top of page
Âncora 1

ANÁLISE

Risco Estratégico:
sua empresa mudou a estratégia para ser
mais envolvente e ágil? 

Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, CEGRC, CIEAC, CIEIE, CPSI, CIGR, CRMA, CES, DEA, DSE, MBS
Doutor em Ciência e Engenharia da Informação e Inteligência Estratégica pela
Université Paris – Est (Marne La Vallée, Paris, França); presidente da Brasiliano INTERISK.

18/08/2020

A Pandemia do COVID-19, está gerando um impacto massivo na economia e consequentemente no desempenho das empresas, a nível mundial. Esta pandemia é o maior desafio que o mundo enfrentou em décadas. Em apenas alguns meses, transformou a vida das pessoas em uma escala sem precedentes, impactou todos os setores e alterou o curso do crescimento das empresas.

O grande desafio das empresas para sobreviverem é possuir agilidade na adaptação e a reinvenção do seu modelo de negócio com muita rapidez. Conseguiremos? 

Eis a grande incerteza. Muitas empresas, sendo pegas de surpresa e com Modelos de Negócio inflexíveis já começaram a paralisar suas operações e, infelizmente, cortaram empregos. Só no Brasil já foram 8,9 milhões de vagas suprimidas. O que acarreta um desequilíbrio social tremendo para os países e um desafio para os governos.

As empresas vivem um verdadeiro mundo VUCA – volátil, incerto, complexo e ambíguo, exigindo da alta gestão maior agilidade, um ritmo de inovação e flexibilidade muito grande. O modelo de negócio da empresa deve se reinventar, caso contrário não terá condições de enfrentar as rupturas que o COVID-19 está exigindo. Torna-se imperioso que as empresas intensifiquem esforços no aprimoramento das estruturas, onde os gestores possam enxergar e trabalhar tanto a prevenção como as contingências. Na verdade, as disciplinas de cenários prospectivos e de gestão de riscos passaram a ser primordiais nestes tempos bicudos. 

O que os gestores C-Level devem entender que com a pandemia, a inovação não diminuiu, muito pelo contrário, ampliou para níveis históricos. 

As tendências tecnológicas explodiram exponencialmente, em função dos valores e costumes das pessoas que se transformaram neste novo modo de viver e conviver com o COVID-19. Os modelos de tecnologia da era digital estão cada vez mais fora de sincronia com eles. Esse desequilíbrio – quando o valor comercial está desalinhado com os valores das pessoas – é o que posso chamar de “choque tecnológico”. É uma crise muito diferente, mas o COVID-19 não oculta esta questão. Isso até a agrava. Agora, mais do que nunca, é fundamental que as empresas pensem em superar as incertezas de hoje. Para isso o emprego de determinadas ferramentas de Cenários Prospectivos e de Gestão de Riscos passam a ser determinantes para o fracasso ou sucesso dos modelos de negócio transformados e inovados. 

A Pandemia pode ser considerada um Cisne Negro?  

Primeiramente o que é um Cisne Negro? 

A Teoria do Cisne Negro descreve um acontecimento inesperado e raro com grandes ramificações. Esse tipo de evento é quase impossível de se prever e é, portanto, dificilmente mitigável. Contudo, se visto com um certo distanciamento, ele parece óbvio e inevitável. Aí está um grande problema: as pessoas raramente acreditam que este tipo de evento poderá ser materializado. Questão da negação para sua sobrevivência. Doce ilusão. As pessoas detestam incertezas, por esta razão é que acreditam que este tipo de evento nunca poderá ocorrer. 

O termo se popularizou quando, em 2007, o professor de finanças Nassim Nicholas Taleb o usou em seu livro: “A Lógica do Cisne Negro: o impacto do altamente improvável”.

Mas a sua origem é bem mais antiga: até 1697, as crianças inglesas aprendiam que todos os cisnes eram brancos. Isso caiu por terra quando o explorador holandês Willem de Vlamingh encontrou cisnes negros em uma de suas aventuras pela Austrália. 

Os economistas hoje usam essa metáfora para se referir ao fato de que não é só porque um fato não aconteceu que ele não acontecerá. Em seu livro, Taleb afirma que os “eventos Cisne Negro” são impossíveis de prever, mas têm consequências catastróficas. Por isso, é melhor que as pessoas assumam que eles podem acontecer e se preparem devidamente para isso o quanto puderem. 

A questão é que, embora o COVID-19 tenha pego de surpresa grande parte das empresas, sua ocorrência estava mapeada e seus impactos já previam que era massivo. Portanto a pandemia não pode ser considerada um Cisne Negro!

O Relatório de Riscos Globais, do World Economic Forum, publicado em janeiro de 2020, já tinha em sua Matriz de Riscos o evento de doenças infecciosas, pandemia, com probabilidade média baixa e impacto muito alto para a população mundial.

A Matriz abaixo, mostra a pandemia plotada no quadrante II. Isto significa que o evento já estava mapeado e estudado. Então pergunto: como os governos e empresas foram pegos de surpresa?

Matriz de Risco do Relatório de Riscos Globais 2020 - World Economic Forum.

Figura 1: Matriz de Risco do Relatório de Riscos Globais 2020 - Fonte: World Economic Forum.

Ponto importante estava como um dos 10 maiores riscos em termos de impacto! 

10 Maiores Riscos em Probabilidade e Impactos Relatório de Riscos Globais 2020 - World Economic Forum.

Figura 2: 10 Maiores Riscos em Probabilidade e Impactos Relatório de Riscos Globais 2020 - Fonte: World Economic Forum.

COVID-19 e o Cisne Negro

Em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia do novo coronavírus. A doença leva cerca de 5 dias para manifestar os sintomas característicos, o que faz com que a transmissão seja acelerada. 

Adultos que não tomam as devidas precauções se tornam potenciais vetores para os mais vulneráveis. Pessoas estocam produtos como álcool gel e máscaras, usando-os em benefício próprio, sem se preocupar com o bem-estar coletivo.

Nos mercados financeiros, essa preocupação é refletida em quedas na bolsa e comportamentos que nos remetem à crise de 2008. Economistas e organizações internacionais alertam para a desaceleração da economia e para os riscos de uma recessão. 

Ambientalistas, por outro lado, apontam para a redução das taxas de CO² devido às paralisações nas fábricas. Eles argumentam que a crise provocada pela COVID-19 nos mostra que podemos agir de maneira rápida e repensar nossas rotinas também para conter o colapso climático:  a estimativa é que a concentração de gases poluentes esteja pelo menos 25% menor se comparada ao mesmo período de 2019.

“Quem iria imaginar que seríamos afetados por uma pandemia como o coronavírus?”. É com esse tipo de indagação retórica, típica de negação, que muitos gestores e governantes se esquivam das responsabilidades e ações que precisariam serem tomadas. Contudo, a Teoria do Cisne Negro não pode ser utilizada para evitar os devidos procedimentos. 

A Sequoia Capital, uma das maiores empresas de capital de risco do mundo e autora de um periódico importante para investidores, alertou empreendedores em todo o mundo para que eles cortem custos, façam novas previsões de vendas e ativem a economia de caixa para que tivessem liquidez. 

A mesma empresa alertou autoridades para o fato de que a recuperação poderia ser bem mais lenta do que a crise econômica de 2008. 

O Airbnb, por exemplo, viu um declínio de aproximadamente 80% de seus negócios na China, já que seus clientes estavam cancelando as reservas no país.

Para as empresas, contudo, as mudanças trazidas pelo regime de distanciamento social geram transformações no fluxo de caixa, mas também oportunidades para repensar rotinas. Um artigo de Greg Petro para a Forbes levantou o potencial de sistemas de educação virtual e de ferramentas de Home Office neste cenário.

Além da implementação de ferramentas como o Teams e Zoom, acelerando a transformação digital em muitas instituições, as empresas também precisam zelar pelo bem-estar de seus colaboradores, que podem se sentir ansiosos ou menos produtivos quando isolados em casa.

 

Schumpeter tinha razão: Destruição Criativa

 

Joseph Schumpeter, austríaco, um dos grandes economistas do século XX, famoso por sua teoria da “destruição criativa”, onde sustenta que o sistema capitalista progride por revolucionar constantemente sua estrutura econômica, através de novas empresas, novas tecnologias e novos produtos substituem constantemente os antigos. Como a inovação é constante, a economia está, de forma natural e saudável, sujeita a ciclos de crescimento e implosão.

Schumpeter argumentava que a inovação resulta de fatores endógenos e que sua principal fonte é o empreendedorismo criativo. Este mesmo empreendedorismo criativo é uma caixa preta, pois depende da engenhosidade e ousadia dos empreendedores e não de uma reprodução sistemática.

Portanto na visão schumpeteriana, a inovação é uma destruição na medida em que a nova deve destruir a velha para ocupar seu lugar!

A visão reconstrutivista de Schumpeter, abriu caminho para o empreendedorismo criativo, com crescimento endógeno, mediante a reconstrução cognitiva dos dados disponíveis e dos fatores de mercado, de maneira intrinsecamente nova. 

Na visão reconstrutivista não há regras com balizas demarcando o mercado, as regras são ilimitadas, seus limites estão em seus pensamentos. Por esta razão os inovadores de valor empreendem saltos por meio de criação de novas riquezas, em vez de permanecerem jogando nas mesmas regras. Ou seja, os executivos devem ousar, pisar em terreno minado!

O que isto significa? Significa que com a COVID–19, as empresas devem recriar seus Modelos de Negócio baseados no uso de sistemas físicos cibernéticos onde fenômenos como a internet das coisas, impressão 3D, big data, inteligência artificial, só para citar algumas, deixaram de ser ficção científica e passaram a incorporar na nossa realidade. Sim, estamos no século XXI e já vivenciamos esta nova realidade. 

Conclusão

A extensão do impacto do COVID-19 na vida humana, na economia global e nas empresas é massivo, está transformando o nosso modo de viver. A pandemia se tornou um extraordinário catalisador de mudanças. A necessidade de inovação é maior do que nunca, impulsionada por novos desafios, mais perturbadores do que a maioria já enfrentamos.

A questão estratégica que os executivos C-Level devem decidir é: Qual a velocidade que minha empresa deve e pode agir? À luz dessa nova realidade e do novo imperativo, as empresas devem realizar suas adaptações em uma velocidade na proporção do mundo VUCA. 

O maior desafio é traçar as estratégias praticamente no escuro, com pouquíssima previsibilidade do que acontecerá na economia do Brasil nos próximos meses enquanto durar a pandemia de COVID–19. 

Diante da nova realidade, o planejamento estratégico deixou de ser de longo prazo e passou a ser de curto prazo, três meses. Os cenários com os quais as empresas trabalham se tornaram extremamente voláteis e a sua velocidade cresceu exponencialmente. Resiliência, adaptabilidade e flexibilidade é a tríade do sucesso empresarial. 

Os negócios precisam ter resiliência para os novos desafios, que são muitos e intermináveis. Adaptabilidade para mudar de rumo em alta velocidade e se reinventar e flexibilidade para alinhar e seguir em frente para atingir novos objetivos. O que não pode ocorrer é olhar, neste momento para um horizonte muito distante, pois a chance de errar é grande!

Resumindo, qualquer empresa, de qualquer tamanho e segmento de negócio deve ter uma postura de startups, que costumam “Pivotar” (significa dar uma guinada no rumo, com base na própria experiência adquirida. A palavra pivotar é um neologismo derivado do verbo em inglês “to pivot”, que significa girar), dar guinadas rápidas conforme as demandas do mercado se alteram. 

O desafio nesse novo normal é ter mentalidade da “startup”.

bottom of page