Risco Político no
Brasil e América Latina:
um enigma ou um desastre anunciado!
Decidimos fazer uma edição especial, discutindo Risco Político na América Latina, que tanto balançou e balança a questão social, fazendo com que haja movimentos e manifestações até em países que eram tidos como estáveis. Pela importância do tema, resolvemos juntar duas edições, 136 e 137, tendo em vista o volume de material que foi coletado.
Inclusive tivemos dois correspondentes nossos, realizando matéria sobre as manifestações no Chile durante cinco dias consecutivos, colhendo entrevistas das pessoas que faziam as reivindicações, filmando e fotografando o perfil dos manifestantes.
Confira aqui as entrevistas dos manifestantes (em espanhol).
Como também a reação do órgão de segurança pública, os Carabineiros do Chile, que agiram e agem com uma violência desnecessária, frente a grupos de estudantes, médicos, professores, donas de casa, aposentados, ou seja, uma classe média que reivindica melhor distribuição de renda. Tivemos um dos nossos correspondentes, atingido no braço, com um projétil, que não foi de borracha e sim de chumbo de 5 mm, o que comprova a total irresponsabilidade e ao mesmo tempo despreparo psicológico de seus comandantes e da própria tropa.
Considero um abuso, irresponsabilidade e despreparo total do governo chileno e dos Carabineiros do Chile, a utilização de armamento letal, contra uma população desprotegida. Esta atitude, diria eu, até covarde, por parte dos Carabineiros do Chile, só desperta a ira dos mais jovens e um sentimento de revolta, fazendo com que não se sintam intimidados, e, com este espírito de luta e garra partem para cima da tropa, com pedras, paus, escudos feitos de tampas de lata de lixo, placas de trânsito, madeiras, metais e coquetéis molotov para enfrentar os Carabineiros, que muitas vezes chegaram a ficar encurralados e apanharam da população. É um contexto complicado e conturbado, onde teria que haver maturidade por parte das autoridades, aliás é por esta razão que estão lá, para controlar e não colocar mais gasolina na fogueira.
Este nosso continente, a América Latina, dos altos e baixos, que nunca decolou anda dando diversas mostras de que as instituições ainda não estão maduras, necessitam de aperfeiçoamento.
A economia da América Latina ainda está alicerçada nas matérias primas e escassez de inovação e criatividade. Um livro, que considero ótimo de ser lido, para compreender este contexto, é “As Veias Abertas da América Latina”, que aborda esta problemática de forma clara. O autor é Eduardo Hughes Galeano (1940 – 2015), jornalista e escritor uruguaio, autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História. E neste livro podemos entender um pouco do porquê da nossa paralisia social e econômica.
O economista francês Thomas Piketty, autor de “O Capital do Século XXI”, lembra que economias como Coréia do Sul e China floresceram sob patamares de desigualdade bem mais baixos que os da América Latina. Para resolver este nó gódigo, Piketty sugere que haja uma reforma tributária com cobranças progressivas, de modo a tirar o peso sobre a classe média e onerar os mais ricos.
Tendo em vista tudo isso, o Risco Político, no mundo de hoje, passa a ser um risco estratégico, que as empresas, devem identificar, traçar cenários prospectivos e monitorar de perto as suas varáveis.
Neste especial abordaremos tanto o Brasil como nossos vizinhos, que nestes últimos meses, passam por um verdadeiro furacão de manifestações sociais:
- A derrota de Maurício Macri e o retorno do peronismo com Cristina Kirchener, na Argentina;
- A fraude nas eleições de Evo Morales, da Bolívia, que acabou derrubando-o pelo poder das manifestações e recusa da Polícia e Exército em não combater nas ruas o povo e isto fez com que muitos analistas teimam em chamar de golpe;
- As agitações revolucionárias dos indígenas do Equador;
- A explosão social no Chile, o país mais consolidado, mais estabilizado, com uma renda per capita em torno de US$ 15.000 dólares anuais, mas onde ainda há também um fosso social entre os ganhos dos 10% mais riscos com o dos 10% mais
pobres com um diferença em torno de 39 vezes. Em 2006 este número era de 30 vezes, ou seja, houve um aumento deste
fosso e, consequentemente um endividamento da classe média;
- Temos a Colômbia, que também está fazendo sua manifestação;
- E a troca do poder da esquerda pela direita no Uruguai.
Ou seja, estamos diante de uma primavera latino américa?
E tem também nosso Brasil, que por falta de articulação com o Congresso, o Governo Bolsonaro, pode comprometer as mudanças fiscais e orçamentárias do pacote do Ministro Paulo Guedes, que lançou após a aprovação da reforma da previdência. Propostas ousadas, visando diminuir radicalmente o peso do Estado e racionalizando os gastos públicos. Recebido com grande entusiasmo pelo mercado, empresariado e economistas, mas pelos políticos nem tanto. Há muito tempo instituições internacionais, apontam como causa raiz da nossa constante derrapagem para o firme crescimento nacional, um atrasado e burocrático arcabouço institucional e regulatório, que favorece o patrimonialismo, tendo como consequência a irresponsabilidade fiscal e a queda da produtividade. Na visão de analistas, infelizmente, há pouca chance de aprovação, pois os interesses políticos não irão permitir.
Tomara que estejam errados e haja uma pressão popular forte e inflexível, pressionando os legisladores em olhar o coletivo e não o individual.
Convido vocês para navegar nas páginas seguintes e tirarem suas conclusões e elaborarem seus cenários prospectivos!
Sorte para todos nós! Boa Leitura!
Antonio Celso Ribeiro Brasiliano
Publisher da Revista Gestão de Riscos e Presidente da Brasiliano INTERISK | abrasiliano@brasiliano.com.br