Viaduto em São Paulo Cede
MAIS UM SINTOMA DE INCOMPETÊNCIA E IRRESPONSABILIDADE PELA FALTA DE GESTÃO DE RISCOS EM INFRAESTRUTURAS
A falha de manutenção, pela falta de gestão de riscos em ativos de infraestrutura, que podem priorizar os ativos que se encontram em estados críticos demonstram, além de uma incompetência da nossa administração pública, a falta de responsabilidade com vidas humanas. É um grande descalabro como nossos patrimônios e o dinheiro de nossos impostos são geridos.
1. Contexto Estratégico
Na madrugada de 15 de novembro de 2018, no feriado, um viaduto cedeu e causou a interdição do trânsito em trecho da pista expressa da Marginal Pinheiros, perto do Parque Villa-Lobos e da Ponte do Jaguaré, por volta das 3 horas e 30 minutos. Cinco carros passavam pelo local, quando ocorreu a descida do vão do viaduto com quase dois metros, fazendo com que os veículos simplesmente sumissem ao caírem desta altura. Felizmente não houve feridos graves.
Os depoimentos foram surreais, pois a ideia é que os carros estivessem sendo engolidos pelo viaduto, pois simplesmente sumiam, ao caírem da altura de 2 metros. O pessoal começou a acenar para que os outros veículos parassem e freassem, evitando assim maiores acidentes.
A Prefeitura de São Paulo afirmou que possui um programa de vistorias nos seus 185 viadutos e pontes da capital, e que não havia identificado riscos estruturais. A gestão Bruno Covas, do PSDB, informou ter aberto um edital dia 09 de novembro para projetos de manutenção preventiva de 33 viadutos e pontes classificados como prioritários. Detalhe, o que cedeu não estava na lista. Imagine como estão os tidos como prioritários!
Foto: Reprodução/TV Globo
Senhores como gestor de riscos, não tenho como justificar que um viaduto venha a ceder e não dê nenhum aviso, sintoma. A prefeitura não pode vir a público e tentar se justificar pelo que aconteceu, colocando a culpa no famosos Cisne Negro! A pista cedeu em cima de seu pilar de sustentação, fazendo-o rachar, além de ter uma trinca no asfalto com extensão de 530 metros. As justificativas são muitas, entre elas a vibração da linha férrea que passa embaixo do viaduto com uma velocidade de 60 km por hora. Esta vibração colaborou para haver este colapso. Então as vistorias deveriam ter um intervalo de tempo menor ou a velocidade dos trens serem bem abaixo de 60 km.
Os Técnicos tiveram que escorar o viaduto, com barras de ferro para impedir que ele ceda ainda mais. O trabalho de sustentação não tem prazo para terminar. Equipes estudam ainda a possibilidade de abrir um buraco, uma espécie de janela, na estrutura para avaliar as condições materiais do concreto.
A ideia dos engenheiros é que após o escoramento sejam usados macacos hidráulicos para reerguer o viaduto até o nível onde estava antes. Serão usadas dez estacas para dar sustentação ao equipamento.
Infográfico: Maurão Girão/Estadão
2. Opinião Preliminar de Especialista
Peritos indicam que o desabamento pode ter sido provocado por um problema no sistema de amortecimento. O Engenheiro Catão Francisco Ribeiro, que já projetou mais de quatro mil pontes, entre elas a Estaiada, disse que os técnicos deveriam ter identificado problema em vistoria feita pela prefeitura há três meses.
As primeiras análises do Instituto de Criminalística sugerem um problema nos chamados “travesseiros” ou “colchões de Neoprene”, que tem função semelhante à de um “amortecimento” para a estrutura de concreto de viadutos. O material é super-resistente, pode durar até cem anos se tiver boa manutenção. Mas no caso do viaduto que cedeu na Marginal Pinheiros, o travesseiro deveria ter uma espessura bem maior. É o que avalia Catão Francisco Ribeiro.
O Engenheiro, em entrevista ao G1 comentou: “O aparelho de apoio já estava inoperante, estava comprometido pela durabilidade porque ele era muito baixinho para a deformação que ele tinha que suportar. Então ele foi subdimensionado. Quando o projeto foi concebido com neoprene muito baixo, ele teria que ser bem mais alto para suportar a deformação. Encontramos um amortecimento semelhante em uma ponte no Rodoanel. Os travesseiros costumam ficar escondidos em frestas. Parecem só um detalhe perto da imensidão de um viaduto, mas são essas peças que ajudam a dar estabilidade às estruturas de concreto.”
Segundo o engenheiro especialista o nome traduz bem as várias funções que elas têm: amortecer a vibração provocada pela passagem dos carros, suportar a dilatação e a contração natural do concreto e ainda evitar o contato direto das estruturas de concreto. O engenheiro diz ainda que os pilares que sustentam o viaduto tinham que ser maiores para apoiar melhor a pista, que ele chama de superestrutura.
“Nessa circunstância que o pilar é pequeno é que a parte da superestrutura sai de cima do pilar ou fica bem na quina. Você tem uma situação em que você está com a superestrutura aqui, o pilar está aqui e ela fica na quina, quebra e cai”, disse Ribeiro.
Sistema de amortecimento feito de neoprene deveria ser maior, apontam peritos em engenharia. Fotos: Reprodução/TV Globo
3. Conclusão
Na visão deste especialista o que faltou e falta para a Prefeitura de São Paulo é um processo estruturado de Gestão de Ativos, integrado com Gestão de Riscos, foco nas suas Infraestruturas consideradas críticas. Seguindo as premissas da ABNT NBR ISO 55001- Gestão de Ativos - Sistemas de Gestão – Requisitos, os documentos estratégicos que deveriam existir seriam:
3.1 Critérios de Decisão – documento que contém as informações aprovadas pela prefeitura de São Paulo para apoiar a tomada de decisão, tanto qualitativo como quantitativo;
3.2 Política de Gestão de Ativos: são as escolhas que explicitam as direções dadas para o cumprimento dos objetivos;
3.3 Plano Estratégico de Gestão de Ativos – SAMP – informações documentadas que especificam como os objetivos da Prefeitura de São Paulo serão convertidos em objetivos de Gestão de Ativos;
3.4 Plano de Gestão de Ativos – AMP – informação documentada que especifica as atividades, recursos e prazos requeridos para os ativos individuais, de forma que sejam atingidos os objetivos da Gestão de Ativos;
3.5 Processo de Gestão de Riscos de Ativos: processo estruturado com foco em Riscos x Custos x Desempenho, mantendo um equilíbrio custos associados ao desempenho dos ativos, com um determinado nível de risco.
O processo acima não pode ser mais realizado sem uma ajuda de um Sistema de TI, não pode ser operacionalizado com base em planilhas, caso contrário corre-se o risco de haver perda de informações estratégicas e de suma importância para os ativos, colocando vidas em exposição.
No nosso caso o Software INTERISK supre esta necessidade, pois auxilia de forma direta os gestores a operacionalizarem e controlarem a relação custo benefício.
A Prefeitura de São Paulo merece um processo estruturado e com um sistema que suporte todos os seus ativos, desta forma poderemos evitar que prédios sejam destruídos pelo fogo e que pontes e ou viadutos caiam.
Espero que haja um amadurecimento neste sentido, caso contrário continuaremos a enxugar gelo e sempre chorar o leite derramado.
Antonio Celso Ribeiro Brasiliano
Publisher da Revista Gestão de Riscos e Presidente da Brasiliano INTERISK
abrasiliano@brasiliano.com.br