si. Afirmam ainda que não há clareza sobre quando uma ou outra deve ser implantada, dificultando a escolha da abordagem correta. Daí a razão de terem criado um modelo de escolha unificado, a Paleta de Estratégias, visando a correlacionar diferentes abordagens conforme as circunstâncias e ambientes. Esta Paleta consiste em cinco abordagens arquetípicas, que podem ser aplicadas às inúmeras partes e fases de ciclo de vida da empresa, diferindo segundo três dimensões: previsibilidade, maleabilidade e aridez; são elas: Abordagem Clássica, Adaptativa, Visionária, De Formação e De Renovação. Neste modelo de estratégia unificado, os líderes encontram maior possibilidade de combinar e operacionalizar diferentes abordagens para diversos ambientes ou situações nas empresas.


A quem cabe comandar a estratégia em gestão de riscos?

 

Após passar por inúmeras fases, inclusive da criação de uma verdadeira “indústria” na especialização e formulação de estratégias para os mais diversos tipos e portes de organizações, atualmente se entende ser essencial que os líderes das empresas comandem esse processo, cascateando aos demais colaboradores as suas ações.  A estratégia é um caminho e deve dispor de um comando constante e dinâmico.


O principal desafio dos líderes da atualidade é saber escolher o melhor caminho para alcançar os objetivos, diante de um mercado rápido, ágil e criativo, onde não há possibilidade de dogmatizar sem o alto risco de fracassar. Para isso, as decisões devem ser lépidas e certeiras.
Montgomery (2012), em “O Estrategista – Seja o Líder de que sua Empresa Precisa”, leva à reflexão sobre a necessidade de se resgatar para os líderes, a função vital do estrategista, estando eles no topo da organização. A estratégia é um sistema de criação de valor que suporta a singularidade e a posição competitiva da empresa. Liderança e estratégia são inseparáveis, esclarece Montgomery. Outro conceito importante que ela destaca é que a estratégia e seu plano devem começar com um “propósito”; este enobrece, agrega valor e dá bons resultados inclusive financeiros à empresa, tornando-a singular e inspirando toda a sua cadeia de valor. O propósito está baseado no sistema de criação de valor, nominado de “Roda da Estratégia” (Figura 1).


Figura 1: Exemplo de Roda da Estratégia, baseado em Montgomery, 2012, p. 106

Inteligência em gestão de riscos

 

O objetivo principal do gerenciamento de riscos corporativos é gerar valor aos envolvidos na empresa, administrando as incertezas – riscos ou oportunidades –  que podem reduzir ou aumentar esse valor; a organização busca atingir seus objetivos e evitar danos e imprevistos no caminho.

Recentemente, BRASILIANO (2016) atualizou “Inteligência em Riscos – Gestão Integrada em Riscos Corporativos”, apresentando novos critérios e ferramentas que alinham e integram as três melhores e mais utilizadas práticas de mercado, ISO 31000, COSO I e COSO ERM, três conceitos num único framework. Esta é uma das poucas metodologias com esta configuração e que facilita aos gestores a sua aplicabilidade. Este é o Método  avançado de Gestão de Riscos Corporativos – Método Brasiliano, destacando que este método permite realizar uma criteriosa e completa  avaliação dos riscos de uma empresa, incluindo a priorização de ações conforme a criticidade e o apetite ao risco.

A nova função do gerenciamento de riscos corporativos – inteligência em riscos – alerta que as empresas devem ter uma visão holística em relação ao gerenciamento dos riscos, devendo os seus gestores terem conhecimento consolidado desses riscos nas esferas legal, financeira, operacional e estratégica, com departamento próprio responsável por essas avaliações (Departamento de Gestão de Riscos), dispondo de estrutura e processos que permitam o amplo e contínuo conhecimento desses riscos. Brasiliano salienta que esse é o principal desafio das empresas: integrar as disciplinas para que possam dispor da chamada Inteligência em Riscos Corporativos- IRC.


O gestor de riscos precisa ter inteligência em risco e levar aos diretores os riscos críticos e suas conexões, antecipando-os para a atuação preventiva e dando condições às empresas de ganhar velocidade e competitividade no mundo VICA, além de maior garantia à proteção da sua imagem e marca.


Para o tratamento dos riscos é fundamental o comprometimento da alta direção da empresa. É possível traçar as seguintes estratégias para tratar os riscos: evitar o risco, aceitar, reter, reduzir, transferir e/ ou compartilhar o risco.


Considerações finais


A estratégia em gestão de riscos é intrínseca ao planejamento estratégico, que hoje pode-se melhor nominar de gestão estratégica; isso precisa estar na determinação dos líderes, na filosofia, na cultura, nos processos de toda natureza e nas práticas cotidianas das instituições.


O planejamento estratégico só faz sentido se visar os melhores, mais velozes e eficazes decisões no futuro de curto e médio prazo. Ele deve ser projetado pelos líderes das organizações, utilizando modelos e ferramentas adequadas, incluindo cenários prospectivos, que auxiliarão a prever e inovar; é atitude pré-ativa, reduzindo as incertezas e ampliando as possibilidades de alcançar os objetivos da empresa.


As organizações necessitam implantar dentro do sistema de governança corporativa a gestão integrada de riscos, ampliando suas garantias, diante dos riscos estratégicos, legais, operacionais e financeiros, considerando os ambientes interno e externo que as envolvem, com tomada de decisão rápida e assertiva.


Encerro este artigo com outras sábias palavras de Sêneca “Não existe vento favorável a quem não sabe onde deseja ir”.


Referências


BRASILIANO, A.C.R. Cenários prospectivos em gestão de riscos corporativos: um estudo de caso brasileiro. 1. ed. São Paulo: Sicurezza, 2010.
     . Inteligência em riscos: gestão integrada em riscos corporativos. 1. ed. São Paulo: Sicurezza, 2016.
     .  COSO  II,  EMR,  2004  se  adapta  ao  mundo  VICA  –  mudando  seu framework para o mundo estratégico. Revista gestão de riscos, São Paulo, SP, ed. 116, pp. 23-33, dez 2017.
MONTGOMERY, C.A. O estrategista: seja o líder de que sua empresa precisa. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.
REEVES, M.; HAANAES, K.; SINHA, J. Sua estratégia precisa de uma estratégia: Como eleger e colocar em prática a melhor abordagem. São Paulo: DVS Editora, 2015.
 

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