Brasil vive a Pandemia de Covid-19 com infecção ainda sem controle.
É hora da flexibilização,
em função da retomada
da economia?
Antonio Celso Ribeiro Brasiliano, CEGRC, CIEAC, CIEIE, CPSI, CIGR, CRMA, CES, DEA, DSE, MBS
18/08/2020
Para respondermos esta pergunta temos que entender os números e o contexto de cada região, pois o Brasil com dimensões continentais não pode ser estudado de forma holística, mas sim pontual.
Neste caso, falando de forma metafórica, há necessidade de enxergar a Floresta, mas ter um plano para cada árvore. Estamos no dia 05 de agosto de 2020, e o Brasil com dados do dia 04 de agosto, atingiu a marca de 2.801.921 infectados, com a taxa de Incidência Nacional de 1323,19 infectados por 100.000 habitantes. Já os óbitos confirmados temos 95.919 e com a Taxa de Incidência Nacional de 42,25 mortos por 100.000 habitantes. Nossa taxa de letalidade é de 3,42 (número de mortos/número de habitantes), a do mundo 3,76. Nossa taxa de reprodução média Brasil, Rt é de 1,09. O que significa que 100 brasileiros transmitem para 109 e estes 109 para 119 e assim por diante.
São números administráveis? Estamos em uma posição confortável?
Contexto Brasil
Vamos começar em entender a nossa taxa de letalidade, onde vendo o gráfico abaixo, notamos que está em plena queda, porém o número de infectados aumenta a cada dia.


Gráfico 1: Brasiliano INTERISK – Software INTERISK – 04/08/20.
Podemos concluir que a curva de aprendizado das equipes médicas tem sido muito boa, pois estamos com tratamentos cada dia mais eficazes, em função da queda da taxa de letalidade. Em contra partida o número de infectados cresce a cada dia, em função da não realização de exames e da detecção, além de medidas preventivas estarem sendo relaxadas em favor da retomada econômica. Olhando o Gráfico abaixo, vemos que ainda não atingimos o platô e muito menos nossa estabilidade.


Gráfico 2: Brasiliano INTERISK – Software INTERISK – 04/08/2020.
Uma das respostas já temos, o Brasil ainda não possui estabilidade, pois o número de infectados cresce a cada dia, embora com a taxa de letalidade caindo. O que significa também que há um crescimento, em ritmo mais lento. Vendo o gráfico abaixo vemos o percentual de crescimento dia decrescente, mas ainda sim crescendo.


Gráfico 3: Brasiliano INTERISK – Software INTERISK – 04/08/20.
Podemos observar que em 18 de março, nossa taxa de crescimento era de 35,39%.
Em números absolutos podemos ver abaixo que o Estado de São Paulo continua sendo o epicentro do Brasil. Com maior concentração de infectados e óbitos.

Figura 1: Infográfico do Jornal El País – Espanha – 04/08/20.


Gráfico 4: Incidência de Casos Confirmados – Brasiliano INTERISK – Software INTERISK – 04/08/20.
Podemos observar que o Estado de São Paulo representa, em termos percentuais 20,54% do total. Este percentual já representou no início da pandemia no Brasil mais de 45%. O que significa que houve uma proliferação a nível Brasil.
Em termos relativos, observamos que o Estado de São Paulo, embora seja o epicentro, se encontra em relação a incidência nacional no nível mais baixo, verde, Alerta, em função da população existente.

Figura 2: Taxa de Incidência Nacional por 100.000 habitantes – Software INTERISK – 04/08/20.


Gráfico 5: Incidência de Casos Confirmados por 100.000 habitantes – Brasiliano INTERISK – Software INTERISK – 04/08/20.
Podemos observar no gráfico acima de incidência nacional por 100.000 habitantes que os Estados que mais possuem criticidade alta são os do norte e nordeste do Brasil. Isto em função do número de habitantes x casos de infectados.
Em termos de óbitos confirmados a situação é a mesma, mas em números relativos por 100.000 habitantes a fotografia é outra. Conforme os Gráficos abaixo.

Gráfico 5: Incidência de Casos Confirmados por 100.000 habitantes – Brasiliano INTERISK – Software INTERISK – 04/08/20.


Gráfico 6: Incidência de Óbitos Confirmados – Brasiliano INTERISK - Software INTERISK – 04/08/20.
Observamos que o Estado de São Paulo possui 24,73% do total. Da mesma forma que no início da pandemia este percentual chegou a mais de 40%. Ponto Importante, O Estado de São Paulo possui uma taxa de letalidade de 4,1. Acima da média mundial. Embora esta taxa esteja caindo também.


Gráfico 7: Incidência de Óbitos Confirmados por 100.000 habitantes – Brasiliano INTERISK - Software INTERISK – 04/08/20.
Observamos que os Estados com maior número relativo de óbitos, que estão posicionados na faixa crítica – vermelha – Estado de Emergência, são 04 Estados do Norte e Nordeste do Brasil e o Rio de Janeiro. Temos 12 Estados, incluindo São Paulo no segundo Nível de criticidade – Atenção. O restante dos Estados do Brasil, 10 representam 37% dos 27 que temos. Ou seja, temos 63% dos estados em situação de Atenção ou Emergência. O que não significa situação confortável.
Índices de Monitoramento
Temos dois índices para podermos monitorar nosso grau de criticidade:
- Matriz de Criticidade dos Estados;
- Taxa de Reprodução.
Matriz de Criticidade dos Estados/Região
O Ministério da Saúde, através de seu Boletim Epidemiológico 11 – COE-COVID-19 – 17 de abril de 2020, descreve a Matriz de Risco para caracterizar o nível de criticidade da região.
Esta Matriz Possui no eixo vertical a AMEAÇA, caracterizada pela incidência do COVID-19 por 100.000 habitantes. No eixo horizontal a VULNERABILIDADE, caracterizada pelo percentual de leitos de UTI ocupados.
Desta forma com a Incidência/100.000 habitantes x Leitos de UTI ocupados enxerga-se a criticidade, no caso do Brasil, o Estado de criticidade em termos de atendimento da capacidade de seu sistema de saúde.
A Matriz do Brasil, representada pelos Estados se encontra em uma posição que considero nada confortável, conforme abaixo.


Figura 4: Matriz de Criticidade dos Estados do Brasil – Brasiliano INTERISK - Software INTERISK - 04/08/20.
Podemos observar que não há mais nenhum Estado do Brasil plotados nos quadrantes verdes. Dos 27 estados da federação temos:

Tabela 1: Brasiliano INTERISK – Software INTERISK – 04/08/20.
Abaixo temos a Tabela dos protocolos a serem operacionalizados pelas regiões, de acordo com sua criticidade. Tabela esta também do Ministério da Saúde, extraída do Boletim Epidemiológico 11.


Tabela 2: Ministério da Saúde – Boletim Epidemiológico 11 – COE – COVID-19.
Se formos seguir o protocolo acima, do próprio Ministério da Saúde, temos 85% dos Estados Brasileiros, 23 Estados, sem poderem ter flexibilização. Ou seja, o trabalho remoto deveria continuar.
Estamos em uma encruzilhada, pois temos a economia para retomar, mas pela ineficácia do Governo Federal, em função da polarização de ações preventivas, o Brasil, por este índice está em uma situação considerada desconfortável.
Taxa de Reprodução
A taxa de Reprodução/Transmissão – Rt – no Brasil é calculado hoje diariamente pela Plataforma COVID-19 – Analytics, que pertence a PUC – Rio, FGV – EESP – Escola de Economia de São Paulo e FGV – EMAp – Escola de Matemática Aplicada (site: www.covid19analytics.com.br).
A taxa de Reprodução/Transmissão – Rt – é uma métrica chave, que representa para quantas pessoas, em média, um indivíduo infectado transmite a doença.
Especialistas em epidemias têm ressaltado que, como o Brasil é grande e diversificado, a velocidade da transmissão pode variar bastante de acordo com a região.
Rt acima de 1 é considerado como epidemia descontrolada, segundo critérios internacionais.
A OMS declarou, que o Rt varia, geograficamente, de 0,5 a 1,5.
A Plataforma COVID-19 Analytics, elaborou uma régua com três níveis de criticidade:

Tabela 3: Nível de Criticidade da Plataforma COVID-19 Analytics.
O Imperial College de Londres também classifica a Rt. Desde a semana de 27 de abril, o Brasil tem taxa de contágio acima de 1, o que significa que a transmissão está se acelerando.
No dia 05 de agosto de 2020, a plataforma publicou a seguinte Criticidade, pela taxa de Reprodução Rt por Estado da Federação Brasileira:

Tabela 4: Nível de Criticidade por Estado do Brasil - da Plataforma COVID-19 Analytics.
A média do Brasil da Taxa de Reprodução Rt é:


Tabela 5: Nível de Criticidade - Média Brasil - da Plataforma COVID-19 Analytics 05/08/20.
Os especialistas em epidemias e os índices mundiais sugerem que a flexibilização deve ser operacionalizada com Rt abaixo de 1. O motivo é que com a Rt abaixo de 1, o país, estado e ou município já controlam a epidemia.
O Brasil possui 08 estados com Rt abaixo de 1 e 19 Estados acima de 1. O Estado de Goiás possui Rt acima de 1,5 – criticidade alta.
O que isto significa? Que em 19 estados do Brasil, cerca de 70% do total sobre 27, não poderia haver flexibilização, em função da taxa de reprodução considerada alta. Por esta razão é que a OMS declarou que o Brasil possui Pandemia Descontrolada.
E o Brasil tendo uma média de 1,09, confirma esta alta criticidade.
A plataforma COVID-19 Analytics, ressalta que as estimativas de Rt são calculadas a partir dos dados de casos e mortes divulgados diariamente. Como estes dados podem ser impactados por mudanças no padrão de divulgação e/ou de testagem, os resultados devem ser interpretados com cautela, e se tornam mais confiáveis conforme a região se estabiliza em uma determinada faixa de número de reprodução por muitos dias.
No caso Brasil é utilizado as faixas de 1, 15 e 30 dias.
Estes dois critérios são universais, cada um com vantagens e desvantagens. Por esta razão a Brasiliano INTERISK resolveu cruzar os dois indicadores e colocar seu resultado em uma matriz para melhor visualização.
Indicadores Pandêmicos Cruzados: Matriz de Riscos – Criticidade x Taxa de Reprodução - Método Brasiliano
O Método dos Indicadores Pandêmicos Cruzados, pode ser resumido da seguinte forma.
Teremos como resultado uma Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados, com cinco níveis de Criticidade:

Tabela 6: Criticidade da Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados – Método Brasiliano.
Este cruzamento é realizado de forma simultânea, de tal forma que haja a visão da Taxa de Reprodução – Rt x Criticidade dos Estados.
No eixo vertical teremos 05 colunas, cada uma com os resultados das criticidades dos Estados. Vermelho, Rosa, Laranja, Amarelo e Verde.
No eixo horizontal teremos três níveis, de acordo com a Taxa de Reprodução, tendo como parâmetro os níveis da Plataforma COVID-19 Analytics:

Vermelho – Elevado
Amarelo - Alto
Verde – Controlável
Tabela 7: Nível de Criticidade da Plataforma COVID-19 Analytics.
O Resultado é a Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados, abaixo:

Figura 5: Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados – Método Brasiliano.
Protocolos de Ação – Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados
Seguindo a tabela abaixo, podemos aplicar os protocolos de acordo com o grau de criticidade dos Estados, de acordo com sua posição na Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados:

Tabela 8: Protocolos de Ações Preventivas e Contingenciais.
Aplicação da Matriz dos Indicadores Pandêmicos Cruzados – COVID-19 – Método Brasiliano
A aplicação desta metodologia é de simples operacionalização, bastando termos as informações das Taxas de Reprodução Rt e o resultado das criticidades dos estados ou regiões que estamos estudando.


Figura 6: Matriz de Riscos e Rt dos Estados do Brasil.
Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados - Resultado


Figura 7: Matriz de Indicadores Pandêmicos Cruzados – COVID-19 – Método Brasiliano - Software INTERISK
Conclusão
Como resultado final dos indicadores cruzados, temos 02 estados na criticidade muito alta – quadrante vermelho, tendo que praticar o Distanciamento Social Ampliado.
Temos 19 estados na criticidade alta – quadrante laranja, tendo que aplicar o Distanciamento Social Seletivo Avançado.
Temos 04 estados na criticidade moderada – quadrante amarelo, tendo que aplicar o Distanciamento Social Intermediário.
Temos 02 estados com criticidade em alerta – quadrante verde -, tendo que praticar o distanciamento social seletivo básico.
Na realidade este cruzamento nos dá maior flexibilidade, pois se temos uma taxa de reprodução menor que 1, significa que a região está controlando a epidemia, baixando obrigatoriamente o número de infectados e o número de óbitos.
É necessário averiguar a taxa de reprodução entre 15 a 30 dias, para ver se a taxa de reprodução se mantém em tendência de queda ou estabiliza. Caso haja instabilidade, deve-se aplicar o índice maior deste período de monitoramento. Ir sempre para o pior cenário.
Vale ressaltar que dos 27 estados brasileiros, temos somente 06 estados – 22% do total dos estados da federação brasileira podem fazer a flexibilização. Se fossemos utilizar apenas a Matriz de Riscos teríamos só 15% - 04 estados. Se utilizarmos somente a Rt temos 08 estados – 30%.
Portanto fica evidenciado que a aplicação de indicadores cruzados é mais efetiva do que a aplicação segregada. Esta aplicação cruzada fornece aos gestores, aí sim, uma visão holística da sua região, prefeitura ou estado da federação.
Por não utilizarmos os indicadores cruzados e também pela polarização das medidas e dos medicamentos é que o Brasil ainda terá que caminhar no Cenário denominado por nós da Brasiliano INTERISK de Caos Prolongado.

Figura 8: Cenário de Caos Prolongado no Brasil – Medidas Ineficazes e Falta de
Coordenação Conjunta e de Objetivos claros a serem atingidos.
Espero que consigamos vencer este maremoto e não somente uma onda!!
Boa Leitura!
Antonio Celso Ribeiro Brasiliano
Publisher da Revista Gestão de Riscos e Presidente da Brasiliano INTERISK - abrasiliano@brasiliano.com.br