Primavera América Latina ou Riscos Políticos Submersos?
Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, CIEIE, CPSI, CIGR, CRMA, CES, DEA, DSE, MBS
Doutor em Ciência e Engenharia da Informação e Inteligência Estratégica pela
Université Paris – Est (Marne La Vallée, Paris, França); presidente da Brasiliano INTERISK.
Escrevi no artigo desta edição sobre “Risco Político: sua Importância Estratégica no Século XXI”, que Nassim Taleb autor do famoso livro o Cisne Negro e de mais outros dois, o Antifrágil e Arriscando a própria Pele, como um ex-investidor e matemático da bolsa de valores americana, que durante anos aplicou ferramentas objetivas e complexas para trabalhar com cenários e riscos. Nesta trilogia escrita por ele, este condena a aplicação de sistemas lineares como forma de enxergar o mundo.
Hoje, taxativamente, ele, um libanês-americano, é um completo descrente de metodologias de construção de cenários e de análise de riscos. Para ele, a maioria dos métodos matemáticos desenvolvidos por economistas e investidores financeiros, apesar de altamente sofisticados, são baseados numa visão do mundo como um sistema linear, que pode ser previsto através de ferramentas estatísticas convencionais, e em especial aquela que trabalha com a lógica da distribuição de Gauss. Isso gera uma série de distorções e miopias, pois o mundo atual é extremamente complexo e volátil, escapando dessa modelagem. Ele expôs esta sua visão junto com Mark Blyth, em um artigo na revista Foreign Affairs, onde tenta aplicar a sua teoria na análise da Primavera Árabe e da Política Externa dos EUA para o Oriente Médio. Os autores fazem um paralelo com a crise de 2008, e a resposta do governo americano: as elites econômicas e políticas dos Estados Unidos alegaram que ninguém poderia antecipar o colapso dos subprimes. A mesma afirmação foi feita para explicar a surpresa com as rebeliões, agitação social e revoluções políticas que atingiram os países árabes.
Todavia Taleb e Blyth defendem a ideia de que o erro primordial foi que o sistema econômico e político, no caso dos subprimes, e o governo americano, no caso da Primavera Árabe, tentaram controlar o futuro suprimindo artificialmente a volatilidade. Quando apoiaram governos repressivos no Egito, eles se guiaram pela necessidade de conseguir aliados estáveis, que garantissem uma previsibilidade política que pudesse se irradiar por toda a região. Ao fazerem isso, eles criaram uma bolha artificial para um sistema extremamente complexo composto de estruturas estatais e das respectivas sociedades. Como resultado, as demandas sociais não foram devidamente processadas pelos governos árabes, e os riscos ficaram submersos, não sendo visíveis pelos governos árabes e para os EUA. Só que eles estavam lá, imersos, esperando apenas serem acordados. Somente alguns analistas e observadores mais atentos perceberam isso. Como o futuro é, em essência, imprevisível, a única maneira de se lidar com incertezas futuras é deixar que os riscos flutuem e sejam expostos e debatidos social e politicamente, e como resultado, as soluções podem surgir e minimizar os riscos de explosões sociais.
As pessoas teriam uma capacidade de previsão muito limitada, baseada em sua experiência passada. Com a volatidade, complexidade e incerteza do mundo atual, os riscos acontecem numa velocidade extremamente grande, em redes interconectadas, gerando uma relação de causa e efeito, o que causa miopia para quem não realiza os impactos cruzados. Tentar apostar na mesma linha de ação porque ela funcionou no passado é ignorar esta volatidade, complexidade, incerteza e conectividade, e tanto vale para o mercado de ações como para a política.
Foi o caso da América Latina? Pois lendo os Relatórios das empresas de Consultorias Políticas, pouquíssimas identificaram os sintomas que em 2019, os países da América Latina, Chile, Bolívia, Colômbia, Equador, teriam manifestações violentas e que poderiam ter viradas de governo como aconteceram na Argentina, voltando para a esquerda com o peronismo e o Uruguai retornando para a direita. Os riscos estavam submersos e nós não queríamos enxergar? Ou foi a aplicação, conforme Taleb menciona, da lógica de Gauss, que é sistema linear, e pelo contexto nunca ser linear nos deixa míope?
O fato é que a América Latina explodiu e eu não acredito, conforme andam dizendo, que é uma conspiração de esquerda ou de direita. A verdade é uma só: existe uma grande desigualdade social e esta está massacrando a classe média, que é na minha opinião a força motriz destas manifestações e guinada de poder. Estão a busca, como aconteceu no Brasil, não de uma postura ideológica de direita ou esquerda, querem saber que seus filhos e netos, ou seus pais e avós possam viver de forma digna e seus governantes não mais roubem. O Chile é um exemplo disto, onde uma das reinvindicações das manifestações da classe média era que os salários dos políticos fossem reduzidos, incluindo os prefeitos, governadores, presidente da república, senadores, vereadores, deputados e até o judiciário. Estas manifestações e viradas de poder, sejam grandes sintomas que as sociedades estejam fornecendo para os políticos, de que algo deva ser feito com muita urgência, caso contrário...
Poderemos voltar no tempo da Revolução Francesa, onde Robespierre, Marat e Danton têm o mesmo peso de populares que participaram do processo revolucionário responsável pela noção de cidadania da sociedade moderna, ao brigar pelos direitos iguais.
As manifestações são fruto das aspirações de jovens por uma nova agenda econômica, política e cultural. Na minha percepção, não há uma manipulação política de alguém!
Vamos passar, rapidamente pelos países, tentando captar os acontecimentos.
Bolivia
Evo Morales, o primeiro indígena a chegar à presidência da Bolívia por meio de eleições regulares, deu fim ao seu governo após mais de 13 anos de uma administração cheia de luzes e sombras, o que levou a tornar o presidente com mais tempo no poder na história da Bolívia.
Ele chegou ao poder com o apoio de setores da sociedade considerados marginalizados, começou a sofrer desgaste em 21 de fevereiro de 2016, quando a maior parte da população boliviana não aprovou sua nova candidatura. Ou seja, 51,3% da população não queria que sua constituição sofresse modificação. Mesmo assim Morales contornou a situação e o Tribunal Constitucional e endossou sua candidatura para 20 de outubro de 2019.
A parti daí seus problemas começaram, foi sendo questionado pela oposição e comunidade internacional, até que a OEA confirmou em relatório sérias irregularidades no sistema eleitoral. Fraude é a palavra certa, houve fraude nas eleições bolivianas de 20 de outubro. A ânsia de poder foi o seu principal erro. Sendo líder do Movimento ao Socialismo – MAS, seus colaboradores passaram a apoiar contra as manifestações da oposição, liderada principalmente pelo advogado Luis Fernando Camacho, que junto com representantes do Movimento Nacionalista Revolucionário – MNR, fizeram uma oposição forte, comandando as manifestações de rua.
Na Bolívia, diferentemente, do aconteceu na Venezuela, o Exército e a Polícia se recusaram a combater a população, não deixando escolha para Evo Morales, que após 4 semanas de protestos violentos, com 3 mortos e mais de 300 feridos, Morales teve que renunciar em comunicado na TV ao lado do vice-presidente, Álvaro Linera, que também deixou o cargo. Evo Morales argumentou que houve um golpe e que para evitar violência e perseguição contra seus correligionários renunciava para não haver confrontos. Antes da renúncia, a população mais enfurecida já havia colocado fogo nas residências do presidente da Câmara, do Ministro de Minas e da irmã de Evo Morales. Todos eles deixaram os respectivos cargos, Senadores e Senadoras que estavam alinhados com Morales também renunciaram, deixando em vacância o cargo de presidência da república. A presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE da Bolívia, Maria Eugênia Choque Quispe, foi presa acusada de fraude.
O ponto culminante e decisivo foi quando a OEA recomendou a anulação das eleições, em seguida Evo Morales foi para TV anunciar que faria novas eleições gerais e que trocaria os magistrados do TSE. Na sequência ficou sabendo que estava perdendo apoio das Forças Armadas e de Segurança e que se aquartelaram e se recusaram a combater os populares, já na noite de sábado, 9 de novembro. Foi quando o Comandante Chefe das Forças Armadas e da Polícia da Bolívia, general Williams Kalimam, fez um pedido, durante uma entrevista, para que Evo Morales renunciasse, iniciativa acompanhada pelo Comandante Geral da Polícia Vladimir Yuri Calderón. Sem apoio das Forças de Segurança, protestos crescendo em todo país, a renúncia veio em poucas horas. O México cedeu asilo político em reconhecimento a renúncia e de não mais expor seus compatriotas a mais protestos violentos.
Mas tenho uma ressalva quanto a estratégia do Evo Morales, pois largou o cargo muito rápido, tendo inclusive, seus colaboradores de partido, realizado manifestações violentas após a saída dele para o exílio. Temos que entender que os socialistas do século XXI não mais utilizam as técnicas leninistas da tomada do poder pela violência. A estratégia utilizada é fazer o jogo da democracia, chegando ao poder pelo voto. Hugo Chaves e seu sucessor, Nicolás Maduro, chegaram ao poder em eleições. Progressivamente foram eliminando as liberdades, sobretudo a de imprensa e dos meios de comunicação em geral. Paralisaram o poder legislativo e tentaram de todos os meios corromper. O Poder Judiciário, em particular o Supremo Tribunal, tornou-se marionete do executivo, que passou a legislar por decreto, tornando-se ele mesmo fazedor de leis. As milícias tomaram conta das ruas, as Forças Armadas foram aparelhadas, onde a corrupção foi o principal instrumento. Basta olhar o número de generais que a Venezuela possui. Como se diz, há mais cacique do que índio. Plebiscitos e referendos seguiram sendo utilizados sempre e quando servissem aos seus interesses. Ou seja, o que há na Venezuela é uma “Ditadura Democrática”, piada!
Em certo momento a nossa esquerda chegou a bater palmas para a vitória do socialismo venezuelano, considerando-os como exemplo de democracia. O resultado, quero dizer o fato é uma Venezuela hoje completamente destruída, falida, com a população de classe média sendo esmagada pela repressão e fugindo de seu país. O crime corre solto, tudo em nome do socialismo!
Evo Morales utilizou da mesma estratégia, dos mesmos princípios, embora não tenha jogado a Bolívia no lixo em termos econômicos, por esta razão se equilibrou no poder até o momento. Em todo o seu governo desprezou as instituições democráticas, proibiu a entrada de opositores na constituinte, alterou sistematicamente a Constituição para se reeleger.
Só que no último referendo o povo deu um basta, não aprovou sua nova reeleição, mas como um magnânimo, simplesmente desprezou a voz do povo. Ministros submissos do Supremo, garantiu uma nova eleição, não contente ainda teve que fraudar, pois estava perdendo na contagem dos votos. Diante das manifestações e da pressão do Exército e Polícia, teve que renunciar, mas o que ele esperava era causar o caos na Bolívia. Sim esta era sua estratégia. Ao renunciar, seus colaboradores partiriam para as cidades e fariam manifestações violentas, argumentando que eram vítimas. Felizmente não deu certo e o tiro saiu pela culatra. O que ficou claro foi o típico cenário do ladrão gritando pega ladrão.
Após a renúncia houve comemoração nas ruas de La Paz, incluindo populares confraternizando com os policiais e militares que se reusaram a realizar a repressão.
Encerrando-se mais um capítulo de um partido de esquerda, que também decepcionou seu povo, sua gente, ao mostrar contradição entre o discurso e sua forma de agir, principalmente no cuidado com o meio ambiente ou em sua condição indígena, que desgastou sua imagem.
No Brasil os partidos de esquerda, principalmente PT alardearam que foi um golpe contra o “Companheiro Morales”. Não foi, quem tirou do governo foram as manifestações, as desigualdades e a corrupção que favoreceram a mais uma queda de um governante latino americano.
Após a saída de Morales, protestos continuaram, pois os jovens, protagonistas das manifestações, querem maiores mudanças políticas na Bolívia. Eles rejeitam políticos tradicionais como Evo e o ex-presidente Mesa e querem uma nova opção eleitoral vinda da sociedade civil. Nomes como Luís Fernando Camacho, de direita, e de Adriana Salvatierra, de esquerda, ganham força.
A história dessas semanas, na Bolívia, poderia ser contada como uma insurreição ética que teve como protagonistas principais os jovens de classe média da Bolívia.
Colômbia
Na Colômbia os protestos explodiram desde 21 de novembro, onde dezenas de milhares de manifestantes participaram de uma das maiores manifestações dos últimos anos contra as políticas do Presidente Iván Duque, cujo governo conservador está debilitado, após 15 meses no poder.
Os protestos foram convocados em várias cidades colombianas por variado grupo de entidades, que inclui sindicatos, estudantes, indígenas, ambientalistas, opositores contra as políticas econômicas, sociais e de segurança. O governo de Duque, hoje, não possui maioria no congresso e tem 69% de rejeição popular, segundo as pesquisas.
Por que os colombianos estão protestando? Principalmente porque estão contra as políticas econômicas de Duque, que além da sua política de segurança com foco na luta contra o narcotráfico e a sua tentativa de modificar o acordo de paz com as FARC. Os sindicatos e os movimentos sociais rejeitam a reforma para tornar o mercado de trabalho mais flexível, o que significa contratos por hora, que tem como consequência a impossibilidade dos trabalhadores não se aposentarem. A mudança do sistema previdenciário seria o governo acabar com o fundo estatal de pensões e deixar aportes das empresas e dos trabalhadores nas mãos dos fundos de previdência privada, um modelo que, segundo eles, fracassou no Chile.
Na reforma tributária redução de impostos para as grandes empresas multinacionais e aumento para a classe média. Os sindicatos também protestam contra as privatizações da Ecopetrol, a elétrica ISA, Cenit – filial de Ecopetrol para transporte de hidrocarboneto e de todas as empresas que o estado tenha mais de 52%. O salário mínimo hoje na Colômbia não é suficiente, em torno de US$ 240 dólares, não dá para comprar uma cesta básica.
Os indígenas exigem proteção após o assassinato de 134 membros da comunidade desde que Duque assumiu.
Os estudantes querem mais recursos para a educação. No ano passado, 2018, os universitários, fizeram uma greve de dois meses, exigem do governo o cumprimento dos acordos firmados contra a corrupção nas universidades públicas. O acordo inclui investimentos de US$ 1,3 bilhão de dólares nas universidades públicas durante quatro anos, o maior já destinado à educação superior na história da Colômbia.
A repressão está sendo também violenta com utilização de gás lacrimogênio, visando dispersar a população para liberar vias. Bogotá e Cali tiveram confrontos mais violentos e viveram com o toque e recolher. Os militares estão protegendo somente as instalações estratégicas, sem se envolverem, por enquanto na repressão das manifestações. Nas mídias sociais há divulgação da “militarização” da repressão para intimidar os protestos. Até o momento as manifestações tiveram 4 mortos e cerca de 500 feridos. A vítima mais simbólica é a de uma jovem de 18 anos, Dian Cruz, atingido na cabeça por um tiro disparado por policiais durante as manifestações.
O presidente Duque reconheceu a legitimidade das manifestações e algumas reinvindicações, mas denunciou que há uma campanha de mentiras contra seu governo. Disse estar disposto a negociar, mas ainda não deu sinal de recuo.
Os protestos também são contra a corrupção, que tem provocado uma perda aproximada de US$ 14 de dólares ao ano. Entre os escândalos, temos a nossa brasileira Odebrecht.
Portanto, de novo, as manifestações, embora tenha um variado grupo, atinge em cheio a classe média, espremida contra a parede, sem condições de poder ter mobilidade, a não para baixo. Este seja, na minha opinião o principal motivo das manifestações estarem purgando na América Latina.
Argentina
Segundo Enric González, escreveu no jornal El País, Macri perdeu e admitiu sua derrota, ampla (48% versus 40,5%) para o peronista Fernandez. Este alertou a multidão peronista que comemorava a vitória sobre a dureza da tarefa que ele deverá enfrentar.
Disse: “Os tempos difíceis estão chegando”, depois de prometer que governaria “pelo povo, por todos”.
O resultado da eleição foi o mais balsâmico possível. Alberto Fernández derrotou, mas não varreu, o que permitiu que Maurício Macri se tornasse uma forte oposição. Também o comportamento de Macri e Fernández foi balsâmico. Diferente de quatro anos atrás, quando Cristina Kirchner se recusou a entregar a faixa presidencial para Macri. Desta vez o bom senso falou mais alto e os dois rivais deixaram de lado sua antipatia mútua e se declararam dispostos a trabalhar juntos.
Ambos estavam cientes de que a situação econômica da Argentina está em um ponto crítico. E que nos próximos dias poderia reproduzir a turbulência financeira das eleições primárias de agosto.
A guinda política, ou seja, a volta ao peronismo, tem a ver com o fraco desempenho que o governo Macri teve. Não conseguiu fazer a economia deslanchar e teve que pagar o ônus na urna. Não teve jeito. Portanto estamos vendo de camarote o que acontece quando a economia paralisa e a classe média possui poder nas urnas.
A Argentina se encontra em péssimas condições econômicas, desde agosto, o Banco Central Argentino perdeu 22 bilhões de dólares em reservas e restam apenas 11 bilhões. A ex-presidenta Cristina Kirchner, nova vice-presidenta, exigiu que o governo cessante tenha cuidado nas próximas semanas.
Macri manteve o otimismo até o último momento. Ele tinha razões: estrelou uma campanha eletrizante e reduziu substancialmente a diferença de 17 pontos que Fernandez havia conquistado nas primárias. Macri precisava de uma participação muito alta, perto de 85%, que em 1983 deu a vitória ao radical Raúl Alfonsín e pôs fim à ditadura. Foi a primeira vez que o peronismo foi derrotado por eleições livres. Nesta ocasião, 82% do eleitorado votou. Os dados corresponderam às expectativas do macrismo: uma grande quantidade de votos foi essencial para diluir os 49,4% alcançados por Fernández nas primárias. Mas também era imperativo que eleitores adicionais se voltassem a favor de Macri, e isso não aconteceu. Embora tenha sido derrotado e perdido a presidência, Macri permaneceu politicamente de pé.
“Todos entendemos que é uma escolha histórica entre dois modelos de países”, disse o presidente ao meio-dia. “Agora temos que permanecer calmos.”
Alberto Fernández já estava confiante ao votar: “Temos que tomar isso como um dia histórico e começar o tempo que vem com tranquilidade, o nós contra eles acabou”, disse. “Quando a eleição passar, conversaremos com mais calma”, acrescentou.
Talvez “nós” e “eles”, a fenda que divide a sociedade argentina em duas partes, a peronista e a anti-peronista, termine mais tarde. Por enquanto permanece. No colégio da Universidade Católica em que Fernández votou, dois pequenos grupos de manifestantes foram formados, um gritando “corrupto” para o candidato, outro cantando o “nós retornaremos” que os peronistas cantam desde que perderam o poder em 2015. Quando a recontagem começou, as redes sociais foram inundadas com mensagens que denunciavam, em resumo, uma fraude eleitoral do peronismo. A raiva dos perdedores prenunciava a turbulência. Como a euforia peronista: o público que lotava a sede da Frente de Todos assobiava e vaiava Macri quando seu discurso de aceitação da derrota foi transmitido.
A vice-presidente Cristina Kirchner, uma figura essencial para entender a polarização do país, votou em seu feudo patagônico de Río Gallegos e depois voou para Buenos Aires. O dia das eleições coincidiu com o décimo aniversário da morte de seu marido, Néstor Kirchner, presidente que, em 2003, conseguiu tirar a Argentina do pântano em que o país havia caído após o colapso econômico de 2001 e 2002.
Uruguai
Segundo a Agência Brasil de Notícias, o candidato de centro-direita Luis Lacalle Pou obteve a maioria dos votos nas eleições presidenciais do Uruguai. Após a revisão dos votos do pleito, realizado no dia 24 de novembro de 2019, Lacalle venceu em uma disputa muito acirrada contra Daniel Martínez, candidato da coalizão de esquerda - Frente Ampla. A posse será dia 1º de março de 2020.
A alternância de poder com a vitória por um resultado tão apertado, definido voto a voto, mostra que o Uruguai está dividido. Quase metade dos uruguaios preferia a continuação do governo de esquerda exercido pela Frente Ampla, partido de Martínez, no poder há 15 anos.
Lacalle Pou, do Partido Nacional, tem 46 anos e é formado em Direito, mas nunca advogou. Desde os 24 anos se dedica à política e já foi deputado e senador.
Opositor ferrenho do atual governo, Lacalle Pou vem de uma família de políticos. É filho do ex-presidente do Uruguai Luis Alberto Lacalle, que governou de 1990 a 1995 e da ex-senadora Julia Pou. É bisneto de Luis Alberto de Herrera, um dos políticos mais influentes da história do Partido Nacional.
Lacalleu Pou concorreu à presidência nas últimas eleições, em 2014, quando perdeu, em segundo turno, para Tabaré Vázquez, da Frente Ampla.
O resultado parcial das eleições, publicado ainda no domingo, 24 de novembro, apontava para um empate técnico. Lacalle havia recebido 48,71% dos votos (1.168.019 votos), enquanto Daniel Martínez, 47,51% (1.139.353 votos).
Mas, no Uruguai existe uma segunda contagem, mais demorada, que é a dos votos observados. Assim como no Brasil, cada eleitor deve votar em um colégio eleitoral específico. No entanto, quando isso não é possível, o cidadão tem o seu voto observado. É o caso de uma pessoa que foi convocada a trabalhar de mesária em um colégio eleitoral diferente daquele em que está habilitada a votar. É um procedimento especial para que a validade do voto possa ser confirmada posteriormente.
Segundo observadores a estagnação econômica e a violência desgastaram a esquerda no Uruguai.
Mesmo apertado, com uma vitória voto a voto, o nosso vizinho Uruguai, deu uma guinada, este para a direita, quebrando uma tendência de 15 anos da esquerda. Foi a resposta da classe média que se sente pressionada, e, caso não de um resultado esperado na economia, não a faça deslanchar, tenho certeza que o povo uruguaio irá dar de novo outra guinada, até que consigam alinhar suas expectativas.
Conclusão
Vendo a América Latina com seus nervos a flor da pele, chego a conclusão que a principal força motriz é a questão social, vindo das classes médias dos países, que ainda dependem das vendas das suas matérias primas. Com isso fica complicado sairmos do atoleiro, sem um novo modelo econômico e uma nova forma de governar. Não sei qual é, mas creio que temos que ter imaginação e criatividade, pois do jeito que está, tanto a direita como a esquerda já faliram, não há como gerenciar um país utilizando o mesmo modelo do século XIX e XX, se estamos no século XXI.
Este exige mais agressividade na tecnologia, que é sem fronteira, mais volatidade e conectividade nas relações e os modelos de negócio já estão se transformando. Então por que não as nações continuam se batendo neste mesmo ponto? Já pensaram nisto? É um Risco Político ou Tecnológico a disrupção dos modelos sociais?
Creio que este é o nosso desafio para não ficarmos para trás!