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Âncora 1

PONTO DE VISTA

Risco Político ou de Confiança? O que faz a economia brasileira ainda derrapar? 

Escrevi das cinco revistas nossas publicadas, em 2019, até o momento, quatro Ponto de Vista falando sobre o Risco Político, Econômico, Geopolítico e Risco Brasil. Ou seja este Ponto de Vista desta edição de número 135 é o quinto que escrevo e a sexta revista. O que tem de tão significativo nisto?

 

Demonstra que o Risco Político, com sua abrangência e causas raízes não é tratado como deveria ser, não é analisado e compreendido as causas sistêmicas. Nenhum dos três poderes, executivo, legislativo e judiciário, não atuam para amenizar o contexto, para mitigar impactos, muito pelo contrário, jogam mais gasolina na fogueira com o objetivo de realmente verem o “circo pegar fogo”.

 

 

O empresariado também fica inerte, na arquibancada, aguardando os resultados, quando na verdade deveriam entrar em jogo, suando suas camisas, pois sem a presença e pressão do empreendedorismo, não temos liberalismo! Portanto é uma peça importante e de grande influência neste jogo de xadrez da política brasileira.

 

Sei também que não é fácil inaugurar uma nova era, principalmente a liberal, em uma economia como a brasileira, acostumada com a mão protetora do estado. 

Reformas estruturais que o Brasil precisa é um processo lento, e o estímulo da corrente contrária, é sempre maior do que o movimento a favor das mudanças. As reformas eficazes desfazem privilégios de grupos específicos, que estavam ganhando uma série de vantagens, em prol da maioria. Esta é a guerra! 

No Brasil, temos experiência de não só estancar as reformas, como também retroceder. Isto porque há ainda uma guerra de oligarquias políticas, verdadeiros casulos que só visam seus interesses. Por esta razão ficamos no passo do caranguejo, um para frente dois para trás, que no final mostra resultado é pífio. É sempre retrocesso em vários segmentos. 

O exemplo típico foi a reforma estruturante da Previdência, sem gás, muito ferida e se arrastando e ainda recebendo mordida de todo lado. Como escreveu Gustavo Franco, em sua coluna do dia 27 de outubro de 2019, no Estado de São Paulo: Agora vamos pensar numa terra cheia de instabilidade econômica como o Brasil: ao revés da piada, foi criada uma expectativa pela qual a deflagração das reformas traria um clima de otimismo e uma recuperação mais rápida dos empregos e do PIB. As reformas em cogitação são as mesmas de 20 ou 30 anos atrás, encalhadas desde então. Estamos acertando o para trás... Estamos condenados a passar reformas de baixa octanagem e que minimizam conflitos. Minha opinião, podem ser pífias!  

Para piorar nosso quadro, a América Latina está causando um grande mal estar econômico, em função de uma série de protestos em países como Chile, Argentina, Equador, Bolívia.

Soldados nas ruas do Chile, visando combater manifestações violentas, no Equador o contexto é o mesmo. Protestos nas ruas da Argentina. Bolívia queimando urnas. Agitação Política no Paraguai e Peru. No México um populismo em plena marcha. 

No nosso Brasil, uma verdadeira guerrilha descontrolada, onde há uma verdadeira metralhadora giratória atirando dentro da própria trincheira, perdendo a união e os próprios companheiros que lutaram para que o Brasil não mantivesse o “status quo” do passado. Mas parece que não enxergam que ao fazerem isso, dividirem-se, estão fortalecendo o outro lado, que nem precisa trabalhar contra, basta deixar os acontecimentos se materializarem por si só. 

Fico pasmo como a forma como está acontecendo, não compreendo a falta de estratégia, no seu conceito mais puro, tendo no executivo inúmeros militares competentes, doutorados em estratégia. Parece que o Presidente Bolsonaro, ex – capitão, não lembra mais o código de honra que aprendeu na Academia Militar das Agulhas Negras, quando cadete: “Não deixar na terra de ninguém, nenhum ferido ou morto da sua equipe. Todos voltam!” Em uma época que precisa de aliados, arruma desafetos? Não entendo.   

Não gostaria, mas começo a acreditar, infelizmente, que há uma dose de amadorismo em governar o Brasil. Tantos talentos assessorando Bolsonaro, mas parece que não ouve ninguém, apenas seu reservado clã de filhos. Um desperdício, pois o tempo passa e sua popularidade cai a cada dia.  

O cientista político americano Francis Fukuyama, ficou famoso ao publicar um artigo há trinta anos, intitulado “O fim da história?”. Neste artigo ele proclamou a derrota do comunismo e a supremacia da democracia liberal capitalista. Na época inclusive citou o empresário Trump como exemplo de pessoa que combinava ambição com desejo de reconhecimento social. Fukuyama não sabia que Trump seria presidente dos Estados Unidos, e escreveu ano passado um livro intitulado: “Identidade: a Demanda por Dignidade e a Política do Ressentimento”. Neste seu novo livro ele afirma que a ascensão de líderes nacionalistas de direita como Trump, está relacionada ao rancor de grupos que se consideram prejudicados pelo stablishment. Ele deu entrevista na Revista Veja, página amarela, desta edição número 2658 – ano 52 – número 44 – 30 de outubro de 2019. Nesta entrevista ressalta que populistas como Bolsonaro geralmente não sabem governar e acabam sendo abandonados por seus eleitores. Diz na entrevista que no Brasil a ascensão de Jair Bolsonaro foi motivada em parte por forças similares que aturam nos Estados Unidos e Europa – crença de que as elites não respeitam pessoas comuns, de que as elites são corruptas e seguem agendas próprias. E que aqui, tivemos outro catalisador, a corrupção e a desilusão com a classe política e particularmente, com os escândalos de corrupção do PT. Esse quadro fez com que Bolsonaro fosse a opção mais certeira para derrotar o PT.    

   

O antropólogo brasileiro, Antonio Risério, autor de inúmeros livros, escreveu no Jornal o Estado de São Paulo, no Caderno Aliás, do dia 27 de outubro de 2019, uma matéria intitulada “Em Busca da Nação Perdida”. Neste artigo ele descreve que o Brasil não dará guinada democrática se não resolver dois problemas: o primeiro, mais imediato e superficial, seria uma releitura do que aconteceu em 2013 para cá. E a segunda, um mergulho profundo, é a necessidade de repensar a sociedade e reinventar a nação. 

Risério escreve que em junho de 2013 foi o ápice da resposta da sociedade, com a classe política, que virou as costas para ela, e, sua resposta, lógica, natural, mas surpreendentemente enérgica, declarando nas ruas que eles – políticos – não os representava. Esta discussão foi sufocada pelo aparecimento da corrupção, de forma inédita em nossa história e também pelo “impeachment”. E a conversa mais rica ficou adiada. Os políticos sentiram-se aliviados e empurraram com a barriga, pois a campanha presidencial de 2014 foi escandalosamente esperta, entre dissimulação e a alienação. Todos os candidatos fizeram de conta que 2013 não existiu, ficou no passado remoto. 

O ideal é que os partidos políticos tivessem tido coragem moral e ética de fazer uma “psicanálise selvagem”, expressão de Glauber Rocha. Como o PT é incapaz de explicitar seus erros e o PSDB muito menos, ficamos em uma bruma aguardando os acontecimentos. Humildade política é um bem escasso no Brasil de hoje!

O sociólogo Werneck Vianna, ao dar uma entrevista recentemente, observou que há um desentendimento da trajetória da nossa história e dos nossos valores. Chegamos na UTI, onde ninguém mais reconhece êxitos e sucessos. Até a Abolição, em 1888, que foi uma luta democrática vigorosa, que se arrastou por décadas, numa integração de classes. Toda nossa tradição foi simplesmente jogada no lixo. Despreza-se a nossa história e nossos feitos, ou seja, de um tempo para cá nossa história como povo e nação, a nossa experiência nacional, a uma avacalhação sistemática.

A partir da década de 1970, a esquerda começou, segundo Werneck Vianna, a produzir uma contra – história do Brasil. O que antes se celebrava, passou a ser execrado. E tudo que era desconsiderado, passou a ser glorificado. Isto aconteceu ano, após ano, através de textos, livros, até que esta “história do Brasil” se gravou nos parâmetros curriculares do ensino no Governo de Fernando Henrique Cardoso. E o processo não parou. Foram pilhas e pilhas de livros, bombardeio diário nas salas de aula. Chega-se ao cúmulo da apresentação da Estação Primeira da Mangueira, neste carnaval de 2019, com esta nova história. Publicaram o absurdo de que a Mangueira estava contando a verdadeira história. Ignorância pura! Foram anos de doutrinação, panfletos, cursinhos políticos, pregação em escolas públicas e privadas. 

A ignorância do povo e da imprensa saudava os Malês com a Mangueira, como que estes quisessem a igualdade e fraternidade. Pelo contrário, o projeto dos Malês em 1835, incluía fuzilar os brancos e escravizar os mulatos. Como Zumbi, eram africanos escravistas, que lutavam somente por eles. Só foi combatida pelo movimento abolicionista. Santa Ignorância! Quanto desconhecimento!

Outro grande exemplo que pode ser citado são os dos índios. Enquanto os norte-americanos colocavam os seus índios em reservas estéreis de poeira e cheias de cactos, o Brasil, graças ao Marechal Rondon e antropólogos Darcy Ribeiro e Eduardo Galvão, criou o Parque Nacional do Xingu, um paraíso ecológico, maior que Israel e quase do tamanho da Bélgica. 

Risério termina seu artigo enfatizando que o Brasil precisa de uma mudança de mentalidade com relação a si mesmo. Temos que ser claros e críticos diante dos legados históricos, mas não cegos, desinformados e unilaterais. O que se fez com a reconstrução da nova história do Brasil, resultou em autossabotagem nacional. 

A economia brasileira, embora nos jornais diga que esteja havendo uma pequena recuperação, através dos economistas dos bancos elevarem suas projeções para um crescimento de 0,8% para 1% - Itaú, de 0,8% para 0,9% - Safra. O Banco Central, através de seu Boletim Focus, que reúne projeções de bancos e consultorias, indica que o mercado estima alta de 0,88% para 2019. Estamos começando a ganhar tração, embora longe de uma arrancada forte.

É muito triste para nós brasileiros termos que engolir e reconhecer que o país de maior crescimento, na América Latina, será o Panamá, com uma expansão de 5%, sendo ele, uma das menores economias da região. 

Termino este artigo pontuando o Risco Político Brasil, seguindo a metodologia semelhante ao reconhecido The Politcal Risk Rating do PRS Group. Fizemos algumas adaptações nos critérios de avaliação, de maneira a personalizar a dados abertos e específicos ao Brasil. Já descrito no Ponto de Vista da Revista 132.        

Na opinião deste autor, o Risco Político Brasil, preenchendo os quesitos e levando em consideração que as nossas atuais condições, a pontuação ficou da seguinte forma:  

Captura_de_Tela_2019-10-31_às_17.58.47.p
Captura_de_Tela_2019-10-31_às_17.56.36.p

Com 49 pontos o Risco Político possui uma classificação elevadíssima, o que confirma nosso ponto de vista na questão da credibilidade, conflitos internos, insegurança jurídica, falta de apoio no legislativo. 

A insegurança Jurídica é muito alta em função do STF votar a questão da prisão em segunda instância, não seguindo a Constituição, pois de 1988, data da promulgação até 2009 a prisão sempre foi em segunda instância. Ou seja, durante onze anos sem mudanças na sua interpretação. Em 2009 tivemos uma nova interpretação com a mudança de prisão depois de transitado em julgado, todos recursos realizados. Em 2016 voltou a prisão em segunda instância, nova interpretação, nova mudança. E agora em 2019 vai mudar de novo, com cunho puramente político. É uma blitz política contra a Lava – Jato. Isto está claro. Tanto é verdade que o Gilmar Mendes, com argumentação sólida que podia ser o caso da prisão em segunda instância e agora está com outro argumento, outra tese, mudou de opinião. É uma vergonha!

 

Inadmissível em um país como o nosso ter um STF nestas condições, fazendo um desserviço para toda a nação brasileira.     

   

Torço para que possamos mudar este quadro de forma radical, através do bom senso dos três poderes, caso contrário enxergo um céu com muitas nuvens carregadas e com muitos raios.  

Sorte para todos nós! Boa Leitura!

Antonio Celso Ribeiro Brasiliano
Publisher da Revista Gestão de Riscos e Presidente da Brasiliano INTERISK | abrasiliano@brasiliano.com.br   

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