A Interconectividade
na Gestão de Riscos
Claudio da Silva Cavalcante, MBA
Tecnólogo em Segurança Empresarial (Unicid), MBA em Gestão de Riscos Corporativos (Fesp).
É Gerente de Relacionamento e Auditoria Corporativa na “Delphos Sistemas de Segurança”
Está cada vez mais difícil para as empresas se anteciparem e lidarem com as ameaças representadas por uma série de perigos emergentes. A identificação do impacto da interconectividade entre diferentes riscos é uma prioridade para os gestores de riscos!
Os planos de continuidade de negócio devem envolver uma gama cada vez maior de cenários de risco, na atualidade as empresas estão cada vez mais preocupadas com os riscos cibernéticos e de reputação, no ambiente econômico lento, as empresas também estão mais preocupadas com o declínio do mercado, especialmente com mercados em crescimento.
O Relatório “The Global Risk Report”, na sua décima sétima edição, ressalta que a interconectividade entre riscos é estratégica para que haja uma clara compreensão da moldura e do conteúdo do contexto dos riscos. Sem esta ferramenta, fica impossível realizar as ligações necessárias e identificar as motricidades dos riscos. No ano de 2016, foram observadas mudanças na forma em que enxergamos os riscos globais, a orientação interna dos países, a desigualdade social e de renda, estão se ramificando sobre a política do mundo real, as tendências e impactos na forma como as economias agem e se relacionam entre si, provavelmente afetaram os riscos globais e suas interconexões.
O relatório de riscos globais realizado no ano de 2017 explorou cinco pontos centrais de relevância, sendo:
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O crescimento lento e continuo combinado com as dívidas e mudanças demográficas favorecendo as crises financeiras e a crescente desigualdade;
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Corrupção generalizada, os curtos prazos e a distribuição desigual do modelo econômico capitalista;
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A transição em direção a uma ordem mundial mais multipolar está tencionando a cooperação global;
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Ao mesmo tempo, a Quarta Revolução Industrial está, fundamentalmente, transformando as sociedades, as economias e as formas de fazer negócios;
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As pessoas buscam ressegurar as identidades que foram embaçadas pela globalização, a tomada de decisão está sendo cada vez mais influenciada pelas emoções.
O “Global Risk Report” classificou que os riscos na categoria econômica, alinhado com o fato de que a crescente disparidade de renda e riqueza é uma das tendências mais importantes em determinar os desenvolvimentos globais nos próximos 10 anos.
Outro desafio interconectado, é enfrentar a importância da identidade e da comunidade, as rápidas mudanças de atitudes nas áreas relacionadas ao gênero, orientação sexual, raça, multiculturalismo, proteção ambiental entre outros. Os abismos culturais resultantes estão testando a coesão política e social e podem ampliar muitos outros riscos, ou seja; está havendo uma elasticidade muito forte no sentimento social.
As empresas devem estar comprometidas com seu público alvo, colaboradores e com a sociedade em que atua, focando esforços em reduzir os riscos existentes ou que possam se manifestar no futuro. Para isso, é necessário conhecer os riscos e impactos que afetam os negócios de forma holística. Os riscos estão em todos os níveis das atividades do negócio, se não forem gerenciados adequadamente, poderão resultar em perdas financeiras, deterioração da imagem e reputação, podendo desencadear crises.
O gerenciamento de riscos tem se tornado um assunto de extrema importância no meio empresarial, tendo em vista a necessidade da conscientização da administração dos riscos potenciais, sendo cada vez mais uma questão de competitividade e sobrevivência para as empresas. Com base nas necessidades e complexidades dos processos administrativos, e para que haja uma gestão de riscos eficaz, o seu gerenciamento deve fazer parte da cultura e estar inserido na filosofia, nas práticas e nos processos de negócio das empresas.
Com a transformação digital, as empresas se tornam mais suscetíveis as ações de pessoas mal-intencionadas, roubo de dados e de bens físicos estão mais comuns nas empresas e podem aumentar ainda mais nos próximos anos, com o processo de digitalização.
Em uma das pesquisas realizadas com 540 executivos entrevistados pelo “Global Risk”, 84% destacaram que suas companhias já foram vítimas de ocorrências de fraudes nos últimos 12 meses, contra 82% em 2016 e 61% em 2012, o que nos revela um crescimento de 23% nos últimos 5 anos.
O aumento do número de fraudes tem duas explicações segundo a diretoria geral de operações da “Kroll-Brasil”.
1ª refere-se aos mecanismos de conformidade estarem mais maduros e cada vez mais empresas estão adotando medidas contra fraudes. Desta forma, é mais fácil detectar quando uma atividade ilícita ocorre, mesmo assim, a proteção das empresas ainda é baixa e, muitas vezes, baseada em medidas desatualizadas. “Assim como os fraudadores inovam, as empresas também precisam atualizar as suas proteções.
2º motivo para o aumento de fraudes, é o risco crescente de ciberataques. Com a transformação digital, as empresas se tornam mais ágeis e eficientes, mas também podem estar mais suscetíveis a ações de pessoas mal-intencionadas, se não tomarem as medidas preventivas adequadas. “As empresas estão mais expostas aos ambientes digitais e, consequentemente, a invasões e ameaças externas. Esse já é o maior risco vivido pelas empresas. Pela primeira vez em 10 anos, o roubo ou perda de informações foi o tipo de fraude mais vivenciada por 29% dos questionados, isto representa um aumento de 5% em relação a 2016.
No passado, o maior risco das companhias era o roubo físico de bens e materiais, para isso a fraude ocorria dentro da empresa, por um funcionário, fornecedor ou parceiro. Atualmente o fraudador pode encontrar brechas no sistema e roubar dados sensíveis de qualquer lugar do mundo, sem qualquer contato físico com a empresa.
Aos poucos, as empresas estão se precavendo e se antecipando aos riscos, adotando medidas antifraudes e implementando planos de mitigação de riscos, como instalação de detecção de intrusão e monitoramento de ameaças.
No Brasil, a incidência de fraudes dentro das empresas é a mesma que no restante do mundo, porém o cenário é bem diferente. Ao contrário do resto do mundo, as fraudes digitais de roubo de dados não são tão comuns por aqui, mas sim as fraudes financeiras e em balanços (corrupção). Isso porque a lei brasileira anticorrupção é mais recente que as de outros países, ela foi aprovada em 2013 e colocada em prática em 2014, enquanto nos Estados Unidos as primeiras medidas datam da década de 1970. Por isso, o país ainda está no início da criação e implementação das medidas anticorrupção nas empresas.
Além disso, devido a grave crise econômica, no qual as empresas não tinham muitos recursos para investir em processos de conformidade, priorizaram apenas a contenção de fraudes e desvios financeiros, com a retomada do crescimento e o aquecimento do mercado, assim como a continuidade das operações de combate a corrupção e criminalidade como a “Lava Jato”, este cenário deverá mudar a curto e médio prazo.
Referencias:
https://exame.abril.com.br/negocios/risco-de-fraudes-e-vazamento-de-dados
http://www.sindsegsp.org.br/site/noticia-texto.aspx?id=12620=
Brasiliano, Antonio Celso Ribeiro, Inteligência em riscos: gestão integrada em riscos corporativos / Antonio Celso Ribeiro Brasiliano. São Paulo : Sicurezza, 2016.